O Estado de São Paulo
Edna Simão, BRASÍLIA
Mesmo com o forte aumento nas concessões de empréstimos durante e após a crise financeira global, os bancos públicos – Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – mostram que a capacidade de expansão não está esgotada e começam a disputar, entre si, mercados como o das médias, pequenas e microempresas.
Nesta semana, a Caixa aderiu ao Fundo Garantidor de Operações (FGO), administrado pelo Banco do Brasil (BB), para oferecer até R$ 200 milhões em empréstimos ao pequeno e microempresário. Mas já avisou que pretende criar seu próprio fundo garantidor.
O fundo garantidor serve para complementar as garantias exigidas das empresas em empréstimos e financiamentos bancários e permite que as taxas de juros sejam até 30% menores que as oferecidas em modalidades convencionais de crédito.
“Se tivermos nosso próprio fundo, poderemos ter ganhos na margem importantes”, justificou o superintendente nacional de Pequenas e Microempresas da Caixa, Zaqueu Soares.
Segundo Soares, o conselho de administração da Caixa aprovou R$ 8 milhões para operações no âmbito do FGO para pequenas e médias empresas. A alocação para o fundo, no entanto, será gradual.
“Fizemos um aporte (de R$ 1 milhão) para conceder até R$ 200 milhões em empréstimos. Esse valor vai suportar de três a quatro meses de operações”, ressaltou o superintendente. “Não posso colocar todos os recursos no FGO se tenho a pretensão de criar um fundo semelhante.”
Para o superintendente, a Medida Provisória (MP) 464, que autorizou a União a participar com até R$ 4 bilhões em fundos para garantir risco das operações de pequenas e médias empresas, permite que a Caixa crie seu próprio fundo. A ideia é ter algo semelhante ao do BB. Soares não informou de quanto seria a participação da União do novo fundo.
Em junho, quando editou a MP 464, o governo federal tinha como objetivo atender a um público que não estava conseguindo pegar dinheiro emprestado por causa da falta de garantias. O FGO, gerido pelo BB, iniciou suas operações no dia 20 de agosto, com patrimônio de R$ 595 milhões – R$ 580 milhões aportados pelo governo federal, que estima que esse valor possa chegar a R$ 2,5 bilhões nos próximos períodos -, e R$ 15 milhões pelo BB, que prevê contribuição de até R$ 100 milhões.
Para se habilitar a utilizar o fundo, as instituições financeiras devem contribuir com 0,5% do valor garantido em carteira. Em setembro, o fundo recebeu, também, o aporte da Nossa Caixa. Pelo menos, por enquanto, nenhum banco privado se interessou em oferecer empréstimo lastreado no FGO.
Balanço divulgado pelo BB mostra que, em dois meses de funcionamento, os empréstimos lastreados pelo FGO ultrapassaram R$ 720,2 milhões e respondem por cerca de 30% do total desembolsado para pequenas e microempresas. Foram feitos 22 mil empréstimos de valor médio de R$ 33 mil.
As Regiões Sudeste e Sul foram as que mais contrataram, com 40% e 30% das operações, respectivamente. As operações foram concentradas nos setores de comércio (57,4%) e serviços (26,2%), com clientes cujo faturamento médio anual é de cerca R$ 980 mil.
BRIGA ANTIGA
O desejo da Caixa de criar um fundo garantidor é mais um capítulo da disputa entre a instituição financeira e o BB. Internamente, os bancos já tiveram embates no crédito imobiliário e até mesmo no patrocínio de modalidades esportivas.
Apesar do boom dos financiamentos imobiliários, o Banco do Brasil, após meses de espera, somente no ano passado conseguiu autorização do Banco Central para atuar nesse segmento do mercado. Nos bastidores, existiam boatos de que a Caixa pressionou para autorização do BB não saísse.
No caso dos patrocínios esportivos, o BB desistiu da ideia de investir em corridas de rua. Essa era uma estratégia para ampliar o número de correntistas da instituição.