Contraf-CUT questiona dados do estudo do Ipea sobre segurança nos bancos

A Contraf-CUT questionou os indicadores sobre segurança nas operações em agências que aparecem no estudo “Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre Bancos: exclusão e serviços”, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na terça-feira, dia 11, em São Paulo.

O secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, que acompanhou a apresentação do presidente do Ipea, Márcio Porchmann, perguntou se a pesquisa levou em consideração a forma de relacionamento dos entrevistados com os bancos, uma vez que a maioria dos clientes realiza hoje suas operações bancárias pela internet e não utiliza as agências e os postos.

Porchmann respondeu dizendo que o comentário do dirigente sindical era procedente e explicando que a pergunta aos entrevistados não havia considerado o canal de relacionamento.

Para Miguel, isso explica por que a segurança nas unidades satisfaz 78% dos clientes, enquanto 13,7% estão muito insatisfeitos ou insatisfeitos com a proteção oferecida pelos bancos. Também justifica porque 65,1% dos entrevistados se mostram satisfeitos ou muito satisfeitos com o reduzido tempo de expediente ao público.

“Se o cliente não precisa ir à agência, ele não vai reclamar de segurança”, disse o diretor da Contraf-CUT. “É estranho que a maioria dos clientes aprove a segurança quando as estatísticas mostram que os assaltos em agências são frequentes, assim como o crime da ‘saidinha de banco’. Por isso, a pesquisa deveria indagar também qual o canal usado pelo entrevistado para realizar suas operações bancárias”, ressaltou.

O presidente do Ipea disse que se trata de um primeiro estudo sobre a relação dos bancos com a população e servirá de base para debates e formulações de políticas públicas. Novos estudos serão realizados nos próximos anos.

Quase 40% de brasileiros excluídos

O estudo comprovou a exclusão bancária no Brasil, revelando que 39,5% da população economicamente ativa no país não possui conta bancária. Dos excluídos, 40,6% desejam ter conta corrente e 26,6% acreditam ter as condições financeiras necessárias e atrativas para os bancos.

O mapa da exclusão não surpreende: a grande maioria é de baixa renda, tem pouca escolaridade, e está concentrada nas regiões menos desenvolvidas. No Norte e no Nordeste, 50% e 52,6%, respectivamente, não têm conta bancária, enquanto que no Centro-Oeste, Sul e Sudeste esses percentuais caem para, respectivamente, 31,2%, 30% e 34,1%.

“A oferta do crédito não é vista como a principal função do sistema financeiro”, apontou Miguel. Para 62,1% dos entrevistados, as principais ações do atendimento bancário são a movimentação e o depósito de dinheiro. Para 29,5%, o papel de um banco é ofertar produtos e serviços. Somente 4,5% dos brasileiros veem as instituições financeiras como o lugar para emprestar dinheiro, o que é um índice muito baixo.

Idec aponta precarização dos serviços

A coordenadora executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Lisa Gunn, que também acompanhou a apresentação do presidente do Ipea, disse que é preciso pensar em uma política para promover a inclusão bancária, tanto por parte do governo quanto das próprias empresas financeiras. O Idec foi parceiro do Ipea na pesquisa.

Lisa Gunn disse ainda que os não correntistas acabam por usar alguns serviços dos bancos por meio dos correspondentes bancários, como lotéricas, caixas de supermercado e farmácias, e isso preocupa bastante o instituto. “Se o cliente do banco não tem acesso a informação clara e adequada nas agências, o que esperar do atendimento em correspondentes?”, questionou.

Além disso, acrescentou, esse tipo de atendimento leva à precarização do trabalho, já que os funcionários de lotéricas e caixas de supermercado sequer são considerados bancários.

Outro banco é preciso

Miguel avaliou que esse estudo comprova o processo de exclusão bancária no Brasil, que precisa ser revertido pelos bancos, através da inclusão de milhões de brasileiros com atendimento de qualidade e segurança.

Segundo o dirigente da Contraf-CUT, a realização de uma pesquisa dessa natureza, apesar da parcialidade de determinadas perguntas que comprometem alguns resultados, como a segurança nas operações em agências e horário de atendimento, ajuda certamente trabalhadores e clientes nos debates sobre o papel dos bancos e a sua relação com a sociedade.

“Todos os atores sociais devem aproveitar esse tipo de estudo para debater se é esse tipo de banco que a sociedade brasileira necessita ou se urge a regulamentação nos moldes dos princípios estabelecidos na Constituição Federal, em seu artigo 192, que determina que o sistema financeiro nacional deverá estar voltado para o desenvolvimento nacional”, concluiu o diretor da Contraf-CUT.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram