Valor Econômico
Fernando Travaglini, de São Paulo
A demanda de crédito por parte das pessoas jurídicas recuou 10,8% em fevereiro em relação a janeiro. No caso dos consumidores, a procura por empréstimos caiu 10,5% no mês. Esses dados fazem parte do novo Indicador Serasa Experian da Demanda por Crédito, lançado ontem pela empresa de informações financeiras. Segundo Francisco Valim, presidente da Serasa Experian, a queda mostra o impacto da crise financeira mundial no mercado brasileiro.
“Há uma clara tendência de retração e os dados para pessoas jurídicas apontam uma sobreposição com o período da crise”. Entre as justificativas para o tombo no mercado de crédito, Valim destacou as incertezas do período, que dificultam a tomada de decisão.
Segundo o indicador, a demanda por empréstimos para empresas se manteve em um patamar de estabilidade até outubro, quando teve início uma forte redução. Em janeiro, houve uma pequena recuperação, para depois recuar fortemente em fevereiro, 10,8% em relação ao mês anterior e 4,4% na comparação com mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, o recuo é de 6,7% em relação ao primeiro bimestre de 2008.
Esse cenário deve ser visto com atenção, por conta da relevância desse segmento, já que o crédito é um alavancador do crescimento. Uma redução dos empréstimos, disse ele, pode ter impacto no desempenho da economia. “O recrudescimento da inadimplência e a queda da demanda por crédito devem ser vistos como um ponto de atenção para o crescimento futuro.”
De fato, a redução foi maior em linhas com maiores taxas de atrasos. As micro e pequenas empresas, lembra Valim, foram as que mais se retraíram, com queda de 11,4% no mês. As médias empresas tiveram recuo de 2,1%. As grandes mantiveram praticamente o mesmo patamar (-0,4%).
A região Sul apresentou a maior retração, de 9,7% em relação ao mesmo período de 2008. Em seguida aparecem as regiões Sudeste (queda de 6,3%), Centro-Oeste (- 6,1%), Nordeste (- 6,1%) e Norte (- 2,0%).
Já no caso das pessoas físicas, a procura por crédito caiu 10,5% em relação ao mês anterior e 4,2% na comparação anual. No acumulado do primeiro bimestre houve retração de 3,3%.
A queda se deu em todas as classes, mas, a exemplo do que ocorreu com as empresas, os mais prejudicados foram as pessoas que ganham até R$ 500 por mês, cuja procura caiu 12,2%. A queda diminui à medida que aumenta a renda.
Na avaliação por região, o Sudeste apresentou a maior queda na procura das pessoas físicas por crédito em fevereiro, 12,4%, seguido pelas regiões por Nordeste (-10,9%), Centro-Oeste (- 8,1%), Norte (- 6,6%) e Sul (- 6,5%).
O novo índice é apurado a partir da base de dados da Serasa Experian, formada por 400 mil clientes, que demandam cerca de quatro milhões de consultas por dia, em todo o país. A série histórica registra dados desde o início de 2008.
A amostra conta com 11,5 milhões de CPFs consultados, especificamente nas transações que configuram alguma relação creditícia, não somente crédito bancário, entre os consumidores e instituições do sistema financeiro ou empresas não financeiras. No caso das empresas, são analisados 1,2 milhão de CNPJs.
Nos próximos meses, a Serasa Experian deve lançar novos índices, que incluem um indicador de qualidade de crédito, além de indicadores de perspectiva de crédito e de inadimplência.