(São Paulo) Segundo matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo, a cobrança de tarifas já representa 20% das receitas dos bancos, contra 6,5% que representavam em 1994. Em 2006, esse percentual saltou já saltara para 17,7%, patamar recorde no período. Estudo feito pela consultoria Austin Rating, a pedido da Folha, mostra ainda que, se forem considerados apenas os dez principais bancos, esse percentual é ainda maior, alcançando 19,7% no ano passado.
Em 2006, as receitas com serviços bancários em todo o sistema financeiro totalizaram R$ 52,84 bilhões, o que representou uma elevação de 734,7% em relação ao registrado em 1994. No período, a inflação acumulada pelo IPCA foi bem inferior, de 157%. Levantamento citado pelo jornal e realizado pelo economista Miguel José Ribeiro de Oliveira mostrou que, entre 2001 e 2006, grande parte das instituições vem reajustando suas tarifas com índices superiores aos de inflação.
O efeito desses aumentos é que, no começo do plano Real, cerca de 40% das despesas com pessoal eram cobertas com a receita de serviços. No ano passado, esse percentual chegou a 115%: pagou-se toda a folha e ainda sobraram recursos.
Ouvido pelo jornal, Erivelto Rodrigues, presidente da consultoria Austin Rating, credita a mudança a uma “grande transformação na indústria bancária”. “Até o início do Real, os bancos ganhavam muito dinheiro com o custo inflacionário. Na última década, a receita com serviços bancários foi ampliando sua importância no resultado dos bancos. E ainda há espaço para essa expansão prosseguir, com novos serviços que passam a ser taxados”, afirma. Ou seja, se antes os bancos lucravam com a inflação que corroía os salários dos trabalhadores, agora atacam diretamente o bolso do consumidor.
A Federação Brasileira de Bancos, Febraban, credita o aumento da receita com tarifação a um crescimento da base de clientes e não vê “nada de anormal”. No entanto, o economista Marcus Sanches, da subsede do Dieese na Contraf-CUT, rebate a afirmação com dados da própria federação patronal. Segundo ele, em 2001 o total de contas correntes era de 71,5 milhões e em 2006 era de 102,6 milhões, aumento de 43,5%. Já as receitas com prestação de serviços eram em 2001 R$ 21 bilhões e em 2006 R$ 48 bilhões, crescimento de 128,57%. “Ou seja, o crescimento da receita com prestação de serviços foi quase três vezes maior que o crescimento da abertura de contas”, explica Sanches.
O secretário-geral da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, lembra que, mesmo com todas essas tarifas, cada vez mais é o próprio cliente que realiza suas transações, por meio de terminais de auto-atendimento, internet e outros mecanismos criados pelos bancos para expulsar as pessoas das agências, como o mau atendimento e as filas. “Temos tratado desse tema já há alguns anos em nossas campanhas nacionais, buscando o melhor para clientes e bancários. Essa exploração que os bancos fazem com os clientes é absurda”, analisa.
Fonte: Contraf-CUT, com informações da Folha de S.Paulo