A luta pela democracia está expressa também na solidariedade que marca o Acampamento Nacional realizado por trabalhadores do campo e da cidade no estacionamento do ginásio Nilson Nelson, em Brasília. Logo após a campanha para receber donativos lançada pela CUT Brasília, a tenda branca de 30 m² recebe, a todo momento, itens alimentícios, roupas, lençóis, cobertores, água e, principalmente, muito amor e solidariedade.
“Estou surpreso, pois a gente está recebendo muitos donativos. Hoje mesmo a gente recebeu mais de uma tonelada de alimentos na nossa cozinha. Isso é muito gratificante! A gente fica até sem palavras diante de tanta solidariedade”, conta José Paulino dos Santos, do Sindicato dos Condutores de Sorocaba (SP), mas que, desde o início do acampamento, é o coordenador de cozinha voluntário de uma das cozinhas-depósito montadas há uma semana para preparar as refeições aos militantes que todos os dias chegam às centenas e agora aos milhares de todos os pontos do país ao estacionamento.
Ao todo, o acampamento conta com 14 cozinhas, todas elas com trabalhadores voluntários que têm funções variadas: transporte de donativos, organização dos itens, preparo da alimentação. E o serviço não é pouco. Só no almoço desta sexta-feira (15), na cozinha-depósito coordenada por José Santos, foram preparados 80kg de carne, 10kg de macarrão, 5kg de farofa e 5kg de legumes, o suficiente para alimentar, em média, 400 pessoas.
Na linha de frente do voluntariado, três gerações da família Mustafa: Fátima, sua filha, Viviane, e o neto Igor, de apenas 4 anos. “Tô dura, tô sem grana, mas posso ajudar com a minha mão de obra”, disse Fátima Mustafa. Ela conta que valorizar a luta conjunta em defesa de conquistas sociais é uma lição ensinada desde cedo em sua casa. “Viviane, quando era criança, montou um comitê com 40 crianças na campanha de Lula”, conta orgulhosa. “Minha mãe é uma mulher guerreira e minha maior inspiração. Por isso, desde cedo, estou na esquerda”, fala orgulhosa. Já Igor, um tanto tímido, disse: “eu ajudo em casa também. Hoje carreguei arroz, feijão e macarrão”. Mais familiarizado com a entrevista, ele resolveu cantar a música que, segundo ele, é de autoria própria: “não vai ter golpe, vai ter luta. Não vai ter golpe, vai ter Dilma”.
Para a engenheira Márcia Kumer, que trouxe doações todos os dias ao acampamento, “o medo de não conseguir construir um país para todos” é o principal motivador para que ela colabore com os acampados no estacionamento do Nilson Nelson. Para Márcia, não se trata de um ato de caridade, mas sim de “partilha”.
“As pessoas que estão aqui abriram mão de suas casas, de suas vidas, para garantir a democracia, para garantir que não tenha golpe. As doações são uma forma de estar junto com essas pessoas, de estarmos unidos, de fortalecermos a luta. Estamos todos envoltos por um grande sofrimento, querendo que o Brasil seja construído para todos. E a gente percebe que tem um grupo que quer um país para si mesmo. Temos que estar unidos para fazer frente a esse grande desafio”, acredita. Tentando esconder as lágrimas, ela comenta: “Em Brasília, temos uma elite e, vira e mexe, passa ao meu lado essas grandes caminhonetes com bandeira do Brasil. Mas essas mesmas pessoas agridem e excluem os grupos sociais excluídos”.
O acampamento receberá doações até domingo. Além de alimentos e água, as pessoas podem colaborar com lençol, colchão, cobertores, itens de higiene pessoal. As doações poderão ser entregues na sede da CUT Brasília (SDS, Venâncio V, subsolo) ou no próprio acampamento. Quem preferir também pode depositar qualquer quantia na conta da CUT Brasília, na Caixa Econômica Federal, Ag: 0002, Op. 003, c/c: 4668-5, CNPJ: 60. 563. 731/0004-10.