Desafio dos bancos é gerar mais receita, projeta Valor Econômico

Karin Sato e Carolina Mandl
Valor Econômico

Diante da forte expansão do crédito no Brasil nos últimos anos, é natural que as despesas dos bancos com pessoal, agências e outros itens cresçam. Só não podem evoluir a um ritmo superior ao das receitas com a venda de produtos e serviços bancários para não atrapalhar a eficiência das instituições financeiras. Foi isso, porém, o que aconteceu entre 2011 e 2012 com os dois maiores bancos públicos do país, Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal.

De 2011 para 2012 os ganhos operacionais do BB cresceram 9,3%, enquanto as despesas avançaram 14,84%, segundo levantamento da A.T. Kearney. Na Caixa, por sua vez, as receitas evoluíram 14,64%, ao passo que os gastos aumentaram 16,9%.

Sandro Marcondes, diretor de controladoria do BB, explica que há motivos pontuais para esse aumento de despesas, como as perdas ocasionadas por reivindicações de correntistas por conta de planos econômicos e o início das operações, nos últimos dois anos, do banco argentino Patagônia – adquirido em 2009 -, da parceria com a Mapfre e do Banco Postal, contrato que dá direito à oferta de serviços bancários dentro das unidades dos Correios. “O crescimento das despesas em 2012 foi afetado pela incorporação de custos que não tinham ocorrido integralmente em 2011”, diz Marcondes.

Mas o que agora é uma despesa pode se transformar em receita. As parcerias e aquisições feitas pelo BB devem se transformar em mais aberturas de contas correntes e vendas de seguros, por exemplo. Em meados de 2012, o BB formou um comitê de eficiência, com o objetivo de rentabilizar a base de clientes, distribuindo os produtos certos para cada correntista, e de controlar as despesas.

Essa também é a expectativa da Caixa. O banco justifica que a aceleração do ritmo de abertura de agências a partir do primeiro trimestre de 2012 levou a um forte aumento dos gastos. Nos 12 meses encerrados em março, foram abertas mais de 625 agências, resultando em um incremento líquido de 7,5 mil funcionários no período.

Segundo Paulo Henrique Rodrigues Costa, diretor de controladoria da Caixa, leva cerca de dois anos e meio para uma agência atingir o ponto de equilíbrio, isto é, dar resultados que levem à recuperação do investimento realizado. No ano passado, a instituição contratou uma consultoria para desenvolver um projeto de eficiência.

Em seu balanço, a Caixa divulgou um índice de eficiência acumulado nos 12 meses encerrados em março deste ano de 60,2%. A expectativa é que esse percentual fique entre 57% e 58% ao fim de 2013 e chegue a 55% nos próximos três anos, aproximadamente.

Não dá para esquecer que a pressão do governo pela redução de spreads e tarifas também pesou contra ganhos de eficiência dos bancos públicos. Agora é com ganho de volume que os bancos vão buscar compensar isso.

Nessa missão por mais receitas, os bancos privados também vão ter de se engajar. Por enquanto, a estratégia de ganhar eficiência tem se dado principalmente via corte de custos. Pode estar surtindo efeito, mas tem limites. “As possibilidades de ganho de eficiência mais óbvias, que se referem basicamente às despesas, já se esgotaram”, diz o consultor da A.T. Kearney, Ilnort Rueda.

“Custo é algo que está mais nas mãos do banco. Você sente mais. Em relação à receita, depende-se mais do cliente, da concorrência, de fatores externos”, diz Carlos Galán, vice-presidente do Santander. É só daqui a dois trimestres que o Santander avalia que sentirá o efeito vindo do lado das rendas.

Em fevereiro, o banco começou a lançar as primeiras iniciativas daquilo que acredita que se converterá em mais tarifas, operações de crédito e seguros. Foi quando o banco refez a segmentação do atendimento da clientela. Lançou quatro pacotes de serviços bancários, para diferentes perfis. Pessoas com renda acima de R$ 10 mil também ganharam agências e serviços especializados, o chamado Select. Para Galán, isso aumentará o número de produtos por cliente.

O analista do Goldman Sachs, Carlos Macedo, explica que hoje os bancos buscam reduzir o índice de eficiência essencialmente por meio do corte de despesas, porque o aumento das receitas está mais difícil. “A maior parte das receitas vem do resultado de intermediação financeira, que devido à queda das margens está se comprimindo. Esse é um processo estrutural no Brasil, que vem consolidando a taxa básica de juros em um nível mais baixo”, afirma.

Um estudo sobre a eficiência dos bancos da consultoria Booz & Company concluiu que as iniciativas das instituições têm sido focadas em um corte de custos indiscriminado entre as áreas. Falta uma reflexão mais profunda acerca dos negócios. Por isso, o resultado dos programas de eficiência implantados pelos bancos corre o risco de se enfraquecer ao longo do tempo.

Com os spreads em patamares menores e a elevação dos requisitos de capital devido ao acordo de Basileia 3, a consultoria prevê que em um período de três a cinco anos, os retornos sobre o patrimônio líquido (ROE) devem se reduzir em cerca de três pontos percentuais da atual faixa entre 18% e 20% nos grandes bancos de varejo. O índice de eficiência pioraria. Sairia do atual intervalo entre 45% e 50% para algo entre 55% e 60%.

O estudo conclui que para manter os patamares de rentabilidade observados hoje, os bancos precisariam melhorar as receitas por cliente em até 20% ou cortar a estrutura de custos em até 30%. “Os bancos têm melhorado o índice de eficiência nos últimos anos, mas ainda se trata de um avanço bastante tímido em relação ao que entendemos ser necessário”, diz Eduardo Arnoni, da Booz & Company.

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