Congresso reforça união dos trabalhadores contra globalização neoliberal

Entidades sindicais e sociais estiveram reunidas na Índia de 18 a 24 de abril para o 8º Congresso da “Southern Initiative on Globalization and Trade Union Rights” (Sigtur – Iniciativa do Sul sobre Globalização e Direitos Sindicais), rede de centrais sindicais que busca discutir e apresentar diretrizes de enfrentamento da globalização nos países do hemisfério sul. Lucilene Binsfeld, presidente da Contracs/CUT, e Kjeld Jakobsen, do Observatório Social, representaram a CUT no Congresso, apresentando aos 200 delegados de 12 países do Hemisfério Sul a realidade brasileira e a experiência da Central na formação de redes de trabalhadores em multinacionais.

Em entrevista para o Portal do Mundo do Trabalho, Lucilene aponta a seguir os principais temas discutidos no congresso, que em 2010 será sediado no Brasil, sob responsabilidade da CUT. Acompanhe a entrevista:

Quais foram os principais pontos discutidos num congresso voltado especialmente aos impactos (negativos) da globalização na vida dos trabalhadores do Hemisfério Sul?
O congresso se concentrou em seis grandes temas que representam os principais problemas e desafios diagnosticados em relação à presença nefasta da globalização na vida dos trabalhadores: como enfrentar o poderio das multinacionais; as questões de migração e previdência social; Terceirização e informalidade; mulher e globalização; trabalhadores migrantes e condições de vida e o fortalecimento das relações internacionais, especialmente nas relações Sul/Sul para enfrentar a globalização.

Em relação ao enfrentamento das multinacionais, o que o congresso apontou como prioridade?
As discussões apontaram para a necessidade urgente de criação de redes de trabalhadores em multinacionais. Apresentamos ao plenário o projeto CUT/Multi, uma iniciativa da CUT em conjunto com a FNV, central sindical holandesa, no mapeamento das principais multinacionais, organização de redes e desenvolvimento de estratégias e ações unificadas para dialogar com as empresas e sempre que necessário denunciá-las. A experiência da CUT foi motivo de inúmeros questionamentos e se mostrou um dos mais bem-sucedidos trabalhos no sentido de organizar e defender os trabalhadores em multinacionais. Outro exemplo de formação de redes, veio da Coréia do Sul, onde existem as redes de trabalhadores da Hyundai (automóveis) e da Samsung (eletro-eletrônicos). Sempre que essas empresas montam uma filial em outro país, os sindicatos de lá buscam sindicatos parceiros no outro país para lutar e defender os direitos dos trabalhadores dessas multinacionais em âmbito global.

A migração aparece duas vezes entre os temas debatidos no congresso. Quais são os principais desafios nessa área?
Há dois grandes problemas sendo debatidos no momento sobre migração e globalização. Uma questão é a necessidade de se garantir uma previdência social para os trabalhadores migrantes em seus países de origem. Por exemplo, os brasileiros que trabalham no Japão: o tempo de trabalho lá não conta para aposentadoria no Brasil. Até por conta disso, o sindicato dos metalúrgicos do Japão, que estava participando conosco das atividades, entregou cópia de um documento que foi encaminhado ao governo brasileiro para a CUT ser interlocutora desses trabalhadores junto ao governo. Outro problema são as condições de vida dos migrantes que estão na ilegalidade ou mesmo dos que vão legalmente trabalhar em outro país, mas não têm os direitos mais básicos garantidos, o que é um problema muito presente no Brasil, por conta da situação dos trabalhadores na tríplice fronteira.

Que aspectos foram marcantes nessa interação com outros países?
Pudemos perceber que a atuação nefasta da globalização atinge à maioria dos países da mesma forma. Em todo lugar há retirada de direitos, precarização das relações de trabalho, com informalidade e terceirização principalmente. Há uma dificuldade geral de articulação. Em muitos países, em vez de haver união e articulação, ocorre o contrário: a fragmentação, por isso, uma das prioridades levantadas no congresso é a urgente união internacional dos trabalhadores e suas representações para enfrentar a globalização.

O próximo congresso da Sigtur será em 2010 no Brasil, organizado pela CUT. Qual a importância da CUT nas discussões sobre globalização em nível internacional?
Um dos motivos é o fato da CUT ser a maior central sindical da América Latina e a quinta maior do mundo. Mas o principal, penso que é o peso político da CUT. As posições da central e seu projeto político-ideológico têm repercussão e respeito internacional. A CUT é um elemento articulador da América Latina.

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