Diretor da Contraf-CUT, Miguel Pereira, fala durante mesa de debates
“No ramo financeiro o problema da alta rotatividade acontece com mais força aqui no Brasil. Os bancos brasileiros quando atuam em outros países não demitem como fazem aqui. Já os estrangeiros demitem muito no Brasil, mas não têm o mesmo comportamento em outros países onde atuam, mesmo onde a crise financeira diminuiu seus lucros. Ou seja, esse é um fenômeno do Brasil”, apontou Miguel Pereira, secretário de Organização do Ramo Financeiro e representante da Contraf-CUT durante o 1º Seminário sobre Rotatividade no Mercado de Trabalho, realizado nos dias 11 e 12 de março, em Brasília.
Ele foi um dos debatedores da mesa ocorrida no segundo dia sobre propostas de enfrentamento da rotatividade, formada pelas centrais sindicais e algumas confederações de trabalhadores e confederações patronais. O evento foi promovido pela Secretaria de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), chamando a atenção para o fenômeno que atinge diversas categorias de trabalhadores no país.
Entre janeiro e dezembro de 2013, os bancos contrataram 38.563 funcionários e desligaram 42.892, o que representou o corte de 4.329 postos de trabalho. A Pesquisa do Emprego Bancária (PEB), elaborada pela Contraf-CUT e Dieese, mostra também que o salário médio dos admitidos pelos bancos no período foi de R$ 2.966,47 contra o salário médio de R$ 4.731,57 dos desligados. Ou seja, os trabalhadores que entraram no sistema financeiro receberam remuneração 37,3% inferior à dos que saíram.
Redução de custos para aumentar os lucros
Miguel enfatizou que o mecanismo da rotatividade é perverso e tem sido usado pelo sistema financeiro para reduzir a folha de pagamento, a fim de aumentar ainda mais os lucros. “Os bancos privados demitem os funcionários com mais tempo de casa e fazem novas contratações com salários inferiores. Assim, os admitidos chegam à categoria recebendo cerca de 60% do salário dos desligados”, denunciou. “A insegurança no trabalho que esse tipo de política gera nos trabalhadores e maléfica”.
O dirigente da Contraf-CUT aproveitou o debate para reivindicar mais transparência nos dados fornecidos pelos empresários. “Queremos ter acesso periódico às informações por empresas, para que possamos fazer o acompanhamento real das movimentações de pessoal em tempo hábil para agir. Hoje só temos acesso às informações setoriais disponibilizadas pela RAIS, pelo CAGED e pelos balanços trimestrais e anuais das empresas, o que nos impede de ter uma visão do problema em cada banco, a tempo de tomar qualquer medida preventiva contra demissões”, frisou.
Rotatividade no país cresce de 52% a 64% em 10 anos
De acordo com dados divulgados, a rotatividade cresceu de 52% em 2003 para 64% em 2012. O ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, que participou da solenidade de abertura do seminário, destacou que o atual diagnóstico tem um lado positivo, relacionado ao crescimento da oferta de vagas. “Estamos tendo aumento na geração de emprego nos últimos anos e isso impacta numa rotatividade maior, pois o trabalhador busca sempre uma melhor colocação no mercado de trabalho, que está aquecido. Vivemos um pleno emprego”, disse o ministro.
Mas ele também destacou que o governo está preocupado com o tema, já que a rotatividade pressiona os gastos com seguro-desemprego, sobretudo tendo em mente os elevados patamares alcançados, nos setores de serviços (60%), comércio (64%), agricultura (92%), construção civil (115%) e na indústria (53%).
Livro do Dieese sobre rotatividade
Durante o seminário foi lançado pelo Dieese o livro “Rotatividade e Políticas Públicas para o Mercado de Trabalho”, com a mais completa apresentação de dados sobre a questão da rotatividade de mão de obra no Brasil.
Clique aqui para ler o estudo do Dieese.
Para Miguel, o seminário foi positivo. “Foi a primeira atividade oficial de muitas outras que teremos de provocar sobre o tema. Se é verdade que todos perdem com a rotatividade, certamente quem mais se prejudica são os trabalhadores. Os empresários continuam vendo o tema como uma questão fiscal e defendem, dentre outras coisas, a regulamentação da terceirização, com a aprovação do famigerado PL 4330. Não podemos nos descuidar com a tramitação desse projeto de lei na Câmara dos Deputados neste ano eleitoral”, ressalta.
Vários bancários participaram do seminário, como a secretária de mulheres da Contraf-CUT, Deise Recoaro, e dirigentes de sindicatos como Rio de Janeiro, Brasília, Pernambuco e Ipatinga, e federações como Fetec Centro-Norte e Fetraf-MG.