“A crise econômica no Brasil já passou, mas o país ainda precisará de cerca de seis meses para voltar a conquistar os empregos e a produção que perdeu no período”. A opinião é do professor Júlio Sérgio Gomes Almeida, da Universidade de Campinas (Unicamp).
“Digamos que, pela dinâmica da economia, a crise passou. Mas temos de ter alguns cuidados. Por exemplo: não vamos pensar que está tudo bem, que vamos voltar a contratar 1 milhão de pessoas. É um processo. Segundo o professor, isso significa dizer que a economia reencontrou um eixo para voltar a crescer.
“Como perdeu muito devido à crise, até recuperar o que perdeu vai levar um tempo. Vai dar uma sensação de que a economia está crescendo, mas ainda não voltou ao nível que era”, disse Almeida.
O professor comparou esse tempo de recuperação da economia brasileira àquele trabalhador que perdeu metade do seu salário durante a crise e que, mês a mês, vai recuperando o seu rendimento.
Almeida afirmou que ainda vai levar uns seis meses para que se tenha de novo o emprego, a produção da indústria, o Produto Interno Bruto (a soma de bens e serviços produzidos no país) que foram perdidos por conta desse processo de crise.
“Digamos que, olhando para o período como um todo, significa que o Brasil, mesmo saindo bem dessa crise, vai ficar um ano procurando recuperar o que perdeu devido ao impacto da crise”, afirmou.
Apesar da perspectiva positiva de cenário para o ano que vem – ele acredita em taxa de crescimento em torno de 4% ou 4,5% no País -, Almeida ressaltou que o Brasil deve ter duas grandes preocupações para esse período de recuperação: as exportações e o desejo de outras economias pelo nosso mercado interno.
Mercado interno
“O Brasil perdeu muito a exportação, especialmente nos seus setores industriais. A exportação de calçados caiu 40%, foi de quase 50% a queda na exportação de automóveis e de aço e, em alguns setores de bens de capital, a queda pode ter chegado a 60%. É muita coisa”, disse.
Almeida destacou que isso foi reflexo da dos mercados internacionais.
“Mas vamos imaginar que amanhã esses mercados voltem a crescer e já tenha algum sinal nessa direção, também devagar. Há um desafio. Seremos nós que vamos de novo abastecer esses mercados na dimensão que fazíamos? Esse é um jogo ainda a ser jogado”, afirmou.
Quanto ao mercado interno, Almeida acredita que o desafio seria tentar controlar a ambição das outras economias do mundo.
“Significa um desafio para o Brasil porque, com esse padrão mundial de muito excesso de capacidade, uma parcela dessa produção adicional vem para cá sob a forma de importações maiores. Tem muita gente querendo entrar no Brasil e participar desse mercado interno. Isso pode subtrair condição de abastecimento por parte da nossa indústria”, advertiu.
Crédito
Para o professor, o que pode afetar o Brasil não depende de um processo interno, mas da ocorrência de uma “nova rodada da crise internacional”, o que ele vê como uma possibilidade, mas não acredita que vá acontecer.
“Quando se fala que a crise no Brasil acabou é porque as forças internas deram a volta por cima, restabeleceram o dinamismo, é um fator muito interno. Mas o Brasil pertence a um conjunto internacional e pode voltar a sofrer os impactos caso a crise lá fora volte a afetar o mundo. Eu não acredito nisso, mas é uma possibilidade”, disse.
Almeida lembrou que no exterior a crise ainda não mostrou superação completa.
“Ela recuperou, ela melhorou em função de gasto público, de programas oficiais de investimento na área de crédito, mas a prova dos nove, de uma recuperação maior da economia mundial, só virá quando o crédito se restabelecer, quando a confiança das pessoas se restabelecer, quando o desemprego (que baixou) mas ainda é muito grande, diminuir mais intensamente o seu ritmo”, afirmou.
A população brasileira, no entanto, só perceberá que a crise passou ou que está no caminho da melhora quando o país voltar a recuperar o emprego que foi perdido.
“A crise só vai ser superada quando nós recuperarmos aquele emprego e o produto que perdemos durante a crise. E isso vai levar um certo tempo”, disse o professor.