O deputado estadual Adão Villaverde (PT-RS) apelou, nesta quinta-feira (4), à direção do Banco Santander Brasil que retome as negociações com as entidades sindicais para construir alternativas para manter os empregos e os direitos dos funcionários e aposentados dos bancos Santander e Real, durante o processo de incorporação. “Um banco que apresenta lucros invejáveis precisa fazer a lição de casa e colocar em prática o discurso da responsabilidade social e da sustentabilidade”, afirmou o parlamentar, que divulgou notícia no site da Assembléia Legislativa do RS.
Villaverde manifestou o seu apoio ao Dia Nacional de Luta dos trabalhadores do Santander e Real, que ocorre hoje com a realização de manifestações e protestos em todo o País. Ele pediu atenção e providências do banco espanhol para melhorar as condições de saúde, segurança e trabalho dos bancários, bem como a distribuição justa dos lucros e a manutenção dos empregos e direitos.
Demissões injustificáveis
O parlamentar lamentou a onda de dispensas que vem sendo denunciada pelas entidades sindicais. Segundo dados do Sindicato dos Bancários de São Paulo, o Santander é um dos bancos que mais demite. Entre março de 2008 e março de 2009, os bancários perderam 3.300 postos de trabalho. Nos primeiros três meses deste ano foram 900 demissões só na capital paulista. Também ocorreram desligamentos em Porto Alegre e no interior do Estado.
“O pior é que essas dispensas aconteceram ao mesmo tempo em que ocorriam negociações com as entidades sindicais, que resultaram na criação do Centro de Realocação Profissional e nos Aditivos à Convenção Coletiva de Trabalho que prevêem a licença remunerada pré-aposentadoria (pijama) e incentivos para a aposentadoria, como forma de abrir vagas e evitar dispensas”, apontou o diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários) e secretário de imprensa da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Ademir Wiederkehr.
Para o diretor do SindBancários e da Federação dos Bancários do RS, Paulo Stekel, “o banco espanhol, ao fazer demissões, sobrecarrega ainda mais os trabalhadores, diante da falta de pessoal na rede de agências, além de aumentar o número de lesões e adoecimentos de empregados e contribuir para a precarização dos serviços bancários, prejudicando o atendimento aos clientes, como mostra o ranking das reclamações do Banco Central”.
Premiações discriminatórias
Os bancários também denunciam a política discriminatória de remuneração no banco. “Enquanto pagou, em fevereiro último, somente a regra básica da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) do exercício de 2008 aos seus trabalhadores, a instituição mantém intacta a distribuição de dividendos aos seus acionistas e o pagamento milionário de seus executivos, desconsiderando os questionamentos contrários que ecoam no mundo inteiro neste momento de crise”, aponta Wiederkehr.
Conforme Stekel, “o Santander aprovou em recente assembléia de acionistas, com o voto contrário dos minoritários, uma remuneração global anual de até R$ 223,8 milhões para os seus 26 diretores-executivos, o que representa uma renda anual média de R$ 8,6 milhões para cada um deles. Além disso, o banco vem pagando bônus semestrais para superintendentes e executivos de até R$ 1,4 milhão, o que é uma afronta aos trabalhadores, principais responsáveis pelos resultados do banco”.
Descaso com aposentados
Os bancários chamam a atenção para a situação dos aposentados do Santander, que construíram a grandeza dos bancos hoje sob o controle acionário do grupo espanhol, como o Noroeste, Geral do Comércio, Meridional, Banespa e agora o Real.
De acordo com Wiederkehr, “milhares de jubilados, muitos em idade avançada, estão com ações trabalhistas cobrando direitos não respeitados pelo banco ao longo da sua vida laboral ou na aposentadoria, que se arrastam nos tribunais por causa dos recursos protelatórios dos advogados do grupo espanhol. Vários processos foram pagos para herdeiros, diante do falecimento dos autores”.
“Os aposentados pré-75 do ex-Banespa reivindicam o reajuste de suas complementações e pensões, no período entre 2001 e 2005, quando permaneceram congeladas, apesar dos títulos federais emitidos pela Resolução 118/97 do Senado Federal, no processo de privatização, para honrar esse passivo trabalhista”, disse Stekel.
Momento exige diálogo
Como o Santander vai lucrar ainda mais com os ganhos de sinergia, diante da incorporação do Real, o banco deveria aproveitar o momento para dialogar com as entidades sindicais e buscar o entendimento. “Com o pagamento de um adicional de PLR e a manutenção dos empregos e direitos dos funcionários e aposentados, como reivindicam os bancários, o banco daria sinais de uma nova forma de relação com os trabalhadores e a sociedade, o que impactaria de forma positiva nos demais processos de fusões de empresas em andamento, como o Itaú e Unibanco e a Perdigão e Sadia”, conclamam os bancários.
“Se existem recursos para investir em propagandas milionárias para melhorar a sua imagem no mercado, como observamos nos patrocínios da Copa Libertadores de Futebol e da Fórmula 1 automobilística, o Santander deveria zelar pela igualdade de tratamento na sua política de gestão de pessoas, com respeito, dignidade e o atendimento das demandas dos bancários, além de oferecer um atendimento com segurança e redução de juros, tarifas e filas para a sociedade”, assinalam.