Valor Econômico
Luis Ushirobira
Colaboração de Eduardo Laguna
O Seabra Market, na pequena Pompano Beach, no estado americano da Flórida, tem uma seção específica só para produtos do Brasil. “Clientes brasileiros não faltam. São muitos por aqui”, disse a atendente que se identificou como Priscila, por telefone, ao Valor. Em breve, o mercadinho terá como vizinha uma agência do Banco do Brasil.
É de olho justamente nos clientes típicos do mercadinho, cujos donos são portugueses, que o BB anunciou na tarde de ontem a compra do EuroBank, banco com três agências na região de Miami, por US$ 6 milhões.
Durante a entrevista coletiva para anunciar a aquisição do EuroBank, em São Paulo, executivos do BB mostraram uma fotografia do mercadinho Seabra, ao lado da agência do Eurobank, e informaram que aquele era um ponto de referência para a comunidade brasileira na região.
O porte do banco adquirido e o investimento feito são tímidos, mas o Banco do Brasil justifica que a intenção é crescer. O banco vai investir US$ 25 milhões em três anos para expandir a rede de atendimento do EuroBank.
A meta do BB é elevar a rede para 20 pontos nos próximos cinco anos, diz Allan Toledo, vice-presidente de negócios internacionais do Banco do Brasil.
O banco federal considera tanto o crescimento orgânico quanto novas aquisições para cumprir a meta.
“O mercado americano é um pouco diferente do mercado brasileiro. Lá você pode adquirir agências e não precisa necessariamente adquirir o banco como um todo.”
Outras regiões com forte presença da comunidade brasileira – como Nova York, Massachusetts e Nova Jersey – devem ser as próximas a receber agências do Banco do Brasil.
Os investimentos previstos incluem ainda aportes na adequação de agências existentes, uma vez que a marca do EuroBank será extinta, dando lugar à identidade visual do banco brasileiro.
Segundo Toledo, o banco vê a possibilidade de chegar a 25% da comunidade brasileira residente nos Estados Unidos a partir da nova operação. Isso significa algo em torno de 375 mil clientes. Quer também brigar pela conquista de clientes hispânicos, comunidade com mais de 41 milhões de pessoas no país.
A ideia é repetir a experiência do banco no Japão, onde a instituição financeira já tem sete agências e 125 mil clientes – um terço da população brasileira no país asiático.
O BB espera ter o aval à compra do EuroBank pelos órgãos reguladores nos EUA e no Brasil em um prazo de quatro a seis meses.
Antes de fechar com o EuroBank, o Banco do Brasil listou mais de 700 bancos como alvos de aquisição nos Estados Unidos, desde junho de 2009. No fim, o foco se direcionou a três bancos, mas apenas as negociações com o EuroBank evoluíram.
O momento é propício para entrar no mercado bancário americano, dada a valorização do real ante o dólar e o estado ainda debilitado das instituições financeiras dos EUA. Desde 2008, ano de início da crise financeira que levou gigantes financeiros à falência, 47 bancos pequenos do estado da Flórida fecharam, segundo a FDIC, agência federal de supervisão do setor, que também garante os depósitos de correntistas.
De acordo com Toledo, a participação das filiais estrangeiras no lucro do BB deverá chegar a 9% em cinco anos. Hoje, essa fatia é inferior a 1%, afirmou o executivo.
Os números do Eurobank são modestos. Com agências em Pompano Beach, Boca Raton e Coral Gables, o banco tem cerca de 1,3 mil clientes entre pessoas físicas e jurídicas, uma carteira de crédito que totaliza US$ 74,8 milhões e ativos que somam US$ 102,1 milhões. Das cerca de 1,8 mil contas abertas no banco, 75% delas são de pessoas físicas.
Antes de ser comprado pelo BB, o Eurobank tinha 19 sócios, entre angolanos, portugueses e americanos. Hoje o banco de 28 funcionários atende principalmente à comunidade de imigrantes da região, e oferece atendimento em português e espanhol, além do inglês.
Em breve, os clientes do Seabra Market que resolverem entrar na agência do Banco do Brasil poderão optar por um cartão de crédito do banco, abrir contas corrente e de poupança, fazer aplicações e abrir contas jurídicas para obtenção de empréstimos. “O foco é incentivar micro e pequenos empresários brasileiros residentes”, disse Toledo.