Valor Econômico
Adriana Cotias
Bancarizar uma população estimada em 40 milhões de pessoas é o mote da bandeira Elo, que começou a ser emitida ontem por Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Mas não vai parar por aí. Com o respaldo da gigantesca escala de três dos maiores bancos brasileiros que se uniram com a ambição de conquistar 15% de um mercado estimado em R$ 1,2 trilhão até 2015, há sinais de que as próprias bases de cartões usados estritamente em território local sejam aos poucos convertidas para a nova marca.
Oficialmente, o discurso é de que a distribuição de plásticos Visa e MasterCard segue seu curso. Nos bastidores, porém, o que se percebe é que não é de hoje que as instituições convivem com o incômodo de pagar royalties às bandeiras por transações que não ultrapassam as fronteiras nacionais e que representam mais de 90% das operações realizadas pelos brasileiros.
“Vamos inundar o mercado brasileiro”, disse Marcelo Noronha, principal executivo da Bradesco Cartões na apresentação que oficializou a criação da Elo Serviços, que abrigará a nova bandeira. Jair Scalco, executivo de carreira do Bradesco é que foi nomeado para presidir a operação. “O crescimento do setor ainda está longe do limite. Vamos nos apropriar de um pedaço desse bolo com sócios que, juntos, têm metade do mercado em termos de correntistas”, disse.
No ar, com o dedo indicador, Noronha desenhou um gráfico do crescimento: começando com um ritmo lento para de repente dar um salto até conquistar os 15%. Só ontem, numa loja da Ibi Promotora de Vendas em Aracaju foram comercializados 101 cartões Elo, dando o pontapé à oferta conjunta para os não bancarizados.
“Nosso sonho é que as compras internacionais sejam com Visa e MasterCard e as nacionais com o elo”, acrescentou o vice-presidente de varejo e novos negócios do BB, Paulo Cafarelli. Isso não quer dizer que o Elo não aspire ser uma marca internacional. Nos bastidores, já se cogita uma associação com bandeiras locais em outros países, como a Discover americana.
Além disso, para cativar o cliente de cartão de crédito, especificamente, os bancos planejam criar pacotes de benefícios atrativos, diz um executivo.
O vice-presidente de pessoa física da Caixa, Fábio Lenza, fez questão de destacar a amplitude do negócio, pela capilaridade conjunta dos bancos na emissão dos cartões numa ponta e, na outra, pela captura das transações pela Cielo – mesma rede que deu à Visa a aceitação mais abrangente no país, e que está preparada para capturar o Elo em mais de 1 milhão de estabelecimentos.
A Cielo, vale lembrar, é controlada por BB e Bradesco. Ao comentar que benefícios o Elo podem trazer para o consumidor, foi justamente a economia dos royalties que foi apontada como o diferencial que vai beneficiar toda a cadeia de preços.
Nos custos de uma transação local, as estimativas no mercado são de que 20% referem-se às comissões pagas às bandeiras estrangeiras. O Elo vai ser tanto emitido conjuntamente, sendo acomodado no futuro Banco Elo, quanto separadamente pelas três instituições, cada uma com sua estratégia.
O Banco do Brasil vai cobrar no primeiro ano R$ 4 por mês, com a anuidade chegando a R$ 48,00. A base de 1,5 milhão de cartões “private label” é que deve ser o alvo inicial da instituição, diz Cafarelli.
O Bradesco também mira sua base de 50 milhões de cartões com a marca do lojista (private label). Boa parte disso, hoje, não é usada pelo cliente. O banco quer transformá-los em híbridos: têm a marca do lojista, mas podem ser usados fora com a bandeira Elo. Pela emissão, o banco pretende cobrar quatro parcelas de R$ 17,50.
Lenza explicou que a Caixa já tem uma política de preços estabelecida para a baixa renda nos cartões com as bandeiras internacionais, cobrando seis parcelas de R$ 3,50. A ideia é oferecer o Elo nas lotéricas e demais correspondentes do Caixa Aqui. A base de débito da instituição soma 60 milhões de plásticos, sendo 10 milhões referentes a contas simplificadas, dos quais 7 milhões são ativos.
A ideia é que o Elo também seja o instrumento para bancarizar os participantes do Bolsa Família. Nesse universo, a Caixa já abriu 3 milhões de contas. A Caixa ficou com um terço da Elo Serviços.