Felipe Marques
Valor Econômico
O crédito imobiliário recuperou o atraso do ano passado e bateu recorde de desembolsos no primeiro semestre de 2013. A modalidade, que parece passar ao largo da deterioração da economia brasileira, teve no primeiro semestre de 2013 seu melhor resultado desde o começo do Plano Real (1994). Nos seis primeiros meses do ano, foram desembolsados R$ 49,6 bilhões em empréstimos com recursos da poupança, volume 34% ao do mesmo período de 2012. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
O desempenho, porém, deve desacelerar nos próximos meses. A própria Abecip espera um crescimento de 15% neste ano, embora admita que possa chegar a até 20%. “Houve uma transferência de projetos que seriam lançados no fim do ano passado para o começo de 2013”, afirma o presidente da associação, Octavio de Lazari Junior, em entrevista coletiva. “No restante do ano, a tendência é de leve desaceleração.” Nos 12 meses de 2012, o crescimento dos desembolsos de crédito imobiliário havia sido de apenas 3,6% na comparação com 2011.
Mesmo o financiamento à construção de imóveis deu sinais de recuperação. No semestre, os desembolsos para este fim somaram R$ 14,2 bilhões, um crescimento de 12% na mesma comparação. Em 2012, essa modalidade havia encolhido 20% no ano. Entre os fatores que colaboraram está a maior agilidade de prefeituras na liberação de licenças para construção de novos imóveis e a confiança de incorporadoras em lançar empreendimentos, depois de pressões de custos no ano passado.
Já o crédito para aquisição de imóveis somou R$ 35,4 bilhões para aquisição de imóveis, um crescimento de 45% na comparação com igual periodo do ano passado. Aqui o destaque foram as operações de compra de imóveis usados, que somaram R$ 23 bilhões, avanço de 53% na mesma comparação.
Há quem defenda, porém, que há, sim, motivos para esperar um segundo semestre igualmente forte, ao menos na pessoa física. “O volume de entregas de empreendimentos imobiliários será muito alto no segundo semestre. Nossa expectativa é que o período concentre 60% das entregas do ano”, afirma Bruno Gama, diretor da CrediPronto, joint-venture entre Itaú Unibanco e a imobiliária Lopes. A entrega das chaves é o momento em que o cliente sai da construtora para ser efetivamente financiado pelo banco.
Lazari, que também é diretor no Bradesco, ponderou que aumentos da taxa básica de juros têm efeito limitado sobre as taxas do crédito imobiliário, na medida em que essas operações usam recursos da poupança. Ele afirma que, no caso da taxa Selic chegar a 9% ou 9,5%, o efeito nas taxas de juros do crédito imobiliário será de até 0,5 ponto percentual, no máximo.
Os dados da Abecip consideram apenas os desembolsos que usaram recursos da caderneta de poupança como “funding”. Isso exclui, por exemplo, as operações no âmbito do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida.
Uma informação, porém, destoa do otimismo que cerca o crédito imobiliário. Um levantamento conduzido pelo Banco Central com as instituições financeiras mostrou que a demanda por empréstimos habitacionais veio aquém do que esperavam os bancos no segundo trimestre. Pelas métricas da pesquisa, os bancos sentiram uma leve melhora na procura pelo crédito habitacional no período de abril a junho. Só que a melhora observada foi metade da que estavam esperando as instituições para o trimestre.
A pesquisa coleta informações de oito bancos, com uma representatividade de 99,7% do saldo do crédito habitacional. Porém, executivos de bancos ouvidos pelo Valor descartam que o dado represente o sentimento do mercado. E que, se houve surpresa nas expectativas de crédito imobiliário neste ano, foi para cima, e não para baixo.
No caso da CrediPronto, por exemplo, os desembolsos avançam dentro do esperado. “Nosso objetivo era crescer acima de 20%. Até agora é o que estamos entregando”, afirma Gama.