No dia em que se celebra a conquista do voto feminino (24 de fevereiro), as mulheres da CUT São Paulo realizaram o lançamento da Jornada de Luta das Mulheres em Defesa da Democracia e dos Direitos. A atividade reuniu trabalhadoras de várias categorias no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.
Construída pela Secretaria da Mulher Trabalhadora da CUT São Paulo, em parceria com a CUT Nacional e movimentos de mulheres, a jornada percorrerá cidades do estado paulista até o dia 1º de maio. Durante este período, ocorrerão seminários, rodas de conversa e formações sobre os direitos das mulheres, democracia e consequências do golpe no Brasil que levou ao poder o ilegítimo Michel Temer (MDB) e aliados após derrubarem a presidenta eleita Dilma Rousseff.
Para Elaine Cutis, secretaria da Mulher da Contraf-CUT, a jornada reforça a importância da luta das mulheres em defesa de seus direitos. “É o momento das mulheres reafirmarem o compromisso de luta contra os ataques aos direitos sociais e trabalhistas e contra o desmonte das políticas públicas. ”
Amplo debate
No lançamento da jornada, a mestre, doutoranda em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp e formadora da Escola Sindical São Paulo, Juliane Furno, e a advogada Marina Ganzarolli, cofundadora da Rede Feminista de Juristas, falaram sobre os impactos da reforma trabalhista na vida das mulheres e o papel do Judiciário no golpe brasileiro.
O evento contou também com a participação da ex-ministra Eleonora Menicucci, que ocupou a Secretaria de Políticas para as Mulheres no governo de Dilma Rousseff. Ao falar sobre o golpe que derrubou Dilma, ela lembrou que foi presa e torturada durante a ditadura militar brasileira, inclusive na mesma cela da ex-presidente, nos anos 1970, em São Paulo.
“A mão do capital internacional também está neste golpe que estamos vivendo, como esteve em 1964 e 1968, não se enganem. Só que naquela época havia uma visão nacionalista sobre nossas riquezas, agora não. Já fizeram o desmonte dos direitos trabalhistas e sociais e afetaram a nossa soberania nacional”, afirma.
Para Eleonora, a jornada se dá num momento importante já que tem como perspectiva promover debates no seio da classe trabalhadora. “Se não lutarmos todos os dias, de todas as formas e em todos os lugares possíveis, perderemos tudo o que conquistamos de 1988”, disse.
A vereadora por São Bernardo do Campo, Ana Nice, destacou que a jornada deve pressionar parlamentares por onde passar, cobrando respostas diante do cenário de aprovações de propostas que retiram os direitos da população brasileira.
“Só com participação e pressão popular é possível reverter o voto de um parlamentar que venha precarizar a vida das mulheres trabalhadoras”, sinalizou.
De acordo com Ana Nice, as perdas em âmbito nacional acabam refletindo nas políticas locais e atingem diretamente as mulheres e suas famílias. “Por todos os lugares que tenho passado, eu vejo que as pessoas já perceberam os retrocessos que têm acontecido nesses últimos anos no Brasil”, relatou.
Jornada feminista e classista
A expectativa é de que a jornada também se estenda Brasil afora, como propõe a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Nacional, Junéia Batista.
“É importante que esta iniciativa ocorra em todos os municípios do país. Levaremos para todos os lugares as nossas bandeiras em defesa da democracia e também pela garantia de Lula ser candidato nas eleições e exigimos, desde já, que o Supremo [Tribunal Federal] aja com imparcialidade e justiça de classe neste caso”, afirma.
Para a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-SP, Márcia Viana, a ideia é aprofundar o debate sobre o golpe e debater como a retirada de direitos tem afetado a vida das mulheres.
“As mulheres são as que mais sofrem com os retrocessos nas políticas públicas e em áreas essenciais como saúde e educação. A PEC do teto (Proposta de Emenda Constitucional 55), por exemplo, vai afetar a vida de toda a população brasileira, ao estabelecer o congelamento dos gastos públicos nos próximos 20 anos, mas principalmente a vida das mulheres, já que irá aprofundar a desigualdade de gênero”, disse.