Vanessa Jurgenfeld, de Florianópolis
As assembléias de acionistas do Banco do Brasil (BB) e do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) aprovaram ontem a incorporação do banco catarinense pelo BB. A operação, iniciada há mais de um ano, foi acertada em R$ 685 milhões, sendo R$ 411 milhões referente ao Besc e R$ 274 milhões pela Bescri, braço de crédito imobiliário do banco catarinense. O BB pagará o valor por meio de emissão de 23,1 milhões de ações.
O vice-presidente de varejo do Banco do Brasil, Milton Luciano dos Santos, disse que a aprovação pelos acionistas foi unânime. Os R$ 685 milhões vão entrar para o caixa do governo estadual e vão ser usados para abater parte da dívida que SC tem com a União, que hoje soma R$ 10 bilhões. O Besc antes da federalização do banco, ocorrida em 1999, era controlado pelo governo catarinense e houve um acordo entre Estado e União sobre a operação. O Estado também receberá R$ 250 milhões relativos à compra da conta salário dos servidores públicos estaduais, que será mantida no Besc/BB. Essa conta chegou a ser leiloada em dezembro de 2006, mas sua venda ao Bradesco foi posteriormente cancelada.
Com a incorporação, o BB se torna o maior banco do Estado em rede de agências. As suas 200 agências serão somadas a outras 252 agências do Besc, totalizando 452 agências. De 3,2 mil funcionários em SC, ele passa a ter 6,5 mil, e em contas correntes, o BB passa de 1,5 mil contas administradas em SC para 2,2 mil.
Santos destacou que serão seis meses de ajustes para acertar planos de carreira das duas instituições e as sobreposições de agências. Ele disse que em algumas cidades serão mantidas ambas as agências e em outras vão estudar a transformação de duas em uma ou fechamentos.
Ele reafirmou que 22% do total de clientes possuem contas nas duas instituições, que o banco pretende investir R$ 40 milhões na estrutura do Besc em SC neste primeiro ano e que manterá a marca Besc por cinco anos. Segundo Santos, SC passa a ser o Estado do Sul com o maior número de agências da instituição, ainda que continue sendo o menos representativo dentre os três em volume de operações financeiras.
O presidente do sindicato dos bancários de Florianópolis, Clóvis Dutra, apareceu ontem na coletiva de imprensa para protestar que o sindicato não foi chamado para participar do processo de incorporação. Destacou que são 147 agências sobrepostas e que há rumores de que um novo Plano de Demissão Incentivada (PDI) deverá ser feito dentro de 60 dias. Hoje há um PDI em andamento no Besc, com 539 pessoas inscritas. Santos rebateu dizendo que um PDI não está descartado porque isso faz parte da política de gestão, mas que não há nada em estudo.
Na avaliação de Dutra, a incorporação é “dos males o menor”. O sindicato era contra a operação e defendia que o banco se tornasse uma instituição regional, atuando em parceria com Badesc e BRDE. Ele reclamou que não há ainda garantia dos empregos, nem isonomia salarial. “O piso dos funcionários do BB é, em média, 28% maior do que o dos funcionários do Besc”.
Sobre a crise americana, o vice-presidente do BB disse que ela não impacta em metas de crédito já divulgadas pelo banco, mas que pode ocorrer problemas em linhas de financiamento de exportação ACC/ACE com encurtamento de prazo por conta da dificuldade de funding. “Mas não estamos suprimindo nenhuma linha”, disse. Como conseqüência possível em relação às outras negociações de incorporação que estão sendo negociadas pelo banco, ele destacou que a queda de preços no mercado acionário poderá fazer com que “os que queriam vender, agora não queiram mais”, disse, destacando a exceção do Banco do Estado da Paraíba (BEP) neste caso, uma vez que ele também se encontra nas mãos da União. O BB negocia incorporação do Banco de Brasília (BRB) e da Nossa Caixa.