Brasil será sede latina do Citigroup na gestão de caixa de multinacionais

Valor Econômico
Fernando Travaglini

O Citigroup vai centralizar no Brasil o comando da área de transações globais para a América Latina, que cuida da gestão de caixa das grandes multinacionais, entre outros serviços como financiamento à exportação e custódia. O novo chefe da área, o argentino Fernando Iraola, chega com a responsabilidade de ganhar mercado para uma das divisões que mais crescem dentro do banco americano e em meio a um aumento da importância da subsidiária brasileira.

O responsável pela área, chamada de global transaction services (GTS), era Francisco Aristeguieta, venezuelano que ficava baseado no México. Aristeguieta foi promovido a presidente do Citi para América Latina, no lugar de Manuel Medina-Mora, que passa a ser o principal executivo de “consumer banking” nas Americas.

A novidade foi trazida pelo chefe global do GTS, Francesco Vanni d”Archirafi, em sua visita anual ao Brasil. Segundo ele, o país vem ganhando importância tanto pelos investimentos necessários em infraestrutura quanto pelo interesse crescente de multinacionais pelo Brasil.

“Precisamos estar onde nosso cliente está. E ouvimos dos nossos clientes globais que eles querem estar no Brasil”, disse Vanni, em entrevista ao Valor. Ele cita como polo de atração não só os investimentos para a Copa do Mundo e Olimpíada, mas também a necessidade de buscar recursos para a exploração do petróleo do pré-sal.

O GTS ganha cada vez mais espaço dentro do Citigroup. A área é responsável por vários serviços prestados para empresas, governos e bancos, desde a simples gestão de caixa (cash management) até o financiamento do comércio internacional, passando pela custódia de títulos públicos e privados. O fluxo diário de recursos pelos sistemas do Citi supera a cifra de US$ 3 trilhões.

A grande vantagem do banco americano é sua capilaridade, presente em 97 países. Vanni sabe que essa é a principal diferença frente aos concorrentes e que permite atrair os grandes players globais.

“Quando pensamos em determinado país, temos uma série de competidores. Quando passamos para um serviço em um continente, ainda temos alguns competidores. Mas se acrescentarmos um novo país, em um novo continente, a lista de competidor se reduz muito. E se você fala em muitos países, em quatro continentes, aí somos basicamente nós”, diz.

Ele cita dois pontos positivos. O primeiro é o fato de que o Citi consegue oferecer, nesses países, a mesma plataforma, o mesmo padrão de serviço e a mesma capacidade de gestão. Além disso, o banco tem unidades próprias, ao contrário de seus concorrentes, que muitas vezes se valem de acordo com operadores locais.

No caso brasileiro, Vanni destaca a custódia e o financiamento à exportação, que abriu uma “incrível oportunidade” com o recuo dos bancos europeus em decorrência tanto da crise na região como das novas determinações de regulação bancária (Basileia). “Como passamos pela crise antes de todos, estamos cheios de capital e com liquidez em dólar”, diz Vanni.

“Há uma grande demanda por parte das empresas”, completa Cristiana Pires, que comanda o GTS no Brasil.

Dado o tamanho do banco e o foco que tem sido dado a essa área, ela é hoje uma das divisões que mais crescem no Citi, respondendo por 30% do lucro do grupo como um todo (o GTS lucrou US$ 3,4 bilhões no ano passado, enquanto o ganho do Citi foi de US$ 11,3 bilhões).

“A meta é atingir um terço nos resultados nos próximos anos, mesmo depois que o banco recuperar todo o seu poder de ganho, o que é muito mais do que fizemos em 2010 e 2011”, diz Vanni.

Para isso, o banco investe cerca de US$ 1 bilhão por ano em tecnologia. “Costumo dizer que somos uma empresa de tecnologia com licença de banco”, brinca. Desse total, um terço é destinado a ajustes decorrentes das regulações locais, um terço para atingir a demanda dos clientes e o restante é reservado as inovações (como os cartões pré-pagos, as melhorias em mobilidade e em segurança).

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