Evento debateu condições de trabalho e saúde do trabalhador no mundo
Frankfurt, na Alemanha, sediou entre os dias 24 e 27 de agosto, o XX Congresso Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho. Realizado de três em três anos desde 1955, o evento bateu recorde de público. Foram 3.980 participantes de 143 países, como especialistas em segurança e saúde no trabalho, autoridades governamentais, representantes de empresas e dirigentes sindicais.
A Contraf-CUT participou do encontro, através do secretário de Saúde do Trabalhador, Walcir Previtale, junto com a presidenta da Fetraf-MG, Magaly Fagundes, e dirigentes dos Sindicatos dos Bancários do Rio de Janeiro, Gilberto Leal, de Curitiba, Ana Fideli, de Pernambuco, Wellington Trindade, de Campinas, Gustavo Frias, e de Criciúma, Júlio Zavadil.
“Pela primeira vez participamos com uma delegação representando os trabalhadores brasileiros do ramo financeiro. É um espaço importante de disputa, de discussão das condições de trabalho e de saúde do trabalhador, já que conta com a presença de muitas empresas e representantes governamentais”, avalia Walcir Previtale.
Visão zero
O encontro mundial foi organizado pelo Seguro Social de Acidentes Alemão, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Associação Internacional de Seguridade Social (ISSA). Criar uma visão de prevenção sustentável foi o lema do evento, que abordou temas como cultura de prevenção – estratégias de prevenção – visão zero; desafios na saúde ocupacional; e diversidade no mundo do trabalho.
A visão zero defende um mundo do trabalho seguro e saudável, sem acidentes graves ou mortais. Segundo a OIT, a cada minuto morrem cinco pessoas no mundo por causa de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. São cerca de 2,3 milhões de mortes por ano e mais de 160 milhões de trabalhadores são vítimas de doenças ocupacionais.
Outra pesquisa, divulgada no XX Congresso, revela que quatro por cento do produto interno bruto global, cerca de R$ 6,4 trilhões, são perdidos por causa de acidentes e doenças do trabalho.
Em seu discurso, o diretor geral da OIT, Guy Ryder, reforçou que o ambiente de trabalho seguro precisa ser encarado como um direito humano para que se alcance a justiça social e o trabalho decente. “É essencial que os governos, empregadores e trabalhadores se engajem num diálogo social. O direito a um ambiente de trabalho saudável é um direito humano fundamental”, afirmou
Anfitriã, a ministra do Trabalho da Alemanha, Andrea Nahles, enfatizou a responsabilidade social corporativa. “Grupos transnacionais devem zelar pela cultura de prevenção de acidentes em todos os países do mundo. Também é importante a aproximação dos trabalhadores com os setores da política, ciência, interlocutores sociais e empresários com a finalidade de estabelecer uma cultura mundial de prevenção”, disse.
Muito business
Apesar da preocupação da OIT com a segurança e um ambiente de trabalho saudável, a própria estrutura do congresso demonstra que a discussão, de forma global, ainda não prioriza a voz dos trabalhadores.
“O encontro foi muito importante, mas esteve focado, em grande parte, nos grupos corporativos, nas práticas empresariais, com influência do business, visto nas feiras de EPI. Falta um espaço maior de participação dos trabalhadores na definição de medidas e estratégias que realmente combatam o adoecimento em função do trabalho. Não adianta só a empresa ou o banco comunicar seus investimentos, comprar equipamentos, o trabalhador precisa ter poder de decisão”, enfatiza Walcir.
No entanto, o diretor da Contraf-CUT avalia, como positivo, a interação com trabalhadores de outros países durante o encontro mundial. “Foram várias oficinas e conseguimos levar e compartilhar na mesa de debates os problemas relacionados à categoria bancária brasileira, como as metas abusivas, o assédio moral e o estresse diário, que também atingem, infelizmente, trabalhadores no mundo inteiro”, explica.
O conteúdo e as principais discussões do congresso serão repassados na próxima reunião do Coletivo Nacional de Saúde do trabalhador, na Contraf-CUT.
Veja as avalições dos demais dirigentes brasileiros que participaram:
Magaly Fagundes – presidente da Fetraf-MG
“Foi muito importante a nossa participação no encontro mundial, enquanto representantes dos trabalhadores do ramo financeiro. Nós, trabalhadores, precisamos nos apropriar mais destes espaços de discussão, que ainda é muito hegemonizado pelas grandes corporações”
Ana Fideli – secretária de Saúde do Trabalhador, Sindicato de Curitiba
“A classe trabalhadora deve se apropriar cada vez mais dos debates, tendo participação ativa sobre o tema prevenção e saúde do trabalhador, promovendo assim a cultura da saúde, uma vez que os acidentes podem e devem ser prevenidos. O congresso foi importante para termos uma visão do que acontece em outros países, de que forma estão se organizando, quais os avanços e preocupações, o impacto social aos trabalhadores afastados, o processo de reintegração e as atitudes assumidas pelas empresas e governos.”
Wellington Trindade – secretário de Saúde do Trabalhador, Sindicato de Pernambuco
“Foram divulgados estudos importantes. Uma pesquisa alemã destacou a necessidade de pausas para descanso físico e psíquico, durante o trabalho. Essa é uma reivindicação da nossa categoria, com pausas de 10 a 15 minutos para que o bancário se restabeleça. Outro estudo francês também mostrou a necessidade de legislações específicas em cada país sobre a saúde do trabalhador. Algo que também lutamos no Brasil”.
Gilberto Leal – secretário de Saúde do Trabalhador, Sindicato do Rio de Janeiro
“Pudemos ver que, apesar dos nossos problemas, o Brasil está bem à frente na discussão de doenças psiquiátricas, por exemplo. O resto do mundo não reconhece e não faz a relação dessas doenças com o trabalho. Apenas contabilizam os acidentes típicos e, o pior, não consideram o ambiente financeiro como sendo de risco a acidentes, o que é um grande absurdo. Conseguimos levantar este debate durante o congresso.”
Gustavo Frias – secretário de Saúde do Trabalhador, do Sindicato de Campinas
“A nossa participação no Congresso foi importante para conhecermos como é tratada a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras em outros países e em especial da categoria bancária. Assim como no Brasil, as LER/Dort e o aumento dos transtornos psíquicos ocasionados pelo trabalho são fatores preocupantes. Para combater esses problemas, várias propostas de soluções foram apresentadas, mas questões como o aumento exacerbado da produtividade com redução dos postos de trabalho ficaram de fora.”
Julio Zavadil – secretário-geral, Sindicato de Criciúma
“Nos esforçamos para estar presente nos diversos grupos de debates do congresso, levando informações, articulando com representantes de outros países, para que tenhamos uma unidade em prol de políticas mundiais de prevenção de acidentes. Nosso objetivo é despertarmos os demais sindicatos de bancários e os trabalhadores em geral, que não apenas as cláusulas econômicas devem nos manter unidos, mas, acima de tudo, a saúde do trabalhador deve ser nosso foco”.