Dirigentes sindicais conheceram de perto as conquistas do socialismo
Utopia para muitas pessoas, o socialismo é uma realidade palpável em Cuba. Mesmo com os fortes embargos internacionais, sobretudo dos Estados Unidos, a ilha de exatos 110.861 quilômetros quadrados e com mais de 11 milhões de habitantes possui indicadores impressionantes: taxa de alfabetização de 99,8%, sistema de saúde universal, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,815 (muito elevado) e uma expectativa de vida média de 78,5 anos, bem acima da brasileira (72,24).
Alguns desses importantes avanços sociais foram conhecidos de perto pela Caravana da Solidariedade da CUT Brasília, que permaneceu em Havana de 27 de outubro a 2 de novembro. O grupo teve contato com os costumes, a cultura, a generosidade e as adversidades de um povo revolucionário.
“A gente tende a acreditar no que é veiculado, mas a verdade é que tentar pensar em Cuba pelo que a gente lê nos jornais é a mesma coisa de uma pessoa que mora fora do Brasil tentar entender o nosso país lendo a Veja: ela vai achar que está tudo um caos. E foi muito gratificante conhecer a realidade de Cuba e dos cubanos. Eles dão uma lição na questão do acesso à saúde, à educação, ao lazer. A ilha mostra para a gente que não devemos nos submeter a qualquer tipo de escravidão, seja ela do tipo que for. Cuba mostra que é possível construir um mundo mais justo e mais solidário, apesar do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos que penaliza o povo com barreiras para o desenvolvimento”, declara Rosilene Corrêa, dirigente do Sindicato dos Professores do DF – Sinpro-DF, que integrou a delegação.
“Eu tinha uma imagem péssima de Cuba. E ao chegar lá vi que se trata de um país estável, sem fome, sem miséria. Cheguei a chorar quando entendi o que é o socialismo, o que é ter acesso à educação, à saúde, ao trabalho. Praticamente todas as pessoas de Cuba têm nível superior. E eu, quando tinha 17 anos, queria ter feito nível superior e não tive oportunidade pela dificuldade que temos no Brasil de ingressar em uma universidade”, confessa a dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde, Trabalho e Previdência Social no Distrito Federal – Sindprev, Antônia Ferreira da Silva, que também compôs o grupo de dirigentes sindicais que visitaram a ilha.
Agenda cheia
No dia 28 de outubro, segundo dia da viagem, os 21 dirigentes e trabalhadores do movimento sindical que integraram a Caravana visitaram a Central dos Trabalhadores Cubanos (CTC) e o Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap).
Na CTC, a Caravana conheceu detalhes sobre os direitos trabalhistas e os problemas enfrentados pelos sindicatos cubanos. Duas funcionárias da Central, Rosario Rodríguez Remón e Liurba Calzada Linares, apresentaram aos sindicalistas brasileiros as principais demandas do segmento. Ao final, os integrantes da Caravana fizeram perguntas e debateram assuntos relacionados aos trabalhadores.
Já no Icap, o diretor do Instituto, Fábio Siméon, agradeceu a visita da comitiva e os esforços dos sindicalistas brasileiros para estreitar os laços com Cuba. “Essa visita, de grande importância, reforça o laço de amizade e cooperação dos dois países”, destacou Siméon, logo após exibir um documentário sobre a Revolução Cubana, que culminou com a destituição e fuga do ditador Fulgencio Batista em 1º de janeiro de 1959. Em seguida, o diretor do Icap apresentou as instalações.
O que é o Icap?
O Icap é uma instituição que promove o relacionamento com os povos amigos de Cuba, uma vez que o sistema de embaixadas não funciona devido às condições políticas impostas sobre o país pelas potências capitalistas. O órgão trabalha no sentido de estreitar relações com os povos que respeitam a soberania do povo cubano.
Na sequência, a Caravana conheceu um projeto comunitário social em La Timba, bairro periférico de Havana que fica perto da Praça da Revolução. Lá, os dirigentes sindicais assistiram às apresentações de teatro e de música e conheceram o artesanato produzido pelos moradores do local para incrementar a renda e capacitar os trabalhadores.
