A CUT-RS realizou nesta segunda-feira, dia 11, uma assembleia popular na Praça da Matriz, no centro de Porto Alegre. Para a entidade, a sociedade não merece assistir, semanalmente, denúncias como a publicada na revista Veja, em circulação desde sábado, dia 9. Através de sua reportagem, ouviu uma hora e meia das dez horas de diálogos mantidos entre o ex-chefe do escritório gaúcho em Brasília, Marcelo Cavalcante, e o lobista Lair Ferst, ambos do PSDB.
A reportagem teve acesso a gravações em que Cavalcante, morto em fevereiro, relata uma série de irregularidades na campanha e no governo da tucana. Na matéria fica claro que o ex-assessor conversava com liberdade com Ferst, que o havia ajudado informalmente a arrecadar dinheiro para a campanha da governadora.
O representante da Federação da Saúde, Milton Kempfer, acredita que o governo gaúcho deve satisfações a sociedade. “Nesse momento é necessário uma grande frente de mobilização”, defendeu. O mesmo pensa o integrante da Federação dos Sapateiros, Antônio Guntzel. “Necessitamos de um governo que trate o Rio Grande com seriedade”, acrescentou Guntzel.
Para o diretor da Federação dos Bancários do RS, Carlos Augusto Rocha, essas denúncias denigrem a imagem do Estado. “Além disso, lugar de corrupto não é nas instituições públicas”, acredita. O representante da UNE e da UBES, Diego Hamister, com a prova da existência do caixa 2 no governo, a luta pelo Fora Yeda é propícia. “Os estudantes, os professores, a sociedade precisa derrubar o Governo Yeda e o projeto neoliberal”, declarou o estudante.
A diretora do SEMAPI, Mara Feltes, acredita que o modelo neoliberal, adotado pelo governo estadual só prejudica os trabalhadores. “Está na hora de irmos para as ruas, nós não vamos dar sossego. Fora o governo todo. Fora Yeda e Feijó”, afirmou a diretora.
Representando o CPERS/Sindicato, Sônia Solange Santos Viana lembrou o descaso do governo com a educação, citando a multiseriação e a enturmação como exemplos. “O Fora Yeda é necessário porque não podemos compactuar com esse governo e esse projeto que tira recursos da educação”, defendeu.
Encerrando a assembleia, o presidente da CUT-RS, Celso Woyciechowski, disse que o objetivo da mobilização é a renuncia do governo que não tem moral para administrar o Estado. Que a essas denúncias sejam apuradas pelo Ministério Público e que seja instalada uma CPI na Assembleia Legislativa.
“Ninguém agüenta mais, toda a semana nos jornais, matérias sobre a corrupção no Estado. A sociedade gaúcha não merece isso! Queremos a quebra do sigilo de segredo de justiça que protege esse governo corrupto”, declarou.
Ficou deliberado que na próxima quinta-feira, dia 14, às 11h, será realizado um ato público pelo Fora Yeda. Também foi definido a execução de um abaixo-assinado para pedir urgência nas investigações pelo Ministério Público e a instalação de uma CPI no legislativo gaúcho.
Assembleia Legislativa
O presidente da Assembleia Legislativa, Ivar Pavan, disse nesta segunda-feira que a sociedade gaúcha precisa de esclarecimentos urgentes sobre as denúncias que envolvem o governo do Estado. “As denúncias são muito graves. A sociedade precisa saber o que consta nos inquéritos e processos em andamento”, declarou. Preocupado, Pavan avalia que esta situação de instabilidade paralisa o governo num momento de seca no Estado e de crise no país e no mundo.
Pavan ressalta que o Legislativo gaúcho está atento para o cumprimento do seu papel. “As CPIs são instrumentos adequados dos parlamentos para esclarecer situações que precisam de aprofundamento. É uma decisão do conjunto dos deputados e nós faremos a parte que nos cabe”, concluiu.
O deputado Raul Carrion (PCdoB) citou os fatos que, somados, garantem a instalação da CPI, no seu entender: a afirmação da fumageira Alliance One de doação à campanha, não declarada à Justiça eleitoral, a reafirmação pela Veja de que as fitas existem, a declaração do vice-governador Paulo Feijó de que é favorável à investigação do Legislativo e o pedido da OAB feito ao MPE para que confirme a existência das gravações feitas pelo lobista Lair Ferst.
Já o ex-procurador-geral de Justiça Mauro Renner confirmou, nesta segunda-feira, que o surgimento de fatos novos abre caminho para a reabertura da investigação sobre a compra da casa de Yeda, que o Ministério Público arquivou por não ter encontrado irregularidades.
OAB e CPI
O presidente da OAB gaúcha defendeu, nesta segunda-feira, a quebra do segredo de justiça em relação aos processos e investigações que envolvem integrantes do governo do Estado. Cláudio Pacheco Prates Lamachia argumentou, durante encontro com os deputados Elvino Bohn Gass (PT), Paulo Azeredo (PDT) e Cássia Carpes (PTB), que não há razão para manter o sigilo, uma vez que tanto os processos quanto as pessoas envolvidas já são de conhecimento público. “O sigilo está trazendo mais prejuízos e alimentando dúvidas”, justificou.
O presidente da entidade disse que, se não houver uma resposta rápida do Ministério Público Federal, Justiça Federal de Santa Maria e Polícia Federal sobre as diversas denúncias que pesam sobre membros do governo gaúcho, o caminho para esclarecer os fatos poderá ser uma CPI. “Se não houver uma resposta rápida das instituições, uma CPI poderá ser necessária. O clima de permanente suspeição não é mais possível”, frisou.
A reunião com a direção da OAB é primeira de uma série que os deputados irão realizar nos próximos dias em busca de apoio da sociedade para a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito na Assembleia Legislativa para apurar denúncias contra o governo do Estado. “A constante negativa da governadora em prestar esclarecimentos sobre denúncias graves cria um ambiente institucional de crise permanente e de paralisia. É preciso esclarecer os fatos de forma vigorosa para que o Rio Grande recupere a tranqüilidade”, justificou Bohn Gass.
Nesta terça-feira, a bancada petista deverá iniciar a coleta de assinaturas para protocolar o requerimento de abertura da CPI. “A situação é muito grave e não permite que a Assembleia se cale e abdique de sua prerrogativa de investigar”, frisou o deputado.