Os bancos espanhóis estão com mais de 30 bilhões de euros (US$ 39 bilhões) em dívidas que vencem nos próximos quatro meses. Isso está levando os investidores a duvidar de sua lucratividade futura, uma vez que os maiores custos de financiamento comem as margens dos bancos.
O temor do país não conseguir reduzir o terceiro maior déficit fiscal da zona do euro e evitar ser socorrido pela União Europeia, vem motivando um aumento das despesas com financiamentos para os bancos. O Banco Español de Crédito (Banesto) dá início hoje à safra de balancetes do quarto trimestre de 2010 e os investidores estarão em busca de sinais de que os bancos têm como sustentar seus lucros enquanto os custos aumentam.
“Não estou esperando uma melhoria das condições de financiamento para os bancos espanhóis no curto prazo e isso vai significar mais pressões sobre as receitas e as margens”, diz Peter Braendle, que ajuda a administrar cerca de US$ 62 bilhões na Swisscanto Asset Managemente de Zurique, que tem em carteira ações do Banco Santander, controladora do Banesto. “Parece que um cenário já difícil vai ficar ainda mais duro.”
Os bancos espanhóis aumentaram a captação de depósitos junto aos clientes e reduziram os empréstimos, numa tentativa de diminuir suas necessidades de financiamentos. Este ano, os bancos do país têm um total de aproximadamente 85 bilhões de euros em dívidas que terão de ser refinanciadas, segundo dados da “Bloomberg”.
“Quais são as implicações do pagamento de uma quantia tão grande para os financiamentos por vários meses ou anos?”, pergunta Zoso Davies, estrategista de crédito do Barclays Capital em Londres. “A questão é por quanto tempo eles podem suportar a dor.”
O Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), o segundo maior da Espanha, foi o primeiro banco do país a recorrer este ano ao mercado atacadista de dívida, quando vendeu 1,5 bilhão de euros em bônus cobertos de três anos de prazo, a um spread de 225 pontos-base sobre os swaps. Isso se compara a um spread de 30 pontos-base obtido pelo banco em uma venda parecida de notas de cinco anos realizada em setembro de 2009.
“Os spreads que eles foram forçados a pagar são incrivelmente altos em comparação aos níveis históricos”, diz Georg Grodzki, diretor de análise de crédito da Legal & General Investment Management de Londres, que gerencia US$ 480 bilhões em ativos. “É se de imaginar o impacto desses custos de financiamento à lucratividade dos bancos.”
O Banesto poderá anunciar um lucro líquido de 9 milhões de euros para o quarto trimestre de 2010, resultado que pouco mudou em relação ao mesmo período de 2009, e bem menor que os 68,9 milhões de euros apurados no terceiro trimestre de 2010, segundo estimativas de cinco analistas consultados pela “Bloomberg”. A receita líquida de juros pode ter caído 11%, de acordo com estimativas do J.P. Morgan Chase. O banco deverá publicar seus resultados hoje, antes da abertura do mercado de ações de Madri.
As ações do setor bancário espanhol subiram ontem por causa de especulações de que funcionários da União Europeia estariam acelerando os esforços para resolver a crise da dívida, e depois que os custos dos empréstimos para Portugal caíram em uma venda de bônus de 10 anos de prazo. A Alemanha fará “o que for necessário” para manter a estabilidade do euro, disse ontem em Berlim a jornalistas a chanceler Angela Merkel.
Os bancos espanhóis já estão lutando com perdas com empréstimos concedidos a incorporadores imobiliários e ativos imobiliários incorporados à sua contabilidade durante o crash do mercado imobiliário. A agência Moody’s estimou em 13 de dezembro que os bancos reorganizaram apenas metade dos estimados 176 bilhões de euros em perdas que eles terão que absorver sobre seus empréstimos.
Os bancos do país vêm tomando precauções contra o impacto dos maiores custos dos financiamentos, ou em relação aos períodos em que se torna difícil ou impossível recorrer aos mercados de dívida, afirma Antonio Ramirez, analista da corretora Keefe, Bruyette & Woods em Londres.
Empréstimos às famílias estão agora diminuindo. Houve uma queda de 0,8% em novembro, a maior desde que o registro começou a ser feito em 1995, segundo dados do Banco da Espanha.
Os investidores também estão prestando muita atenção ao uso dos empréstimos tomados junto ao Banco Central Europeu, enquanto avaliam as necessidades de financiamentos dos bancos, no momento em que os mercados de dívida estão fechados para muitas instituições financeiras.