Valor Econômico
De Brasília
23/10/2008
A Caixa Econômica Federal (CEF) poderá, com a edição ontem de uma medida provisória (MP ), finalmente avançar com mais força em quatro áreas consideradas prioritárias nos planos estratégicos do banco: financiamento de veículos, leasing, construção civil e saneamento básico.
A atuação nessas áreas será por meio da Caixa – Banco de Investimentos, autorizada pela MP, explicou a presidenta da instituição, Maria Fernanda Ramos Coelho. A idéia, disse, é constituir novas subsidiárias para preencher lacunas na atuação no banco, como uma empresa de participações, a Caixa Par, uma financeira voltada para o segmento de veículos e uma empresa de arrendamento mercantil. Desde 2004, o plano estratégico da Caixa já prevê atuar nesses nichos.
O financiamento de veículos, por exemplo, é um dos segmentos mais dinâmicos do mercado de crédito, apesar da desaceleração recente causada pela crise internacional. “Vínhamos fazendo várias tentativas de operar no segmento de veículos, e essa MP facilita muito nossa atuação”, afirmou Maria Fernanda.
Mais recentemente, os bancos vinham financiando veículos principalmente por meio de operações de leasing, que tem vantagens tributárias. “O mercado de leasing cresceu muito, mas para nós era praticamente impossível criar uma empresa de arrendamento mercantil” disse.
Segundo Maria Fernanda, a Caixa dispõe de R$ 2,5 bilhões para iniciar as operações do banco de investimento. Uma das prioridades, no início das operações, será atuar no segmento de construção civil e saneamento.
Parte das empresas de construção civil abriu o capital nas Bolsas e, com os recursos levantados, investiu na compra de terrenos. Mas, com o fechamento dos mercados, ficaram com poucos recursos para tocar os empreendimentos já programados.
O vice-presidente de finanças da Caixa, Marcio Percival, explica que, nessas operações, a instituição teria uma atuação típica de bancos de investimento. Um dos modelos possíveis é comprar participações minoritárias em incorporadoras com falta de caixa. Assim, daria fôlego às empresas, aumentando seu valor de mercado para, mais adiante, vender a participação na empresa. Essas operações poderiam, em tese, ser feitas com ou sem a participação de bancos privados.
Outra possibilidade é a Caixa assessorar ou financiar a aquisição de uma empresa por outra. “É o que o BNDES-par fez, mas com uma atuação mais ampla”, afirmou Percival. “Ninguém melhor do que a Caixa para atuar como banco de investimento na área de construção civil.” No caso do saneamento básico, seria adotado um sistema semelhante.
Uma outra linha de atuação seria por meio da criação de uma linha de capital de giro para fornecer liquidez às empresas de construção civil. Esse é um assunto ainda em estudo no governo, mas a tendência é criar uma linha com entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões, usando como fonte de recursos as captações da caderneta de poupança ou do FGTS.
A MP também abriu a possibilidade de a Caixa comprar bancos privados. Maria Fernanda diz que essa é uma possibilidade apenas preventiva, para ser usada caso a crise financeira provoque, mais adiante, um movimento de consolidação bancária. Durante o anúncio da medida, o mercado financeiro interpretou a medida como um mecanismo para os bancos públicos resgatarem bancos pequenos e médios que estariam insolventes.
A presidenta da Caixa negou que haja problemas. “Não existe nada em vista “, afirmou. (AR)