Ato conjunto das centrais sindicais na Praça da Sé, em São Paulo, em 2014
Como em anos anteriores, a CUT e as demais centrais sindicais se reúnem no início do ano para traçar estratégias de luta de olho em avanços e desafios para a classe trabalhadora. Porém, ao contrário do que aconteceu no passado, o encontro desta terça-feira (13), às 10h, na sede da Central, tratará de um cenário bastante preocupante na esfera econômica. Preocupação que atinge, especialmente, o emprego de diversas categorias e já resulta em demissões.
Tão importante quanto reverter esse cenário é mostrar ao governo que os trabalhadores têm propostas para o país e, conforme discutido com a presidenta Dilma Rousseff nas últimas eleições, cobraram um canal de interlocução permanente para que não paguem o preço pelos ajustes na economia.
Em entrevista ao Portal da CUT, a presidenta em exercício, Carmen Foro, destaca que o caminho para avançar no diálogo, como sempre, é a pressão e, por isso, a Central irá propor um Dia Nacional de Lutas, ainda em janeiro, além da Marcha da Classe Trabalhadora já prevista para o primeiro trimestre.
Quais assuntos estarão na pauta das centrais na reunião desta terça?
Carmen Foro – Em primeiro lugar, uma preocupação da CUT e das centrais em relação à economia são os anúncios que têm sido feitos pelo governo. O pacote de medidas para redução fiscal, que afeta diretamente os trabalhadores, em especial, os mais pobres e, no caso da alteração no seguro-desemprego (parte da Medida Provisória 664 anunciada por Dilma – leia mais abaixo), afeta os mais jovens. Mas há preocupação para além desses pontos: para saber como será a economia no próximo período, as situações de desemprego, começando pelas demissões no ABC paulista, a questão da abertura de capital da Caixa Econômica Federal e a política de juros. Não permitiremos que a classe trabalhadora pague o preço pelos ajustes que o governo tem feito e por isso estamos chamando as centrais sindicais para um diálogo maior e juntas pensarmos como será a ação do movimento sindical para o próximo período.
Já há alguma ação programada para os próximos meses?
Carmen Foro – A CUT irá propor para as centrais a realização da Marcha da Classe Trabalhadora para fevereiro ou março. E pensamos que não basta uma mobilização de caráter nacional em Brasília ou São Paulo, é preciso que façamos mobilizações também nos estados, especialmente nos que mudaram de governo para colocar nossa plataforma em debate, aquela que apontamos, inclusive, durante as últimas eleições. E vamos propor um Dia Nacional de Luta unificado entre as centrais ainda para o mês de janeiro em todo o país.
Sobre o que foi anunciado até agora pelo governo federal, como a CUT se posiciona?
Carmen Foro – Temos uma crítica profunda ao governo sobre o método equivocado de apenas nos comunicar sobre as decisões. O compromisso construído com a presidenta é que em todo o processo construído, sobre qualquer tema que tratasse da pauta dos trabalhadores, primeiro haveria um diálogo conosco. Porém, no dia 29 de dezembro, fomos chamados para sermos apenas informados a respeito de medidas que o governo tomou e que retiram direitos e que dificultam a possibilidade de acesso a direitos. Do ponto de vista de conteúdo, essas ações vêm mascaradas de adequação de ajustes, mas trazem redução das nossas conquistas
As centrais discutirão também a crise na indústrias e as demissões que ocorrem no Grande ABC?
Carmen Foro – A greve dos metalúrgicos do ABC não é isolada e não podemos fugir desse assunto. Há demissões em todos os outros lugares, setores e categorias. Estamos fazendo um levantamento mais preciso para verificar quais categorias estão sendo afetadas nesse primeiro momento de 2015 para podermos continuar o processo de mobilização.
Um dos problemas na demissão dos metalúrgicos é que havia um acordo coletivo que garantia a manutenção dos empregos até 2016. Como a CUT avalia esse desrespeito das montadoras?
Carmen Foro – É preciso criar mecanismos técnicos e políticos que façam com que empresas beneficiados por incentivos do governo, como redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) assumam o compromisso de não demitir e garantir empregos. Precisamos avançar sobre essa perspectiva de acumular sobre esse tema num diálogo com o governo para que tenhamos contrapartida. Não dá para ter investimento e não termos o compromisso de manter os empregos.