De pai para filho: duas gerações de bancários que não fogem da greve

Uma história de participação na greve dos bancários

Se dependesse da vontade de Fabiano de Lima Brito, o filho não trabalharia em banco, embora ele próprio siga na trilha do setor há 23 anos. Com experiência de duas décadas em bancos públicos, primeiro no Banco do Brasil e nos últimos seis anos na Caixa Econômica Federal, aconselhou-o a usar o diploma em Economia para trabalhar noutras áreas, melhor remuneradas e menos sacrificantes.

Renato Tenório Brito fez o que os filhos costumam fazer: não ouviu o conselho do pai, prestou concurso, passou e há cinco anos é funcionário do BB. “Não houve qualquer motivação filosófica. Foi necessidade de segurança, mesmo”, garante Renato, que confirma a anti-influência paterna: “Se fosse ouvir meu pai, eu correria léguas de banco. Ele sempre alertou para a falta de condições de trabalho, baixa remuneração e não-valorização profissional”, reconhece.

Entretanto, ambos se afinam quando o assunto é greve. O pai sempre fez greve, e o filho segue o exemplo, desde que se tornou bancário. Fez mais, tornou-se diretor do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, onde é titular da Secretaria de Relações Intersindicais. “Quis ser dirigente, exatamente, para ser agente transformador dessa realidade. Aprendi com meu pai que a gente deve lutar pelo coletivo ao invés de seguir a lógica de correr atrás de uma comissão, do individualismo, que impedem alguns bancários de fazer greve”, diz.

Fabiano Brito nunca fez parte da direção do Sindicato, mas sempre foi militante ativo, daqueles que ajudam a fechar outras agências, e dá plantão à frente da unidade. Principalmente no final dos anos 80, tempos de redemocratização do país, quando a CUT assumiu a direção do Sindicato.

O cacoete de militante permanece, ainda que afirme não ter, hoje, “o mesmo entusiasmo”. Foi ele, por exemplo, quem colou os cartazes de greve na agência da Caixa no Shopping ETC, na Rosa e Silva.

Ele confessa, também, que mantém o hábito de conversar e convencer o pessoal a participar das assembleias e da greve. E aponta contradições: “Hoje as pessoas estão meio descrentes no movimento sindical e, ao mesmo tempo, têm medo de se queimar. As pessoas não querem se expor”.

Talvez aí residam as dificuldades em barrar as transformações vivenciadas por quem trabalha nos bancos públicos nos últimos tempos. O próprio Fabiano Brito elenca. “Perdemos vantagens salariais. Na Caixa, por exemplo, não recebo mais licença-prêmio. A cobrança de resultados sempre existiu, mas no afã de garantir rentabilidade e se manter no topo dos mais lucrativos, caso do Banco do Brasil, por exemplo, os bancos públicos têm abusado da pressão sobre os funcionários.”

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