BNDES emite CDBs pela primeira vez

Pela primeira vez em sua história, o BNDES começou a emitir Certificados de Depósitos Bancário (CDBs), uma forma de financiamento de curto prazo pouco usual para um banco que é um dos melhores créditos do mercado. O Valor apurou que o banco já emitiu R$ 400 milhões de CDBs de seis meses, vendidos a uma taxa entre 103% a 104% ao ano do CDI. A instituição de fomento tem autorização do Banco Central para fazer este tipo de operação.

A decisão de entrar no interbancário foi tomada pelo BNDES para resolver problemas de liquidez no curto prazo, enquanto aguarda capitalização do Tesouro para cobrir suas necessidades de empréstimos este ano. Na avaliação de fontes do mercado financeiro, a entrada do banco num mercado de crédito de curto prazo bastante apertado pode vir a criar dificuldades para outros bancos aumentando a concorrência por recursos. Os bancos privados viram recentemente o custo de captação aumentar no mercado interbancário. O Itaú e o Bradesco, por exemplo, que há dois meses captavam a taxas de 98% do CDI, agora captam a 105% do CDI, pois a menor liquidez lá fora impactou com força o mercado doméstico de crédito para estas instituições.

O BNDES, entretanto, pretende usar este mecanismo do CDBs para fortalecer seu caixa somente até contar com mais recursos do Tesouro. O banco está na expectativa de receber mais R$ 15 bilhões do Tesouro a juros de mercado de 12% sacramentado por meio de Medida Provisória (MP) , que será baixada em breve para cobrir o buraco de R$ 10 bilhões que precisa para fechar seu orçamento de R$ 80 bilhões este ano.

No primeiro semestre, já havia recebido um crédito de RS$ 12,5 bilhões do Tesouro corrigidos por custo de captação externa. Na terça-feira, o Conselho Curador do FGTS aprovou a liberação de R$ 6 bilhões para reforçar o caixa da instituição de fomento numa operação envolvendo os chamados CVS, títulos públicos da carteira do FGTS. Estes títulos foram originários do esqueleto do Fundo de Compensações Salariais (FCVS) dos anos 80, do antigo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que foram securitizados. Eles têm prazo de 30 anos e pagam juros de até 6,17% ao ano.

Os recursos em CVS são considerados pelo banco uma solução parcial para seus problemas financeiros e serão usados ocasionalmente para pagar dividendos de seu balanço para o Tesouro. O banco também poderia trocar CVS por debêntures de sua emissão com a Caixa, que administra o FGTS. Mas, a emissão da primeira tranche de debêntures simples do banco, de R$ 1,5 bilhão, programada para este mês foi suspensa temporariamente por causa do fechamento do mercado.

O banco não pretende desistir de contar com recursos do Fundo de Investimento em Infra-Estrutura criado por Medida Provisória com recursos do FGTS. Este FI tem hoje uma caixa de R$ 17 bilhões.

Estas operações de captação do BNDES junto ao governo, sejam do CVS, sejam do Tesouro e do FI de Infra-estrutura (remunerado com 6% ao ano) são descasadas em relação a TJLP, taxa de correção de boa parte dos empréstimos do banco, hoje em 6,25%. Mas, o fato não é visto como problema. Isto daí o banco vai resolver com a política de cesta de moedas, ou seja, cobrando de seus tomadores um custo “blend” de TJLP mais cesta de moedas (que leva em conta a desvalorização cambial).

A busca do banco por recursos não olha apenas o curto prazo. O BNDES já está tomando dinheiro para fortalecer seu caixa de 2009, quando antevê uma demanda por recursos mais aquecida ainda que a deste ano, já que a tendência é de redução da liquidez nos mercados caso deflagre a recessão americana. Até julho o banco já tinha aprovadas operações no valor de R$ 110 bilhões, que vão desembocar em desembolsos no ano que vem. Em princípio o banco cogita contar com orçamento de R$ 90 bilhões em 2009.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar hoje uma medida provisória que garante ao BNDES mais R$ 15 bilhões para reduzir a defasagem entre os recursos disponíveis para este ano e a demanda por financiamentos. A decisão, tomada na véspera, foi comunicada na tarde de ontem pelo presidente ao ministro da Coordenação Política, José Múcio Monteiro e ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Além desses R$ 15 bilhões do Tesouro, o banco já tinha conseguido, no primeiro semestre, outros R$ 12,5 bilhões em empréstimos da mesma fonte. Nesta semana, os integrantes do Conselho Curador do FGTS também aprovaram uma operação com títulos que vai dar ao BNDES mais R$ 6 bilhões. O total obtido pela instituição presidida por Luciano Coutinho, por enquanto, é de R$ 33,5 bilhões.

Outra solução identificada pelo governo é destinar parte dos recursos do Fundo Soberano do Brasil (FSB), cujo projeto está no Congresso. A orientação do presidente Lula é garantir os financiamentos essenciais para a indústria expandir-se.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram