A possível incorporação do Banrisul pelo Banco do Brasil é a principal manchete de capa do jornal Correio do Povo desta sexta-feira, dia 30. O veículo de comunicação ressalta a preocupação do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e região (SindBancários) com relação ao tema. “O Meridional e o Banespa, depois de comprados, foram praticamente extintos”, adverte o presidente do SindBancários, Juberlei Baes Bacelo.
Confira a íntegra da reportagem:
BB pretende incorporar o Banrisul
O interesse do Banco do Brasil (BB) em incorporar bancos públicos não termina com o paulista Nossa Caixa. A sinalização foi dada ontem pelo presidente do banco federal, Antônio Lima Neto, a um grupo de parlamentares. No encontro, o executivo reafirmou os planos de expansão do BB, que passam pela incorporação de outras instituições. Lima Neto citou, inclusive, que o Banrisul deve ser um potencial futuro alvo.
Parlamentares presentes ao encontro disseram que Lima Neto defendeu o crescimento do banco como forma de garantir a manutenção da liderança do BB no mercado. A explicação do executivo é que o banco precisa ganhar musculatura para competir com os concorrentes privados, que adquiriram uma série de instituições financeiras na última década.
Dentro dessa estratégia, Lima Neto argumentou que não sobram muitas instituições públicas que, eventualmente, possam ser incorporadas pelo BB. Neste ponto da conversa, o presidente do BB citou o Banrisul como potencial alvo. Na diretoria do BB, o plano é mostrar que a incorporação pode ser boa para o RS. Na visão do banco federal, o modelo usado no negócio Banco do Estado de Santa Catarina (Besc)-BB e, eventualmente, na Nossa Caixa-BB, poderão convencer o governo gaúcho a permitir a venda para o governo federal.
Em Porto Alegre, a idéia de repassar o controle do banco estatal gaúcho tem poucos adeptos. A governadora Yeda Crusius já afirmou, repetidas vezes, que manterá a estratégia de reforçar o banco.
Mas há quem entenda que o processo de reorganização das contas do Banrisul realizado nos últimos meses tem como objetivo pedir um preço mais alto em uma eventual venda. “Nem penso nisso (na venda), porque o Banrisul é fundamental para o desenvolvimento do Estado”, afirmou ontem Yeda.
Bancários apreensivos com atenção do BB ao Banrisul
Para o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região Metropolitana (SindBancários) as manifestações de interesse do Banco do Brasil (BB) no Banrisul são motivo de apreensão. “O Banco do Brasil é hoje um banco de mercado e atua como os grandes do setor na disputa de ativos. Depois da incorporação, no médio e no longo prazos o caminho será o da extinção”, prevê o presidente do SindBancários, Juberlei Bacelo.
Na avaliação do dirigente, este é o ano do bicentenário do BB e a meta do banco é se manter como o número um do Brasil. “Mas isto não significa que o BB se transformará num grande banco de varejo”, acrescentou. O apetite do BB pela Nossa Caixa, de São Paulo, foi despertado, segundo Bacelo, pelo fato de a instituição ser a maior na recepção de depósitos judiciais. Isto interessava o governo paulista e agora ao BB.
De acordo com o presidente do SindBancários, na federalização do Besc (SC), há um contrato segundo o qual o BB se compromete, por três anos, a manter todas as agências e a marca. “Mas e depois como vai ficar?”, questiona Bacelo. Ele admite a existência de “uma ilusão dos servidores de bancos estaduais em virem a ser federais, mas com ela vem o fim do banco”. A favor do BB, na avaliação dele, há o fato de a incorporação ser menos antipática comparativamente a uma privatização.
“Não há motivos para o Estado se desfazer do seu banco, saneado, lucrativo, que atua no fomento de vários setores da economia e ainda repassa lucros ao Estado.” Ele lembra os casos dos bancos Meridional e Banespa: “Depois de comprados foram praticamente extintos”. A direção do Banrisul informou ontem que sua assessoria de imprensa não se pronunciaria sobre essa questão.