Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo
Nem bem o governo do Estado de São Paulo assinou o memorando de entendimentos para a venda do banco estadual Nossa Caixa para o Banco do Brasil (BB), quinta-feira passada, e seus 5,7 milhões de clientes já estão sendo fortemente assediados pelos gerentes de outros bancos – inclusive do próprio BB. “Os gerentes do BB são os mais contundentes dada sua experiência na área comercial”, disse o presidente da Nossa Caixa, Milton Luiz de Melo Santos, que está contra-atacando.
“Entendo que os gerentes têm suas metas. Eles tentam atrair o cliente dizendo que podem antecipar a transferência das contas já que elas passarão mesmo para o BB. Mas não quero que a operação confunda os clientes. Tenho ainda que fechar dois trimestres e compromisso com os clientes e acionistas. Quero entregar o banco inteiro, melhorar a rentabilidade e o atendimento”, disse Melo Santos, comparando sua tarefa à do participante de uma corrida de revezamento.
Para contornar o problema, Melo Santos recomendou a seus gerentes que esclarecessem os clientes que “nada muda”, tanto em suas contas, cartões e outros produtos. Quando a aquisição se concretizar, provavelmente em março de 2009, os clientes “serão beneficiados por ter acesso a taxas e tarifas competitivas. Com o BB, seus benefícios serão ampliados”, afirmou o presidente da Nossa Caixa. A mesma mensagem é transmitida a funcionários e fornecedores.
O cronograma da operação de compra apresentado pelo próprio Banco do Brasil prevê que a venda será aprovada pela Assembléia Legislativa ainda neste ano; e que a primeira parcela do pagamento vai ocorrer em março em troca da entrega das ações. Será então convocada a assembléia de acionistas para nomear o conselho de administração que indicará os novos dirigentes. A integração total deve levar um ano e depende da fusão da área de tecnologia da informação.
O presidente da consultoria Roland Berger, Paul Gruppo, afirmou que o maior desafio de uma empresa na situação da Nossa Caixa é exatamente manter a base de clientes e os negócios intactos. Grandes projetos são naturalmente suspensos. “Se houver problema de qualidade de serviços e motivação dos funcionários, os negócios poderão diminuir e alguns clientes sair, o que afeta a base econômica da transação feita. Os concorrentes vão vir pra cima. Isso é esperado. O que é uma surpresa é o assédio do pessoal do próprio BB”, afirmou Gruppo.
Para o especialista, é necessário um plano de comunicação “robusto” para enfrentar o problema de modo a tranqüilizar clientes e também o público interno, preocupado com demissões.
Enquanto isso, Melo Santos toca os projetos já encaminhados. Um deles é a compra de carteiras de bancos pequenos e médios. Até outubro, a Nossa Caixa comprou R$ 1,4 bilhão em carteiras de crédito de outros bancos. Nos dois últimos meses do ano deve adquirir mais R$ 1 bilhão. E, já tem acordo para comprar mais R$ 1,5 bilhão em 2009, ao ritmo de R$ 150 milhões por mês. “Agora, a liquidez está melhorando e os bancos não querem mais vender carteira”, disse Melo Santos, lembrando também a desaceleração econômica reduz as operações de crédito.
A Nossa Caixa deve liberar nesta semana R$ 600 milhões dentro do programa de R$ 4 bilhões de apoio aos bancos de montadoras. Em dezembro, sairão os R$ 700 milhões referentes a 20% do valor da outorga dos cinco trechos de rodovias estaduais recentemente licitados para os consórcios vencedores.
Além disso, o banco implementa os programas Pró-trator, que vai financiar a venda de 6 mil tratores para pequenos produtores, com recursos subsidiados pela Secretaria da Agricultura; e o programa que vai subsidiar a compra de computadores portáteis para professores, com juros cobertos parcialmente pela Secretaria de Educação, que já tem 87 mil professores inscritos.