Capital e trabalho são fios condutores de seminário sobre sustentabilidade

Com o tema “Quatro pontos para reflexão: o desemprego; a implementação da democracia participativa; a desigualdade e a concentração de renda; a capacidade do Estado de criar condições de desenvolvimento sustentável”, dirigentes sindicais, lideranças da sociedade civil, empresários, estudantes e pesquisadores participaram nesta sexta-feira, dia 12 de setembro, do III Seminário Capital e Trabalho – compromisso estratégico para a sustentabilidade.

Organizado pelo Portal Gestão Sindical, em parceria com o Instituto Ethos e o Observatório Social, o evento buscou discutir as relações de trabalho sob a ótica da sustentabilidade, da responsabilidade socioambiental e do diálo go social, trazendo informações e exemplos do que já é feito e do que ainda pode ser aprimorado nas relações humanas focadas no capital e no trabalho.

Dentre os debatedores ressalta-se a presença do Ministro do Trabalho, Carlos Roberto Lupi, do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Marcio Pochmann, e do consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Paulo Sérgio Muçouçah, que em virtude das longas experiências no tema Capital e Trabalho reforçaram a necessidade de se construir uma estratégia para o desenvolvimento sustentável do Brasil, que englobe ações voltadas ao crescimento econômico, progresso social e preservação ambiental.

Durante sua explanação, o ministro Lupi tratou da impressionante o nda de crescimento no país ao destacar que o Brasil tem tudo para chegar num patamar de sustentabilidade desejável, mas que para isso precisa investir em duas vertentes: na consciência do empresariado nacional para garantir mais vagas de empregos formais e relações trabalhistas transparentes; e no trabalho do governo de adotar políticas públicas que promovam o trabalho decente, a distribuição de renda e a inclusão social.

“Se o capital é o trabalho acumulado e um não vive sem o outro, então ambos precisam crescer juntos. Daí a necessidade das empresas ampliarem seus postos de trabalho, dividirem seus lucros e incentivarem a qualificação de seus empregados. Esse é o diferencial no mercado de trabalho moderno e sustentável”, comentou o ministro.

Conforme dados do MTE, a economia brasileira gerou 203.218 novos postos de trabalho em julho, elevando para 1.564.606 o número de novos empregos nos primeiros sete meses de 2008. Além disso, o país apresentou um crescimento de 6% no primeiro semestre que superou as expectativas até dos analistas de mercado mais otimistas.

Mas os bancos, apesar do cenário de lucros crescentes, contrataram apenas 2,88% em relação ao mesmo período de 2007. Um percentual muito baixo, apesar de o setor bancário ser o mais lucrativo entre as empresas de capital aberto. Por este motivo, os trabalhadores reivindicam junto à Fenaban a contratação de mais funcionários, estabelecendo um efetivo mínimo para o atendimento aos cliente.

Baseado em número e pesquisas científicas, o presidente do IPEA frisou, na ocasião, que após ¼ de século finalmente o Brasil voltou à rota do desenvolvimento. Segundo ele, o país está crescendo duas vezes mais que na década de 90. Mas, apesar dos resultados positivos em todos os setores, os brasileiros continuam convivendo com a alta taxa de desemprego, com o problema de desqualificação profissional e a concentração de renda.

“Essa economia do TER se mostra como um padrão irreproduzível tanto nos aspectos sociais quanto nos ambientais. A sociedade que vivemos hoje está doente! Não há espaços públicos para a socialização, apenas espaços privados. Não há espaço para o coletivo, apenas para o individual”.

Para Pochmann, esse é o momento da ruptura. A oportunidade inédita de construir/inventar uma nova sociedade, que prime por novos padrões civilizatórios, onde a longevidade e o conhecimento sejam essenciais.

Pochmann também faz referência a jornada de trabalhado excessiva na contemporaneidade. Para ele, a sociedade da tecnologia e da informação nos permite outra forma de gestão de trabalho. “Os trabalhadores de hoje fazem mais em menos tempo. Estão 24 horas do dia plugados ao trabalho, mesmo estando foram do ambiente de trabalho. Então porque manter uma jornada extensa, se é possível reduzi-la e garantir mais qualidade de vida”, questiona o presidente do IPEA.

Apesar de não trazer impacto direto aos bancários, a redução da jornada de trabalho sem redução de salários é uma bandeira de luta da CUT e está sendo incorporada pela categoria bancária por se tratar de uma questão primordial à classe trabalhadora, enquanto fomentadora na geração de emprego e garantia de mais qualidade de vida. Os bancários, nesse sentido, pautaram com uma das reivindicações de Emprego o cumprimento da jornada de 6 horas.

Já o consultor da OIT, Paulo Sérgio Muçouçah trouxe à mesa alguns dos conceitos que norteiam a entidade na discussão de desenvolvimento sustentável, sobretudo, nos temas empresa sustentável, trabalho dec ente e emprego verde.

Dentre estes conceitos destacam-se algumas condições básicas: estabilidade macroeconômica, boa governança e diálogo social, valorização da cultura local, infra-estrutura material, gestão responsável do meio ambiente, eqüidade e inclusão econômica e social.

Indagado pelos dirigentes sindicais presentes sobre qual a importância da ratificação da Convenção 158 na concretização do Trabalho Decente, o consultor da OIT foi enfático: “a 158 reforça o diálogo social no gerenciamento de conflitos. Contudo, vale lembrar que a lei por si só não gera mudanças, mas generaliza um patamar mínimo de diálogo social que pode ser ampliado a partir da mudança de cultura e gestão das empresas”, finalizou.

A ratificação da Convenção 158 da OIT é uma das reivindicações contempladas pelos bancários no que se refere ao eixo Emprego.

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