David Enrich, Matthew Karnitschnig e David Luhnow, The Wall Street Journal, de Nova York e da Cidade do México
Depois de se descartar da corretora Smith Barney, alguns executivos do Citigroup Inc. pensam agora no que fazer com outra jóia da coroa.
Executivos do grupo nova-iorquino estão ponderando, com relutância, a possibilidade de vender sua subsidiária mexicana, o Grupo Financiero Banamex, se a situação financeira do Citigroup continuar se deteriorando, segundo pessoas a par do assunto.
Oficialmente, o Citigroup não está cogitando vender o banco mexicano, e afirma que este tem um futuro brilhante como parte de um Citi mais enxuto. Mas depois de amargar um prejuízo líquido de US$ 28,55 bilhões nos últimos cinco trimestres e sofrer pressão do governo americano para continuar encolhendo, o Citi está analisando quais partes do grupo poderiam ser descartadas para gerar caixa, se necessário, segundo as mesmas fontes.
Foi uma lógica semelhante que motivou o acordo, assinado no mês passado, para desmembrar sua divisão de corretagem Smith Barney e colocá-la em uma joint venture com o banco rival Morgan Stanley, gerando um pagamento de US$ 2,7 bilhões para o Citigroup.
Banqueiros de investimento avaliam que o Banamex, que respondeu por cerca de metade dos lucros totais de 2007 do Citigroup, de cerca de US$ 3,6 bilhões, poderia alcançar pelo menos US$ 9 bilhões se fosse vendido.
Possíveis interessados contataram o Citigroup expressando interesse em comprar o Banamex, mas o Citi recusou essas ofertas, segundo as mesmas fontes. Além disso, representantes de abastadas famílias mexicanas viajaram para Nova York recentemente, em busca de financiamento para fazer uma oferta caso o Citigroup coloque o Banamex à venda, segundo outras pessoas familiarizadas com o assunto.
Jon Diat, porta-voz do Citigroup, disse que “o Citi não tem intenção de vender o Banamex”, o qual está “no centro dos nossos negócios principais no futuro”.
Com raízes que remontam a 1884, o Banamex tem hoje 2005 agências em todo o México, e está em segundo lugar no país em ativos, atrás do BBVA Bancomer. Em 2001, o Citigroup pagou US$ 12,5 bilhões para comprar o Banamex, tornando-se assim o único grande banco americano com uma respeitável presença no México.
Com sua força como banco comercial e de varejo, oferecendo todos os serviços bancários em um mercado emergente, o Banamex vem demonstrando ser uma rara fonte de lucros para Vikram Pandit, desde que este assumiu o cargo de diretor-presidente do Citigroup, em dezembro de 2007.
“Vamos exportá-lo para o mundo todo”, disse Pandit em maio, referindo-se ao modelo de negócios do Banamex.
Com o enfraquecimento da economia mexicana, a iniciativa do banco de oferecer cartões de crédito e outros tipos de financiamento para cidadãos mexicanos de baixa renda acabou fazendo com que o Banamex sofresse com o aumento da inadimplência. Mesmo assim, executivos do Citigroup e analistas do setor continuam considerando o Banamex uma verdadeira jóia. O banco deve divulgar seus resultados de 2008 hoje.
“Estou muito confiante de que eles não querem vender o Banamex”, diz Jeffery Harte, analista bancário do banco de investimento americano Sandler O’Neill & Partners LP. Mas se os prejuízos continuarem piorando no Citigroup e o governo americano aumentar a pressão sobre o banco, “os ativos mais procurados são, justamente, os mais fortes”.
John McDonald, analista bancário da corretora Sanford C. Bernstein & Co., diz que vale a pena lembrar que o Citi já tinha garantido que não venderia a Smith Barney, mas depois “deu meia volta”.
“Não sei o que vai predominar: a necessidade que eles têm de capital ou o planejamento estratégico”, diz o analista.
Outro fator que complica a situação é que o diretor-presidente do Banamex e um ex-proprietário do banco, que é um dos conselheiros do Citigroup, já expressaram, em caráter privado, sua frustração com a liderança de Pandit, segundo pessoas que conversaram com esses dois executivos.
Manuel Medina Mora, que dirige todas as operações do Citigroup na América Latina, e Roberto Hernández, o conselheiro, já disseram que acreditam que o Banamex estaria em melhor forma se não fizesse parte do Citigroup.
Nas últimas semanas houve especulações, dentro do Citigroup, de que Medina Mora, Hernández e outro ex-proprietário do Banamex, Alfredo Harp, estariam tentando conseguir financiamento para fazer uma oferta pelo banco mexicano. Isso provavelmente não seria fácil, em vista das condições precárias dos mercados de capital.
“Nego enfaticamente que esteja procurando levantar fundos para comprar o Banamex”, afirmou Medina Mora em uma declaração por escrito.
Hernández qualificou os rumores sobre uma oferta como “completamente falsos e sem fundamento”, e Harp os descartou como “absolutamente falsos”.
Medina Mora definiu sua relação com a diretoria do Citigroup, baseada em Nova York, como “próxima e efetiva”. Diat, o porta-voz, disse: “Estamos extremamente satisfeitos com a nossa sólida relação de trabalho com Manuel e toda a equipe do Banamex”.
Uma venda do Banamex provavelmente atrairia o interesse de bancos latino-americanos, europeus e até mesmo americanos. Analistas do setor sugerem o Banco Itaú e o britânico HSBC Holdings PLC como possíveis candidatos.
Os executivos do Citigroup afirmam que considerariam vender o Banamex apenas se este conseguisse um alto preço, e se o Citi pudesse participar dos futuros lucros dessa divisão.
Mesmo assim, o Citigroup teria desafios logísticos menos complicados ao vender o Banamex do que seria o caso com outras divisões. O Banamex opera principalmente como entidade independente e não está plenamente integrado às outras operações bancárias do Citigroup. Em contraste, divisões lucrativas do Citigroup, tais como a de cartões de crédito e a de serviços para transações, estão intrinsicamente ligadas a outras partes do banco.