Às vésperas do carnaval e um mês depois de assumir a presidência do Santander, o espanhol Marcial Portela anunciou na quinta-feira, dia 3, mudanças profundas na diretoria do banco. A principal ocorre no comando do varejo. O novo vice-presidente é José Berenguer, homem de confiança do ex-presidente Fábio Barbosa, que agora preside o Conselho de Administração do banco.
Berenguer substitui José Paiva, que sai do banco após 26 anos “em busca de novos desafios”, segundo a mensagem de Portela aos funcionários. Conforme a imprensa, Paiva é o terceiro alto executivo a deixar a instituição este ano. Também sai do banco o economista-chefe Alexandre Schwartsman. Lilian Guimarães, indicada por Fábio Barbosa, continua no cargo de vice-presidente executivo de Recursos Humanos.
Análise do mercado
O jornal O Estado de S.Paulo ouviu um executivo próximo ao banco, para quem “essas mudanças indicam que a matriz pretende turbinar sua atuação no varejo, área em que o Santander perdeu espaço para Bradesco e Itaú, seus principais concorrentes, nos últimos tempos”.
Conforme a reportagem, “depois que o Santander levantou R$ 14,1 bilhões na sua abertura de capital, no final de 2009, o mercado esperava que o banco adotasse uma estratégia mais agressiva de crescimento no Brasil. No entanto, por causa da crise financeira mundial no ano anterior – e que bateu forte na Espanha -, o banco preferiu ser mais conservador e acabou crescendo menos que os concorrentes”.
Ainda de acordo com o jornal, “no ano passado, enquanto Bradesco e Itaú cresceram em torno de 20% na área de crédito, o Santander avançou 15%, segundo executivos do mercado. Eles afirmam que o banco perdeu força, em grande medida, por ter status de subsidiária no Brasil – enquanto seus principais rivais só operam localmente”.
Mensagem aos funcionários
Portela explica que as mudanças dão “sequência à construção do mais eficiente e melhor banco no Brasil”. Ele aponta quatro objetivos, na seguinte ordem: “1) o melhor banco em retorno para o acionista; 2) o melhor banco em satisfação do cliente; 3) o melhor banco para se trabalhar; e 4) a marca mais admirada no Brasil”. Cada um desses objetivos está muito longe de ser realidade.
Depois de anunciar os novos executivos, Portela afirma que “a partir de agora, temos uma oportunidade única para aumentar nossa rentabilidade, ganhar fatia de mercado e valorizar o trabalho em equipe, promovendo um clima de trabalho cada vez melhor entre todas as áreas de nossa organização”.
“Vamos, cada vez mais juntos, buscar permanentemente a satisfação de nossos clientes, melhor qualidade em nossos produtos e serviços e resultados crescentes e sustentáveis”, ressalta o novo presidente. “Estou confiante que com nossas lideranças ainda mais engajadas e as equipes mais motivadas, os bons resultados virão em benefício de todos: funcionários, clientes, fornecedores, acionistas e a sociedade em geral”, conclui Portela.
Avaliação da Contraf-CUT
A Contraf-CUT ressalta que o Brasil contribuiu com mais de um terço do lucro do Santander em 2010. Nenhum país somou tanto para o lucro do banco no mundo. A participação da Espanha caiu de 26% em 2009 para 15% no ano passado. Nesta sexta-feira, dia 4, o Banco Central da Espanha estimou que a recuperação da economia do país seguirá em marcha lenta em 2011.
“Isso mostra que as mudanças na diretoria visam ampliar ainda mais os resultados no Brasil para compensar as dificuldades na Espanha, em razão da crise financeira que ainda não foi superada”, afirma o secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr.
Para ele, “o lucro do Santander no Brasil não pode ser comparado numericamente com os concorrentes, pois existem muitas diferenças entre eles”. Conforme dados do Dieese, o Santander lucrou R$ 7,382 bilhões com 2.394 agências e 54.406 funcionários.
“Os principais concorrentes possuem mais agências e funcionários”, observa o diretor da Contraf-CUT. O Bradesco lucrou R$ 10,022 bilhões com 3.628 agências e 95.248 funcionários. Já o Itaú Unibanco lucrou R$ 13,323 bilhões com 3.723 agências e 108.040 funcionários.
“Se o banco espanhol quiser aumentar seus resultados, ele precisa ampliar a rede de agências, contratar mais funcionários e melhorar o atendimento aos clientes”, salienta Ademir. “Para tanto, é fundamental acabar com as metas abusivas e as práticas antissindicais, combater o assédio moral e oferecer condições dignas de trabalho”, defende o dirigente sindical. “Os funcionários já estão trabalhando no limite e não suportam novas cobranças”, alerta.
Na avaliação da diretor da Contraf-CUT, “o banco somente atingirá os seus quatro objetivos, quando respeitar os direitos dos trabalhadores, dialogar com o movimento sindical e valorizar os seus funcionários da ativa e aposentados”. Para Ademir, “se não fizer isso, o marketing ‘Vamos fazer juntos’ soará como mais uma peça de propaganda enganosa”.
“Enfim, queremos que o Santander respeite o Brasil e os brasileiros”, conclui o dirigente sindical.