Valor Econômico
Assis Moreira
A guerra entre bancos na zona do euro para atrair depósitos dos clientes está “espremendo” suas margens líquidas de juros e afetando a rentabilidade, e faz autoridades reagirem diante da situação já fragilizada do setor.
Ofertas de maior rendimento atraíram mais depósitos, principalmente por parte de instituições em situação delicada na Grécia e Portugal. Mesmo os bancos mais fortes tiveram que subir suas taxas para não perder clientes.
Na Espanha, alguns bancos chegaram a oferecer aos poupadores juro de 4%, mais do dobro da taxa interbancária europeia. Mas a concorrência feroz fez bancos na Irlanda, Itália, Portugal, Espanha, Bélgica e França registrarem queda nas margens líquidas de juros, pois não conseguiram passar os maiores custos de “funding” cobrando mais nos empréstimos que fornecem.
Na Irlanda, mesmo com as ofertas feitas aos clientes, houve retirada de depósitos de quase 30% desde setembro do ano passado, refletindo a desconfiança popular com a saúde dos bancos locais. Em março, a retirada foi de ? 16,7 bilhões. A margem de juros só melhorou na Grã-Bretanha, Holanda e Grécia, e permaneceu estável na Áustria.
A dura concorrência por depósitos é mais um sintoma da fragilidade de bancos europeus, já que não conseguem fontes alternativas de financiamento. Instituições financeiras da zona do euro continuam dependendo fortemente do funding no atacado, bem mais que os americanos e japoneses.
Na Espanha, o governo resolveu castigar os bancos mais agressivos na atração de depósitos, exigindo que eles paguem mais pelo Fundo de Garantia de Depósitos (FGD). Os bancos comerciais pagam 6 pontos básicos em depósitos garantidos ao FGD e as “cajas” espanholas pagam 10 pontos-base. Com a nova legislação, a taxa pode duplicar quando o deposito superar um certo nível. A garantia de depósitos é de até ? 100 mil.
As instituições financeiras europeias e japonesas continuam altamente alavancados comparados aos bancos americanos. Globalmente, os bancos têm uma montanha de dividas próxima de vencer, com US$ 3,6 trilhões para reembolsar nos próximos dois anos. As exigências de refinanciamento da dívida bancária são maiores para os bancos irlandeses e alemães, segundo técnicos do FMI.
Por sua vez, investidores continuam a questionar o valor de bancos europeus. Os americanos tiveram sólidos resultados no primeiro trimestre, embora ajudados por menos reservas para perdas, já que o volume de calotes continuou declinando. Baseados em estimativas de ganhos, a valorização de bancos americanos e de emergentes voltou aos níveis de pré-crise de 2008, enquanto aquela dos europeus continuam valendo menos.
Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), as tensões a que continuam submetidos países por causa da divida soberana e os bancos mais vulneráveis na zona do euro “ameaçam gravemente a estabilidade financeira e o crescimento”. Isso por causa da fraqueza das instituições financeiras de vários países europeus e pela falta de transparência sobre os riscos a que estão expostos. Para restabelecer a confiança nos bancos da zona do euro, é preciso os testes de estresse e programas de restruturação e de capitalização.
O presidente do Banco Central da Inglaterra, Mervyn King, alertou recentemente no Parlamento Europeu que a nova rodada de teste de estresse a que estão sendo submetidos bancos europeus não deve ser interpretado automaticamente como se eles estão “seguros”.
King conclamou as autoridades a se prepararem para exigir, quando os resultados forem publicados na segunda semana de junho, por recapitalização dos bancos. Ele insistiu para enormes desafios causados pelo volume de alavancagem no sistema financeiro europeu.