A onda de violência que assola Niterói e municípios vizinhos no interior do Rio de Janeiro atinge também os bancários. Os sequestros são frequentes e, somente neste ano, foram cinco, sendo quatro no Itaú e um no Bradesco, segundo informações do Sindicato dos Bancários de Niterói e Região.
Em quatro dos casos, a suspeita é de que a mesma quadrilha tenha praticado os crimes. O grupo foi preso quando ainda mantinha em cativeiro os reféns do penúltimo sequestro. A polícia já suspeitava de que a tesoureira de uma agência do Itaú no centro de Niterói seria a próxima vítima.
A bancária foi rendida e seus pais foram levados a um cativeiro em local ignorado. Quando a trabalhadora chegou à agência pela manhã, o superintendente e os policiais já a aguardavam. O roubo não se consumou e a quadrilha acabou presa naquele mesmo dia. Os reféns foram liberados mais tarde.
A trabalhadora e seus pais estão muito abalados, mas o banco não emitiu CAT. “O médico do ambulatório do Itaú que atendeu a tesoureira alegou que não houve agressão e, portanto, não há motivo para emissão do documento. Ele queria que ela tivesse levado uma coronhada, um tiro, para, então, emitir a CAT?”, questiona Simone Torres, diretora do Sindicato. O banco registrou o Boletim de Ocorrência da tentativa de assalto junto à Delegacia de Roubos e Furtos, mas não fez o registro do sequestro.
O tesoureiro de outra agência do Itaú, também no centro de Niterói – que já havia sido sequestrado em outra ocasião – chegava em casa com a esposa, mas percebeu a presença dos bandidos e os dois escaparam. Mas seus familiares – todos moravam em residências construídas no mesmo terreno – sofreram nas mãos dos sequestradores.
“Além do terror psicológico imposto a toda a família, os assaltantes saquearam a casa do cunhado do bancário. O banco ignorou os prejuízos financeiros sofridos pela família e o Sindicato já está acionando judicialmente o Itaú para obter ressarcimento dos prejuízos. Toda a família está muito abalada”, relata a sindicalista. Novamente, o banco não emitiu CAT, embora as sequelas psicológicas sejam visíveis.
Um funcionário do Itaú Personalité e seus familiares também viveram drama semelhante. A esposa e os dois filhos do bancário foram levados a um local desconhecido e o trabalhador teve que ir ao local de trabalho. O assalto foi frustrado e os reféns foram soltos numa rodovia, a muitos quilômetros de distância. Não houve emissão de CAT.
Mas com dois funcionários do Bradesco em São Gonçalo a situação foi ainda pior, porque houve outras consequências. O tesoureiro da agência costumava dar carona diariamente à gerente operacional, que já tinha 30 anos de banco.
Os dois foram sequestrados e os bandidos acabaram levando R$ 600 mil da agência. Algum tempo depois do sequestro, ambos foram demitidos, uma prática comum no banco.
A última ocorrência foi em Cabo Frio, na chamada região dos Lagos, na última sexta-feira, dia 6. O marido e o filho da gerente comercial de uma agência do Itaú foram mantidos em poder dos bandidos.
Vítimas em silêncio
Os dirigentes sindicais sabem que os sequestros são provocados pelas falhas na segurança bancária e pela prática amplamente difundida do tesoureiro ter a senha do cofre e levar para casa a chave da agência. Os sindicalistas reivindicam há muitos anos que toda esta operação de abertura de unidades e cofres seja feita por funcionários de empresas de segurança, mas os bancos nunca concordaram.
Os assaltantes só precisam observar o movimento das agências e a rotina dos funcionários para identificar quem devem sequestrar. “E quando acontece um assalto e o sindicato vai até o local dar assistência aos bancários, o banco ainda reclama, diz que não precisamos fazer nada, que eles já estão fazendo tudo que é preciso”, destaca Waldemiro Baptista da Silva, diretor do Sindicato.
Embora o número de sequestros – e crimes contra bancos em geral – esteja aumentando na região, o Sindicato tem encontrado dificuldades em monitorar os problemas de segurança bancária em sua base territorial.
Os bancos – principalmente o Itaú – têm orientado os funcionários a não informarem à entidade sobre os assaltos e arrombamentos, consumados ou não, saidinhas, sequestros e demais ocorrências envolvendo agências e PABs.
“Muitas vezes ficamos sabendo através de bancários de outras agências que nos ligam para informar, ou até pela imprensa. O banco não quer que o sindicato se meta, porque exigimos que todos os procedimentos sejam cumpridos e isso eles não querem fazer”, critica Waldemiro.