Bônus de executivos dos bancos de investimento crescem 30% em 2010

Valor Econômico
Vanessa Adachi e Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo

Após uma das mais graves crises financeiras da história, os executivos de bancos de investimento no Brasil deverão ganhar neste ano bônus em média 30% acima dos obtidos no início de 2009, segundo relatam banqueiros. Mesmo os dirigentes de instituições financeiras internacionais com presença no Brasil deverão aferir seus ganhos de acordo com os lucros no país: não serão afetados pelo corte nos bônus a nível mundial.

Apesar de superiores aos pagos no início de 2009, os bônus deste ano não deverão superar os recebidos em janeiro ou fevereiro de 2008, após o recorde no mercado de emissão de ações de 2007 ter proporcionado ganhos sem precedentes para os bancos de investimento no país: US$ 2 bilhões em comissões somente com a atividade.

Em 2007, foram captados US$ 37 bilhões com ações, na comparação com US$ 25,5 bilhões no total de 2009. Os ganhos dos bancos com a atividade em 2009 devem ficar entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão.

Apesar disso, dependendo da posição ocupada e do banco, há casos em que a remuneração superou a de 2007, segundo presidente de banco estrangeiro.

Lá fora, a tendência geral tem sido de remunerações em alta, diante da recuperação dos resultados das instituições em relação às perdas generalizadas de 2008.

Isso tem desagradado a população dos países ricos. Afinal, os pacotes de ajuda trilionários que fizeram estourar o déficit público nos Estados Unidos e Europa engordaram mais os ganhos dos dirigentes dos bancos do que melhoraram a situação da população, que continua envolta em um mundo de desemprego crescente, crédito em retração e falência de empresas e bancos.

Com sua popularidade em baixa, os governos de Barack Obama, dos EUA, Nicolas Sarkozy, da França, e Gordon Brown, no Reino Unido, têm feito inúmeras ameaças aos dirigentes de bancos, que vão desde mais impostos até restrição de alavancagem e atividades de tesouraria. Sarkozy planeja um imposto sobre os bônus pagos aos executivos dos bancos equivalente aos 50% impostos no Reino Unido.

Ontem, segundo a “Reuters”, Brown voltou a propor a cobrança em todos os membros do Grupo dos 20 países mais ricos do mundo de uma taxa sobre os lucros dos bancos para recuperar o dinheiro dos contribuintes utilizado para salvá-los. Obama também tem defendido imposto semelhante.

Alguns bancos entenderam o recado e reagiram ao movimento, limitando os próprios bônus e mudando sua forma de apuração. O Crédit Suisse informou que estava reduzindo em 5% seu “pool” mundial de bônus para distribuir o custo do imposto sobre bonificações no Reino Unido – os maiores cortes recairão sobre os executivos de alto escalão em Londres, onde estima-se que as reduções fiquem na casa dos 30% em relação ao pagamento inicialmente previsto.

A subsidiária brasileira do CS, entretanto, é conhecida pela grande independência que possui em relação ao restante do grupo para determinar os bônus pagos. Portanto, tudo indica que os cortes não chegarão aqui.

O CS é conhecido por ser um dos bancos mais agressivos na remuneração de seus executivos – os salários ficam abaixo dos de mercado, mas o bônus são dos mais elevados. Desde que o CS comprou o Garantia, em 1998, o acerto com a matriz é que os bônus são pagos sobre o resultado brasileiro. Política diferente dos bancos americanos, onde o resultado global e regional têm grande peso sobre a remuneração local.

Outras políticas adotas pelo Credit Suisse nos países ricos, de pagamento de bônus vinculados a resultados futuros do banco, de remuneração variável maior para quem ficar mais tempo no banco no futuro, e de remuneração crescente por meio de ações, todas são aplicadas no Brasil.

Nas instituições estrangeiras de uma forma geral, entre as que já anunciaram as bonificações, cresceu a fatia paga em ações. Antes, apenas os executivos mais sênior recebiam parte em ações. Neste ano, funcionários em nível de analista ou associado também terão um componente em ações. E os mais graduados viram a porção em ações crescer. Alguns chefes de área chegam a receber 80% do bônus em ações.

No J.P. Morgan, a matriz americana chegou a fazer um comunicado em dezembro alertando sobre a possibilidade de que a remuneração variável local sofresse redução para ajudar a pagar a conta do imposto sobre os bônus que os bancos terão que recolher este ano no Reino Unido -a taxa, de 50%, não é recorrente, ou seja, incidirá só neste ano.

Agora quando os pagamentos foram definidos, no entanto, os cortes não vieram, ao menos no Brasil. Ao contrário, os bônus de executivos mais júnior, que haviam decepcionado em 2008, aumentaram substancialmente.

Com pouco tradição de pagamento de bônus por meio de ações, os bancos nacionais, como o Bradesco BBI e o Itaú BBA, tenderão a dar a seus executivos parcela maior em dinheiro. No BTG Pactual, os bônus foram “mais para o padrão Pactual do que para o padrão UBS”, diz um executivo, referindo-se à maior agressividade no pagamento.

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