Brasil precisa de projeto de desenvolvimento

O economista Sérgio Mendonça tem uma carreira dedicada às questões que tocam a vida dos trabalhadores. Formado pela Universidade de São Paulo, ingressou como técnico no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no início da década de 1980 e prestou assessoria ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, em 82. Durante seus mais de 20 anos no Dieese passou pela coordenadoria e diretoria técnica. Em 2003 deixou a entidade para assumir o cargo de secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento do governo Lula.

Desde o ano passado está de volta ao Dieese e ao trabalho ao lado do movimento sindical. Na sexta, dia 7, esteve reunido com os dirigentes do Sindicato para fazer uma análise sobre economia, sistema financeiro brasileiro e situação dos trabalhadores, dando início aos debates que ajudarão a estruturar a campanha salarial dos bancários.

Mendonça foi enfático ao ser questionado sobre as declarações do ministro do desenvolvimento Miguel Jorge a favor da privatização do Banco do Brasil, da Caixa Federal e da Infraero: “no governo Lula não haverá privatizações e isso é parte de um projeto de governo”. Reconheceu, no entanto, que o Brasil não tem um projeto de desenvolvimento e que o governo acaba refletindo o hibridismo próprio da sociedade. “São as forças que fazem parte da coalizão que forma o governo.”

Crescimento – Apesar de reconhecer que o Brasil não está sob “céu de brigadeiro”, o diretor técnico do Dieese ressaltou que o país atravessa uma situação que não conhecia há muito tempo. “A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é maior que a inflação, o que significa dizer que economia e produtividade estão crescendo, sem alta da inflação. Expandimos nossa capacidade de produção em 20%, mesma ordem em que cresceu a massa salarial”, disse Mendonça apontando que esse é um bom cenário para as campanhas salariais. E ressaltou, “esse governo fez uma clara opção pelo desenvolvimento, com o Estado investindo forte no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”.

Questionado sobre a falta de política de desenvolvimento do governo, o economista destacou a importância que o movimento sindical terá nos próximos anos de gestão Lula para institucionalizar conquistas fundamentais para a sociedade brasileira, como a política de valorização do salário mínimo e das aposentadorias, do imposto de renda, do desenvolvimento sustentável com respeito a direitos e ao meio ambiente. “É preciso consolidar os avanços desses anos, compromissos têm que virar lei.”

O presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, concorda com Mendonça e vai além. “Precisamos lutar também pela implantação de uma política salarial de longo prazo e pela aprovação da Convenção 158 da OIT, que protege o emprego. Só assim iremos fortalecer ainda mais a classe trabalhadora.”

Bancos – Para o economista, há outra clara contradição na economia brasileira. “Apesar dos bons resultados da economia e do crescimento, não vai ser fácil baixar os juros porque mantê-lo em alta interessa a quem tem poder. Parte da sociedade é sócia da taxa de juro: os bancos que financiam a dívida pública, a elite que se interessa em manter a taxa alta em nome das suas aplicações”, disse, lembrando que o capitalismo, em todo o mundo, tomou outra face, de uma dinâmica dominada pelas finanças globais. “O sistema financeiro deveria existir para financiar avanços produtivos, mas hoje já não precisa mais do circuito produtivo para se expandir.”

Mendonça destaca que diante da grave crise dos bancos americanos, o Estado foi obrigado a intervir para salvar o sistema financeiro. “É necessário aproveitar esse momento de crise para tentar regular o setor, num movimento que deve vir da sociedade. A idéia está crescendo porque o mundo todo está cansado de ficar de joelhos diante das atitudes dos bancos.”

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram