Repórter foi atingido quando cobria manifestação na Central do Brasil
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro emitiu uma nota pública sobre o caso do repórter cinematográfico Santiago Andrade, que teve morte cerebral decretada nesta segunda-feira (10).
Leia a Nota:
Independentemente de onde tenha partido o artefato explosivo que feriu gravemente o repórter cinematográfico Santiago Ilídio Andrade, que trabalha na TV Bandeirantes, em protesto na Central do Brasil contra o aumento das passagens de ônibus, nesta quinta-feira (06/02), as imagens revelam que o profissional, assim como a maioria dos jornalistas atuantes nas coberturas de manifestações desde junho passado, não estava preparado para enfrentar um risco como esse. Os trabalhadores da imprensa sofrem hoje com a falta de equipamentos básicos de proteção individual, como máscara antigases e capacete, que deveriam ser fornecidos pelas empresas. Também não há logística adequada ou mesmo equipe de apoio. Esse quadro ocorre em uma conjuntura mais ampla, na qual o Estado não cumpre o dever de garantir a segurança dos trabalhadores e da sociedade.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro tem cobrado, desde junho do ano passado, dos sindicatos patronais, diretamente das empresas e das autoridades da Segurança Pública estadual ações concretas contra a violência que tem atingido duramente a nossa categoria. O atentado que feriu Santiago – em coma no Hospital Municipal Souza Aguiar, onde mais sete pessoas deram entrada feridas na manifestação – poderia ter sido evitado ou os seus danos, pelo menos, minimizados. Prestamos neste momento difícil solidariedade e assistência irrestrita aos familiares de Santiago. Na mesma cobertura, o jornalista Gustavo Maia, do site UOL, também foi agredido a cassetete por um policial militar, atingido nas pernas, e teve o celular espatifado.
Há três meses, denunciamos, em audiência realizada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, os graves riscos de vida e as precárias condições de trabalho dos jornalistas que cobrem as manifestações. Na ocasião, foi entregue às autoridades um relatório que apresentou os casos referentes a agressões sofridas por 49 jornalistas num período de apenas cinco meses. Houve reivindicações encaminhadas especificamente à Secretaria de Segurança Pública, à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, aos ministérios públicos do Trabalho e do Estado do Rio de Janeiro e às empresas jornalísticas.
O relatório foi entregue ainda à Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, ONU, OEA, Anistia Internacional, OAB-RJ, Justiça Global, ao IDDH, ao Tortura Nunca Mais/RJ e ao Instituto Mais Democracia. Mais recentemente, em conjunto com diversas entidades de direitos humanos, demos entrada em pedido de audiência temática sobre a violência nas manifestações, com destaque para a que é praticada contra jornalistas, na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.
O Sindicato cobrou na própria quinta-feira (06/02) da direção-geral do Grupo Bandeirantes de Comunicação que adeque imediatamente o seu protocolo de segurança no trabalho às necessidades dos trabalhadores que cobrem os protestos na cidade. Sabemos, no entanto, que essa realidade não se limita a essa empresa de comunicação. Tanto é que o tema das condições de segurança dos jornalistas foi apontado pela categoria como prioridade da nossa campanha salarial deste ano, à revelia dos patrões, que manifestaram o desejo de ver essas cláusulas fora da negociação do acordo trabalhista.
O relatório produzido pelo Sindicato tem sido atualizado quase que semanalmente. De janeiro para cá, além do de Santiago, destacamos mais dois casos: o do jornalista da Globonews que foi expulso por manifestantes do ato popular realizado quando da repressão policial ao ‘rolezinho’ do shopping Leblon; e o das equipes de reportagem do SBT e do jornal O Dia que foram cercadas e atacadas com artefatos explosivos por homens em motos durante protesto em área controlada por milicianos na Zona Oeste do Rio.
Cabe às autoridades da Segurança Pública e da Justiça a rigorosa apuração da autoria desse mais recente atentado. De nossa parte, mais uma vez, temos de cobrar das autoridades e das empresas que cumpram a sua responsabilidade de agir para a prevenção de casos como o de Santiago. Como sindicato, é nosso dever defender os direitos da nossa categoria, até mesmo para que possa exercer o jornalismo que a sociedade precisa – um instrumento essencial de garantia da democracia e de luta contra toda a forma de violência. A segurança para o pleno exercício da nossa profissão nas ruas é fundamental para a defesa dos direitos humanos, cláusula pétrea do nosso Código de Ética Profissional. Que esta luta não precise de um mártir.