Quando a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), o xerife do mercado financeiro, aceita uma denúncia que pede a investigação de alguma transação envolvendo papéis de qualquer empresa, a suspeição já está mais do que estruturada. Mas quando a CVM aceita uma denúncia pela segunda vez, bom, aí podemos dizer que o xerife já olha enviesado para quem pode ter feito alguma coisa errada. Pois foi o que aconteceu na manhã da quinta-feira, 24/5, quando a CVM anexou o pedido de investigação de uso de informações privilegiadas na venda de ações do Banrisul pelo governo do Estado em conluio com a diretoria do Banrisul.
O protocolo (confira a imagem após este parágrafo) informa que o relatório entregue pelo SindBancários em 14 de maio foi anexado ao processo 19957.005033/2018-11, às 11h22 desta quinta. Esse processo já investiga as operações realizadas na B3, a Bolsa de Valores, na Gerência de Orientação aos Investidores (GOI) da CVM. “Entregamos um relatório em que mapeamos a operação. Nossos questionamentos incidem basicamente sobre a participação da Corretora BTG Pactual na intermediação da venda e como compradora de uma parte dos papéis. Também levantamos questões sobre o fato de a Brasil Plural ter ficado com a maior parte das ações na operação de 27 de abril, sendo esta empresa formada por diretores da própria BTG”, detalhou Gimenis.
As ações desses agentes do mercado financeiro e as circunstâncias da venda em 27 de abril estão gerando fortes suspeitas no mercado financeiro e entre órgãos de controle de empresas públicas. Ainda mais se considerarmos que o governo Sartori foi o dono que autorizou a venda dos papéis mesmo sem comunicar ao mercado por fato relevante. Sem dizer que tinha intenção, fica mais fácil direcionar a venda e fazer com que o preço do papel fique do tamanho mais adequado para o comprador.
O relatório do SindBancários, entregue à CVM, faz esse questionamento. Afinal, vender a R$ 18,65, um dia depois que os papéis valiam 31% mais, não teve um jogo combinado? O governo Sartori teria certado o resultado do jogo antes mesmo de entrar em campo? A venda em 15 minutos de pregão também gera suspeições. Afinal, menos compradores não gera concorrência e pode jogar o preço da ação para baixo.
O presidente do SindBancários, Everton Gimenis, explicou que o SindBancários irá continuar atuando para buscar a transparência que nem o governo do Estado nem a diretoria do Banrisul forneceram até agora. “Estamos colhendo informações, acrescentando detalhes sobre a venda e, na semana que vem, devemos levar mais um relatório para o Ministério Público Federal. Fica cada vez mais clara a hipótese de que as ações do Banrisul foram vendidas de forma afobada, sem transparência e sem atender o interesse público. Acredito que até haja indícios suficientes para alegarmos improbidade administrativa e gestão temerária”, salientou Gimenis.