A história da Revolução
Para conferir in loco toda a história da Revolução Cubana, a Caravana da Solidariedade da CUT Brasília desembarcou, no dia 29 de outubro, no Museu da Revolução, situado em Havana Velha. Em recortes de jornais, fotografias, gravações, falas e objetos dos revolucionários, as salas explicam a história da Revolução e a tomada de Fidel Castro frente aos americanos. Na área externa do museu há veículos, aeronave e a embarcação Granma, usada por Fidel e companheiros na travessia do México a Cuba, no início do processo revolucionário.
O prédio de 1920, construído em estilo neoclássico, é o antigo palácio presidencial, de onde o ditador Fulgencio Batista se viu obrigado a fugir com o avanço das tropas revolucionárias à capital. É possível ver as inúmeras marcas das balas do ataque dos guerrilheiros na escadaria principal do museu e no pátio interno do edifício.
À noite, os dirigentes sindicais assistiram ao Cañonazo, um dos eventos mais tradicionais da ilha. O ato acontece diariamente sempre às 21h, cuja cerimônia revive os tempos áureos da Fortaleza de la Cabaña, no Castillo del Morro. Pontualmente, o canhão aponta para a baía de La Habana e dispara. Isso depois de uma cerimônia teatral, executada por soldados a caráter rodeados de carruagens.
A revolução se fez com armas e ideias!
Ainda impressionados com as conquistas sociais de Cuba e as diversas surpresas proporcionadas pelos animados moradores da nação-ilha, a Caravana da Solidariedade da CUT Brasília seguiu, no dia 30 de outubro, para o Museu da Alfabetização, único do gênero no mundo.
O pequeno espaço dedicado a imortalizar o grande esforço do país para erradicar de uma vez por todas o analfabetismo impressionou e emocionou. A Caravana, que contou com diversas professoras e diretoras do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro), conheceu o mérito da revolução de transformar 69 quartéis em escolas.
A Caravana foi recebida pessoalmente pela diretora do Museu Nacional da Campanha de Alfabetização, Luisa Yara Campos, que fez um relato detalhado sobre a revolução de Cuba na educação. Em 1961, o país foi declarado primeiro território livre de analfabetismo na América Latina depois de uma campanha, cuja vigência chega hoje como esperança a 26 nações envolvidas em uma cruzada contra a ignorância.
Em 22 abril de 1960, o líder da Revolução, Fidel Castro, convocou estudantes e trabalhadores a se transformarem em mestres voluntários. No dia 26 de setembro do mesmo ano, Fidel anunciou nas Nações Unidas que em Cuba se realizaria uma campanha de alfabetização, que erradicaria o analfabetismo em menos de um ano.
“A Revolução não foi só armada, mas principalmente na educação. Um ano após a Revolução Cubana, o processo de alfabetização extinguiu o analfabetismo da ilha, um processo protagonizado por crianças e jovens, junto com o governo. Me senti extremamente tocado quando vi que o socialismo é algo possível, é algo real”, avalia o secretário de Juventude da CUT Brasília, Douglas de Almeida Cunha.
Castro, durante o ato de convenção do quartel Leoncio Vidal na Cidade Escolar Abel Santamaría em Santa Clara em 28 de janeiro 1961, convocou 100 mil estudantes maiores de 13 anos de idade.
Foram mais de 105 mil estudantes com uma idade média de 14 a 16 anos, alguns com idades entre nove e 13 anos, além de dois meninos de sete anos, que se engajaram na missão de alfabetizar.
No esforço da Revolução contra o analfabetismo, participaram 268 mil alfabetizadores, sendo 34 mil mestres e outras milhares de donas de casa, aposentados, estudantes e trabalhadores.
A Campanha Cubana de Alfabetização multiplicou sua essência e Cuba participou, desde a década dos anos 70, na cruzada de outros povos contra a ignorância.
Além de Cuba, erradicaram o analfabetismo Venezuela, segundo país na América Latina, além da Bolívia e da Nicarágua.
