FOLHA DE SÃO PAULO
DIMMI AMORA
ANDREZA MATAIS
O número de passageiros de avião superou neste ano o de viajantes de ônibus interestaduais pela primeira vez. É o que mostram números pesquisados pela Folha.
Em 2010, o país registrou 66 milhões de passageiros de avião em ligações entre Estados -maior número já alcançado pela aviação. Nos dois primeiros meses de 2011 já houve crescimento de cerca de 10% ante o ano passado.
Pesquisa da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) à qual a Folha teve acesso mostra que o número de passageiros de ônibus foi próximo de 67 milhões em 2010. Com a tendência de queda desde 2003, o número não deve se repetir.
A pesquisa foi encomendada à Fipe-SP pela ANTT para avaliar o número de passageiros, dado que será usado no processo de licitação das linhas, prevista para este ano. Segundo a ANTT, as empresas de ônibus têm informado número de passageiros cerca de 38% menor que a quantidade encontrada no levantamento da Fipe.
De 2002 a 2010, o número de passageiros de avião cresceu 115%, e o de passageiros de ônibus informado pelas empresas caiu 31%.
A Gol diz que hoje 47% de seus passageiros são das classes C e D.
Boa parte veio do ônibus. Para ganhar ainda mais mercado nessas classes, a empresa financia passagens em até 36 vezes e tem postos no Metrô paulista.
Estudo da Gol verificou que de 5% a 10% dos seus passageiros voaram pela primeira vez com a empresa.
A melhoria da renda dos brasileiros, principalmente a partir de 2007, aliada a condições favoráveis para a aviação (dólar barato e não pagamento de ICMS, presente nas passagens de ônibus), é apontada como a responsável pela mudança.
Segundo o diretor-geral da ANTT, Bernardo Figueiredo, “o ônibus era imbatível porque não tinha concorrência. Agora, ele está voltando para o mercado dele, que são as ligações até 500 quilômetros”.
A queda do número de passageiros é visível e admitida pelas próprias empresas. Nos terminais pelo país, linhas que tinham cinco saídas por dia, por exemplo, passaram a ter uma. As ligações de longa distância (mais de mil quilômetros) são as mais afetadas.
Renan Chieppe, presidente da Abrati, associação que congrega as empresas de ônibus, diz que as empresas passaram a operar em linhas em que são mais competitivas e, por isso, não tiveram queda no faturamento.
Mas lembra que, mesmo nas longas distâncias, o ônibus ainda é necessário.
“Nos períodos de pico, como Carnaval e Natal, temos a condição de aumentar em seis vezes ou mais a capacidade de passageiros, o que o avião não consegue.”