FOLHA DE SÃO PAULO
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com uma participação de mercado de 72%, a Caixa Econômica Federal saiu na frente no recente aquecimento do setor imobiliário brasileiro e ainda encontra pouca concorrência dos bancos privados.
Desde a quebra do BNH (Banco Nacional da Habitação), que ditava os rumos do setor até 1986, tornou-se uma espécie de BNDES da casa própria.
A Caixa avança no crédito imobiliário com ritmo de expansão da ordem de 90% ao ano, enquanto os bancos privados comemoram taxas de crescimento de 20%, as maiores de suas carteiras, que permaneceram praticamente estagnadas até o primeiro semestre.
Para as instituições privadas, o financiamento imobiliário só se tornou interessante recentemente, após a redução nos juros e o aumento na renda do brasileiro. Com taxa de juros acima de 12%, a dívida dobra a cada seis anos e inviabiliza financiamentos de longo prazo. Até então, os bancos privados limitavam seus esforços no repasse obrigatório de 65% da poupança ao setor.
No Bradesco, a carteira de financiamento imobiliário somava R$ 2,853 bilhões em setembro, volume 20% superior ao do terceiro trimestre do ano passado. A expectativa do banco é chegar a R$ 4,5 bilhões no final do ano -80% mais do que em 2008. O Santander Real investe ainda mais no segmento e tem R$ 4,987 bilhões emprestados -19,3% mais do que no mesmo período de 2009.
No Itaú Unibanco, o crédito imobiliário somava R$ 7,832 bilhões em setembro, volume 36% superior ao do mesmo mês do ano passado. Já a Caixa tinha R$ 61,135 bilhões emprestados em setembro -expansão de 51,8% em relação a 2008.
“A Caixa suprimiu uma deficiência do mercado. Agora, a gente percebe a angústia da Caixa com o esgotamento dos recursos. Estamos esperando que os bancos privados ocupem esse mercado”, diz Celso Petrucci, economista do Secovi-SP (sindicato da construção).
Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, a Caixa se tornou uma espécie de “BNDES da habitação”, com posição privilegiada para captar recursos baratos e expertise única para operar no segmento.
“O mercado imobiliário é desigual. A Caixa é focada nisso, tem um estrutura voltada para habitação e conta com recursos mais baratos. Quando o BNH quebrou, os bancos caíram fora do imobiliário. A Caixa, pelo dever público, virou um “BNDES” da habitação. Os outros bancos só fazem o repasse da poupança. Mas é muito louvável esse crescimento de mais de 20% dos bancos privados.”
Na Caixa, o crédito imobiliário representa 55% do total da carteira de financiamentos. No Itaú, o segmento não passa de 2,9%, e, no Bradesco, de 1,6%.
Só o Santander Real tem uma participação mais agressiva, com o crédito imobiliário em torno de 3,7% do total da carteira de empréstimos.
Para Alda Lucia Rosselli, superintendente de crédito imobiliário para empresas do Santander, o mercado imobiliário retomou o ritmo anterior à crise, reagindo à melhora do emprego e ao aumento da confiança do consumidor na economia.
Para ampliar sua participação de mercado, o Santander aposta no financiamento da indústria de construção civil. “A gente chega à pessoa física pela incorporadora. O grupo tem como premissa ter o imobiliário forte, que é um relacionamento que fideliza o cliente.”
O crédito imobiliário brasileiro é visto como o de maior potencial hoje no mundo. O saldo de financiamento habitacional está hoje em 2,7% do PIB no Brasil, enquanto chega a 65% nos EUA, 46% na Espanha, 17% no Chile e 9% no México.
Para se adiantar a esse cenário, as construtoras brasileiras levantaram neste ano R$ 7,63 bilhões com a venda de ações e a emissão de dívida de longo prazo, segundo a consultoria Tendências. “O setor está muito aquecido. O dinheiro foi para compra de terrenos, equipamentos e para o financiamento da construtoras”, diz Amaryllis Romano, da Tendências.