Guia da Caravana participou da Campanha de Alfabetização
Logo após a visita ao museu, Margarita Ramírez, guia da Caravana em Cuba, revelou que participou da Campanha de Alfabetização. “Fui alfabetizadora ‘Pátria ou Morte’ quando tinha apenas 9 anos. Minha experiência foi muito grande porque, como jovem e praticamente uma criança, tive a possibilidade de começar a ajudar o processo revolucionário a erradicar o analfabetismo. Até este momento, continuo disponível ao trabalho. E, se tiver necessidade de alfabetizar aqui ou em outro país, iria com muito gosto”, revelou, em lágrimas.
Ela deu detalhes da época da Campanha de Alfabetização. Contou que, a princípio, seus pais não autorizaram sua participação no programa. “Quando ocorreu a segunda convocação, fiz a inscrição escondida e logo em seguida fui chamada”, contou Margarita Ramírez.
O relato de Margarita emocionou a todos os integrantes da Caravana, que a aplaudiram assim que ela concluiu suas palavras. Surpresos com a revelação da guia e alfabetizadora, os dirigentes sindicais também se emocionaram. A partir do relato de Margarita Ramírez, alguns integrantes contaram um pouco da história de cada um.
Exército de alfabetizadores
Pela segunda vez em Cuba, a secretária-geral do Sindicato dos Bancários de Brasília, Cida Sousa, se emocionou com a visita ao Museu da Alfabetização. “É indescritível testemunhar de perto o grande esforço dos líderes revolucionários em eliminar o analfabetismo”, afirmou a dirigente sindical, ao lembrar que em um ano a campanha superou todas as expectativas e reduziu drasticamente o número de analfabetos na ilha.
Bancária do BRB, a dirigente sindical contou que a segunda visita ao país surpreendeu bastante. “O que mais chamou atenção para participar da Caravana foi a programação, que procurou aproximar de nós, sindicalistas e trabalhadores, as conquistas sociais de Cuba”, acrescentou.
Um dos momentos mais marcantes da Caravana da Solidariedade da CUT Brasília a Cuba certamente foi a visita à escola Salvador Allende, localizada em Caimito, província de Havana. Das sacadas da escola, os alunos acenavam freneticamente para os dirigentes sindicais, que corresponderam com os gestos. Na escada principal da escola, um corredor de alunos recepcionou a comitiva.
Sem muros, algo difícil de imaginar no Brasil, a escola preparou uma programação especial para receber a Caravana: apresentação de balé, coreografias embaladas por música cantada à capela e a entrega de uma mariposa (símbolo nacional) a cada integrante da comitiva da CUT Brasília.
Logo após as apresentações culturais, os dirigentes sindicais participaram de um bate-papo com os alunos da escola de ensino básico e que funciona em período integral. Na ocasião, os trabalhadores conversaram com os estudantes cubanos sobre as impressões que têm do Brasil, seus sonhos e suas preferências.
“Quando estive pela primeira vez em Cuba, em 2013, tive vontade de conhecer uma escola, o que não pode ser concretizado. Agora, com o sonho realizado, reafirmo todas as minhas convicções sobre o modelo socialista”, destacou Cida Sousa, ao lembrar a disciplina, a vontade dos alunos de aprender, o cuidado com as roupas e a limpeza do restaurante da escola.
O sistema educacional cubano é integrado pela escola, família e por organizações de massa dentro de um conceito dialético de formação do homem.
Palestras embasaram a Caravana da Solidariedade
A primeira etapa da Caravana da Solidariedade começou no Brasil, com a promoção de palestras e debates a respeito de Cuba. O ciclo de debates começou em junho deste ano e contou com a participação do sindicalista Afonso Magalhães, que palestrou sobre a Revolução Cubana. A segunda palestra tratou sobre ‘Conquistas Sociais em Cuba’.
