A Contraf-CUT defendeu a realização de acordo marco global com o Santander, BBVA, Repsol, Endesa e Gas Natural-Fenosa, a exemplo da Telefónica, que já firmou esse instrumento com a UNI Sindicato Global Union e que busca estender direitos fundamentais aos trabalhadores em todos os países. A defesa foi feita durante o 2º Encontro de Sindicatos de Transnacionais Espanholas, ocorrido de terça a quinta-Feira, dias 1º, 2 e 3 de junho, em Bogotá, capital da Colômbia.
O evento foi promovido através dos convênios entre UNI Américas Global Union, Instituto Sindical de Cooperação e Desenvolvimento (ISCOD), da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Espanha, Federação Internacional de Sindicatos dos Químicos, Energia, Minas e Indústrias Diversas (ICEM) e Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID). A coordenação foi do diretor da UNI Américas, José Molina.
Participaram 25 entidades sindicais que representam trabalhadores dessas seis empresas em nove países: Brasil, Espanha, Colômbia, Chile, Argentina, Guatemala, Nicarágua, Paramá e Peru, totalizando mais de 50 dirigentes. O encontro foi realizado na Colômbia, como forma de mostrar solidariedade internacional aos sindicatos colombianos, que têm sido vítimas do autoritarismo do governo neoliberal Uribe, inclusive com mortes de sindicalistas.
“Queremos acordos globais para garantir o direito à sindicalização, à livre organização sindical e à negociação coletiva em todo mundo, dentre outros itens, como forma de defender os direitos dos trabalhadores e frear a onda de perseguições, a fim de que sejam respeitadas as lutas por remuneração digna, melhores condições de trabalho, proteção à saúde do trabalhador e combate à terceirização e à precarização do trabalho”, destacou o funcionário do Santander e secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr, que representou os bancários brasileiros.
A diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações de São Paulo (Sintetel), Cristiane do Nascimento, frisou que o acordo global com a Telefónica trouxe avanços no Brasil. “Hoje nós podemos dialogar com os novos funcionários, explicar o que é o sindicato e apresentar a ficha de sindicalização, o que antes não era possível”, comparou. “Entretanto, como em qualquer acordo, é preciso fiscalizar o cumprimento pela empresa”, observou.
“O acordo global é um instrumento útil para obrigar pela via pacífica e democrática a respeitar os direitos dos trabalhadores”, enfatizou o secretário-geral da UNI Américas, o chileno Raul Requeña.
Os participantes também puderam expor as inquietações e inconformidades em relação às estratégias das empresas espanholas na relação sindicato, trabalhadores e empresa. Segundo o secretário internacional da UGT, o espanhol Joseba Echevarría, “na América Latina se violam os direitos sindicais e a lista é extensa”.
Criação de fóruns de discussão entre dirigentes sindicais
“O encontro também ampliou a troca de experiências e a organização internacional dos trabalhadores. Além do trabalho das redes sindicais já existentes, como no Santander e no BBVA, foram criados fóruns de discussão por empresas, que tratarão de diversos temas, buscando o intercâmbio de informações, aprofundar o conhecimento e fazer ações sindicais conjuntas para avançar as lutas nas transnacionais espanholas”, salientou o diretor regional da UNI Américas, o brasileiro Márcio Monzane.
Em relação ao Santander, os dirigentes sindicais indicaram como temas de discussão a subcontratação, a legislação e os direitos sindicais, a igualdade de oportunidades priorizando a questão de gênero, e a regulação do sistema financeiro. Como ações concretas, eles apontaram a formação de uma rede social para discutir os acordos com o banco em cada país, a valorização das aposentadorias e a contratação da renda variável.
Trabalhadores não aceitam pagar a crise da Espanha
A crise europeia foi tema de calorosos debates. O que significa para as transnacionais espanholas? Serão as Américas um refúgio para equilibrar as ganâncias dos capitalistas? Que impacto podem ter algumas políticas de ajuste à crise nos trabalhadores da Espanha e das Américas?
Esses e outros questionamentos provocaram análises dos participantes, todos preocupados com os efeitos da crise. “Os trabalhadores, que não foram responsáveis pela crise, não aceitam pagar essa conta”, apontou Márcio Monzane. “É preciso ocorrer uma reforma estrutural nos países europeus, bem como uma regulação do sistema financeiro”, defendeu o dirigente da UNI Américas.
“Os trabalhadores das Américas, que hoje produzem quase a metade dos lucros da maioría das transnacionais espanholas, não podem ser sacrificados pela ganância dessas instituições para compensar eventuais perdas de resultados na Espanha. As metas já são abusivas e o número de adoecidos no trabalho não para de crescer”, registrou Ademir.
Solidariedade aos dirigentes sindicais da Colômbia
O assassinato de líderes sindicais na Colômbia também foi objeto de debates. Raul Requeña se mostrou preocupado e disse que “é alarmante, há uma permanente deterioração das condições laborais de muitos trabalhadores sindicalizados, seguimos vendo perseguição do movimento sindical, com informações de morte de sindicalistas, unicamente por defenderem os direitos fundamentais. Isso segue configurando um panorama desolador e o mundo segue vendo a Colômbia como um dos países mais perigrosos para exercer o papel de dirigente sindical”.
O brasileiro Sérgio Novais, coordenador da Confederação Nacional do Ramo Químico e presidente regional para a América Latina e Caribe da ICEM, disse que “buscamos que as empresas transnacionais tenham o mesmo comportamento em sua casa matriz como na América Latina”. Para ele, “no caso específico da Colômbia, não há garantia de que os dirigentes sindicais possam exercer o seu trabalho com tranquilidade. Muitos têm que caminhar com guarda-costas, o que é um absurdo e estamos denunciando isso há vários anos”.