A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo divulgou nesta terça-feira (10) documento no qual reúne informações que reforçam a hipótese de que o presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), morto em agosto de 1976, foi assassinado.
No documento, o presidente da comissão, vereador Gilberto Natalini (PV-SP), declarou que JK foi vítima de um assassinato ordenado pelo regime militar (1964-1985). “A comissão declara o assassinato de Juscelino Kubitschek de Oliveira, vítima de conspiração, complô e atentado político na rodovia Presidente Dutra em 22 de agosto de 1976”, afirma o relatório apresentado por Natalini.
A Comissão reuniu 90 indícios para sustentar a versão de que o presidente foi morto por autoridades do regime militar. A versão oficial é que JK teria morrido em um acidente de carro com um caminhão após ser desviado por um ônibus de viagem na rodovia Presidente Dutra, perto de Resende, no Estado do Rio de Janeiro.
Novos indícios
O relatório compila fatos apurados ao longo dos quase 40 anos que sucederam a morte do ex-presidente. Algumas das provas foram obtidas em depoimentos feitos à comissão desde março deste ano.
Algumas das provas são inéditas. Uma delas é o depoimento do motorista aposentado Ademar Jahn, que conduzia um caminhão na rodovia Presidente Dutra no dia 22 de agosto de 1976 e presenciou o acidente com o veículo de JK.
Segundo o relatório, Jahn afirmou ter visto o motorista de JK, Geraldo Ribeiro, “debruçado, com a cabeça caída entre o volante e a porta do automóvel, não restando dúvida (…) de que o condutor se encontrava desacordado e inconsciente, e já não controlava o veículo, antes do impacto”.
O depoimento de Jahn é mais um reforço à suspeita de que Geraldo Ribeiro foi atingido por um tiro antes da colisão do automóvel, o que seria a verdadeira causa de sua morte. No mês de novembro, Natalini se reuniu com o secretário de Defesa Social de Minas Gerais, Rômulo de Carvalho Ferraz, para solicitar uma nova perícia de um fragmento metálico encontrado no crânio de Geraldo Ribeiro.
O relatório apresentado hoje afirma que o secretário estadual enviou um ofício à comissão dizendo que “não foi localizado o laudo original e materiais solicitados (fragmento metálico)”.
“Conforme as autoridades de Minas Gerais, portanto, estavam desaparecidos das dependências da Polícia Civil tanto o laudo oficial com o resultado da exumação da ossada de Ribeiro (…), quanto a análise original do fragmento metálico, de 1996”, afirma o relatório. Essa perícia havia concluído que o fragmento metálico era um prego do caixão de Ribeiro.
Depoimentos
Um dos depoimentos mais importantes feitos pela Comissão da Verdade de São Paulo neste ano foi o do motorista Josias Nunes de Oliveira, 69, que dirigia o ônibus que teria sido responsável pelo acidente com o Opala de Juscelino Kubistchek.
Em outubro, Oliveira disse em depoimento à Comissão da Verdade que recebeu oferta com uma mala de dinheiro para que assumisse na época a culpa pela tragédia.
Segundo Oliveira, cinco dias depois do acidente, ele foi procurado em sua casa em São Paulo por dois homens. “Eram dois cabeludos, que vieram em uma moto e se identificaram como repórteres. Eles disseram que se eu assumisse a culpa, receberia a mala cheia de dinheiro. Eu vi a mala, cheinha de dinheiro. Mas não assumi, pois não tinha a menor culpa.”
Também foi considerado o depoimento do perito criminal Alberto Carlos de Minas, que disse ter visto “um furo no crânio” de Geraldo Ribeiro.
Conclusão
A comissão concluiu que o motorista Geraldo Ribeiro foi morto com um tiro e já estava desacordado quando colidiu com um caminhão que vinha em sentido contrário na rodovia fluminense.
A comissão também apresentou provas de que o Opala fez uma parada em um hotel-fazenda de propriedade do brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte três minutos antes do acidente.
Villa-Forte foi um dos criadores do SNI (Serviço Nacional de Informações) e era próximo ao general Golbery do Couto e Silva e a João Baptista Figueiredo, general chefe do SNI à época da morte de JK. Couto e Silva e Figueiredos foram apontados pelo presidente da comissão como responsáveis pela morte do presidente.
Segundo Natalini, a comissão encaminhará o relatório de provas à Presidência da República, ao Senado Federal, ao STF (Supremo Tribunal Federal) e à Comissão Nacional da Verdade a fim de que o assassinato de JK seja reconhecido oficialmente pelo Brasil.
“Enquanto a ditadura tenta ocultar provas, a democracia vem para reconstituir a verdadeira história. O relatório não deixa dúvida de que a morte de Juscelino foi causada por um assassinato covarde”, disse Ricardo Young (PPS), um dos vereadores que assinou o relatório produzido pela comissão.