‘Cuba hoje e seus desafios’ e ‘Futuro – Perspectivas para Cuba’ foram os temas do terceiro e quarto encontros preparativos da Caravana da Solidariedade a Cuba. Os dois módulos aconteceram conjuntamente no dia 23 de setembro, no auditório da CUT Brasília. As palestras foram ministradas pelo conselheiro político da embaixada da Cuba no Brasil, Rafael Hidalgo.
Os temas ‘Cuba hoje e seus desafios’ e ‘Futuro – Perspectivas para Cuba’ trataram sobre a realidade atual cubana, que enfrenta cerco comercial e político de grandes potências capitalistas, especialmente dos Estados Unidos, e os próximos passos da revolução para promover o desenvolvimento econômico e social na ilha.
Os debates não foram destinados apenas aos inscritos na Caravana da Solidariedade a Cuba. Também participaram dos encontros e debates todos aqueles que possuem interesse na história cubana e defendem a luta do povo daquele país.
Campanha de Solidariedade
Diversas entidades progressistas, culturais e sociais do Brasil se uniram na defesa das causas cubanas e pela manutenção de sua soberania. Cada uma delas, de sua maneira, colabora para fortalecer os laços de amizade e fraternidade entre o povo brasileiro e o povo cubano. Os principais pontos debatidos são: a ofensiva midiática contra Cuba, as denúncias do bloqueio econômico imposto pelas potências imperialistas, a campanha pela libertação de cubanos presos nos Estados Unidos e a realidade de Cuba na atualidade.
Atualmente, Cuba é o único país socialista das Américas. Em todo o planeta, apenas a China, o Laos, o Vietnã e a Coreia do Norte seguem adotando esta forma de governo.
Gracias, Cuba
No dia 2 de novembro (domingo), pouco antes do embarque de retorno da Caravana da Solidariedade da CUT Brasília, a guia Margarita Ramírez elogiou a iniciativa dos sindicalistas brasileiros. “Um grupo maravilhoso, interessado pelo processo revolucionário cubano, o que me alegra muito. Pessoas que têm relação magnífica com Cuba e também me permitiram conhecer um pouco mais sobre o Brasil. Ademais, espero que vocês sejam embaixadores brasileiros de Cuba, nos ajudem com a solidariedade de vocês a libertar os cinco cubanos presos nos Estados Unidos e tragam mais pessoas para conhecer nosso país e nossa realidade: como somos, como vivemos e como pensamos”, concluiu.
Diante da experiência extremamente positiva, os integrantes da Caravana da Solidariedade da CUT Brasília já planejam uma nova visita a Cuba. Sem data definida, o segundo módulo do projeto também deve contar com palestras e debates preparatórios.
Descobertas, emoções, transformações
“Foi uma experiência extraordinária esta visita a Cuba, muito mais que um intercâmbio político e cultural, foi uma verdadeira aula de formação sobre a experiência e a construção permanente do socialismo e da solidariedade entre os povos. Cuba é um exemplo real de alternativa à selvageria que é o sistema capitalista, e da possibilidade de construção de um novo mundo”, disse Ismael Cesar, secretário de Política Social da CUT Brasília.
“O que mais impressiona é a ousadia do povo de uma pequena ilha, como Cuba, enfrentar e se manter livre da exploração do grande e poderoso Estados Unidos, movido pela determinação de construir a justiça social em seu país. Apesar de todas as dificuldades e barreiras impostas pelas grandes potências capitalistas, os cubanos resistiram e conquistaram muitos avanços sociais. Essas conquistas tiveram como pilar a coragem e a unidade do povo. Um exemplo aos brasileiros e a todos que prezam a solidariedade de classe e a luta por uma sociedade mais justa e igualitária”, diz, emocionado, o presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto.
III Encontro Mundial de Solidariedade com Cuba
A Caravana da Solidariedade à Cuba surgiu com o intuito de inserir os dirigentes sindicais CUTistas no III Encontro Mundial de Solidariedade com Cuba, que seria realizado de 27 a 29 de outubro de 2014, em Havana. Entretanto, o encontro foi adiado (com data a definir), mas, ainda assim, a ideia de enviar o grupo se manteve e somou resultados positivos.