Contraf-CUT participa de debate sobre Consciência Negra em Brasília

Diretora da Contraf-CUT, Deise Recoaro, aponta discriminações nos bancos

A realidade de discriminação ainda enfrentada pelos negros foi tema do debate promovido pelo Sindicato dos Bancários de Brasília, na terça-feira (22) para lembrar o Dia da Consciência Negra.

O coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Universidade de Brasília (UnB), professor Nelson Olokofá Inocêncio; a secretária de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Deise Recoaro; e o diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-brasileiro da Fundação Cultural Palmares, Alexandro Reis, participaram das discussões, que foram intermediadas pelo diretor do Sindicato, Manoel Duque, que é integrante da CGROS (Comissão de Gênero, Raça e Orientação Sexual) da Contraf-CUT.

Dados do Censo 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os pretos e pardos representam 52% da população brasileira. Apesar disso, são minorias dentro dos bancos.

Segundo Deise Recoaro, 81% dos bancários são brancos. Os 19% restantes dividem-se entre negros e negras. “Ainda assim, não vemos esses 19% realizando trabalhos de atendimento ao público”, disse. A diferença se vê também na remuneração: os negros recebem 84% do salário dos brancos.

Para Recoaro, existe uma “cota branca histórica” no mercado de trabalho que não é questionada. “Todo e qualquer tipo de discriminação racial é lucrativo para o sistema porque os salários pagos a negros e mulheres são mais baixos”, denunciou.

Com um resgate histórico sobre o assunto, o professor Nelson Inocêncio falou acerca das diversas estratégias utilizadas pelos negros para tentar se inserir na sociedade. “O processo de reconhecimento não foi da noite para o dia. Falar da consciência negra tem a ver com celebrar a identidade positiva que, durante muitos anos, era tida como algo negativo”, disse.

“É preciso realizar um trabalho de contra-hegemonia, enfrentar essa situação atroz do racismo que ainda existe no Brasil. A zona de conforto dos que não lutam para mudar esse quadro não vai ser perene, vai depender do que as pessoas querem. Se cada um fizer o seu papel nós teremos uma sociedade mais plural, com mais respeito ao próximo”, declarou.

A necessidade de se olhar a questão do racismo como um problema mundial foi destacada pelo diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-brasileiro da Fundação Cultural Palmares, Alexandro Reis. Segundo ele, o tema também envolve questões econômicas, políticas e culturais profundas e que precisam ser tratadas.

Ações afirmativas, segundo Reis, são algumas das alternativas para se tratar esses problemas do Brasil, que já ocupa o 6º lugar na economia mundial e tem 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional – quase R$ 700 bilhões por ano – movimentado pela população negra.

“Esses números não podem passar despercebidos pelo mercado. É evidente que isso repercute na construção de políticas públicas. Não é preciso apenas permitir o acesso aos postos de trabalho, é necessário garantir a participação no processo de ascensão que ainda é muito pequena tanto nos bancos como em outras empresas”, frisou Reis.

Também fez parte da programação uma apresentação do grupo Abadá Capoeira.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram