Thais Folego
Valor Econômico – São Paulo
O mercado de meios de pagamentos voltado para o comércio eletrônico acaba de ganhar um concorrente de peso, que promete aumentar a competição no segmento. Bradesco, Banco do Brasil e Cielo anunciaram ontem a criação da Stelo, empresa intermediadora de pagamentos on-line para estabelecimentos comerciais e “carteira virtual” para consumidores.
A nova companhia marca a entrada dos bancos em uma seara até então de companhias independentes e ligadas a empresas de internet, como PayPal, Mercado Pago (do Mercado Livre), PagSeguro (do Uol) e Moip. Conhecidas como “facilitadoras de pagamentos”, essas empresas são uma alternativa para o varejo às credenciadoras tradicionais (como Cielo e Rede) para aceitar compras com cartão. O principal apelo é assumir os riscos de fraude, que na compra on-line fica com as varejistas.
“Essa é a primeira empresa do gênero criada por bancos na América Latina”, diz Marcelo Noronha, diretor-executivo do Bradesco. Segundo ele, o comércio eletrônico transacionou R$ 52 bilhões no ano passado, incluindo as empresas aéreas. A estimativa é de que ele alcance R$ 74 bilhões em transações até 2016.
Segundo Igor Senra, presidente-executivo do Moip, entre 20% e 30% do volume de comércio eletrônico passam pelas facilitadoras. Ele lembra, porém, que o escopo de atuação dessas empresas cresceu e agora elas atuam também em transações do mundo físico. Nas brechas deixadas pelas grandes credenciadoras, elas tentam conquistar espaço entre pequenos lojistas usando leitores de cartões acoplados a celulares e tablets. “Aí o volume é ainda maior. Só as vendas porta a porta movimentam R$ 50 bilhões no país”, diz Senra.
A meta da Stelo é capturar R$ 2,5 bilhões em transações de e-commerce e ter quatro milhões de usuários ativos (pelo menos uma transação por mês) até 2016. Para 2018, a meta é ter R$ 9 bilhões em transações e dez milhões de usuários. “Nossas alavancas de crescimentos são muito fortes, pois vamos atuar simultaneamente nas duas pontas: no credenciamento de estabelecimentos e na captação de consumidores com a carteira virtual”, diz Ronaldo Varela, diretor-presidente da Stelo.
A Stelo está em fase de teste operacional e vai entrar efetivamente em operação no segundo semestre. Segundo Varela, a plataforma tecnológica da companhia foi desenvolvida dentro de casa, integrando ferramentas próprias com a de fornecedores de tecnologia mundiais, caso da plataforma de análise de risco.
A Stelo está embaixo da estrutura da Elo Participações, holding em que BB e Bradesco concentram seus investimentos em empresas de meios de pagamentos, como a Cielo, a bandeira de cartões Elo e a empresa de vouchers de alimentação Alelo.
A entrada da Cielo no negócio ainda depende da aprovação de órgãos reguladores. Segundo Rômulo Dias, presidente da credenciadora, a Cielo terá uma participação de 30% na nova empresa. Dessa forma, Bradesco e BB ficarão com 35% cada um. Questionado sobre um potencial conflito de interesses, uma vez que a Cielo tem entre seus clientes outros facilitadores, Dias disse que as duas empresas são segregadas, com operações e administração distintas.
Varela diz que a Cielo será a rede de captura de transações preferencial da empresa, mas que não há exclusividade. “Oportunamente vamos integrar o sistema com outras credenciadoras do mercado”, diz. Segundo ele, a Stelo deve trabalhar com preços mais competitivos para o lojista do que os praticados hoje no mercado.
“Isso não significa que teremos subsídio de taxas, mas sim por nossa eficiência operacional”, diz Varela. As taxas praticadas pelos facilitadores hoje variam entre 2% e 8% do valor da transação, dependendo do volume e dos serviços prestados.
Para o consumidor final, a Stelo vai oferecer dois produtos: uma carteira virtual, que vai aceitar cartões emitidos por diversos bancos, e um moedeiro, espécie de conta pré-paga virtual. A Caixa Econômica Federal já oferece para seus clientes uma carteira virtual em parceria com a bandeira MasterCard, chamada de MasterPass.