Valor Econômico
Adriana Cotias, de São Paulo
A partir de hoje, 22 dos 27 fundos da Nossa Caixa recebem o selo de gestão, custódia e administração da BB DTVM. Após a aquisição pelo banco federal há pouco mais de um ano, esta é a etapa mais importante no processo que vai culminar na unificação das estruturas de gestão de recursos de terceiros e extinção da asset do banco paulista.
Será a primeira área a ser integrada ao conglomerado Banco do Brasil, que em 2010 tem pela frente um cronograma pesado de conversão da rede em São Paulo à placa BB. A instituição Nossa Caixa como pessoa jurídica já deixa de existir em 30 de novembro, quando os acionistas devem aprovar em assembleia a incorporação pelo BB.
Por ora, a migração dos fundos da Nossa Caixa não representará mudanças aos cotistas. Nenhum fundo da instituição, mesmo que esteja classificado em categoria similar, será incorporado às carteiras existentes na grade da BB DTVM, segundo o presidente interino da instituição, Carlos Massaru Takahashi. “Este é o maior movimento no processo de integração da área de gestão, que está em estágio adiantado em relação ao banco”, afirma.
Para os clientes da rede Nossa Caixa, eventuais benefícios serão percebidos no futuro, quando os investidores passarem a ter acesso a todo o portfólio de produtos da BB DTVM, acrescenta o diretor de Gestão de Recursos de Terceiros da Nossa Caixa, Aroldo Medeiros. Dos 275 funcionários da instituição, mais de 10% integram a equipe de análise e pesquisa, com expertise para avaliar ações e papéis de crédito privado. “São especialistas em diversos segmentos e tudo isso vai agregar valor aos cotistas que não contavam com uma estrutura desse porte”, afirma.
Oriundo da BB DTVM, Medeiros foi nomeado em março para tocar as etapas da integração. Em junho, 36 fundos administrados pela BB DTVM começaram a ser distribuídos na rede da Nossa Caixa. Com o reforço de produtos e todo o trabalho de catequização nas agências, de lá para cá houve um crescimento de mais de 30% nos recursos sob gestão só no varejo, a R$ 10,7 bilhões. O patrimônio global da gestora neste ano apresentou, por sua vez, incremento de 35%, para R$ 31,1 bilhões. O foco na oferta de fundos, treinamento dos gerentes e programas de incentivo explicam tal evolução, conta Medeiros.
Com o desempenho, a Nossa Caixa deu grande contribuição para que a BB DTVM firmasse a sua liderança na área de gestão de recursos de terceiros, diz Takahashi. Já com os dados consolidados das duas gestoras, a instituição tinha, na semana passada, sob o seu guarda-chuva R$ 308 bilhões de patrimônio, com uma participação de mercado de 21,5%. É uma distância razoável do segundo lugar, o Itaú Unibanco, que fechou setembro com R$ 259 bilhões, de acordo com o ranking global (que inclui fundos e recursos administrados) da Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima, resultado da união da Anbid com a Andima).
No segmento de gestão de recursos de terceiros, o BB terá um vasto universo para avançar na base da Nossa Caixa, dado que ainda é baixa a relação entre correntistas e investidores e há quase 4 milhões de poupadores que podem se converter em cotistas dos fundos.
Depois de os ativos brasileiros se recuperarem dos reveses de 2008, o cenário para 2010 segue promissor, na visão de Takahashi. “Os fluxos voltam a ser regulares para a indústria de fundos, que vai encontrar oportunidades interessantes em renda fixa, com papéis de crédito privado, e em renda variável, com a economia girando a um ritmo melhor do que os países desenvolvidos.” Com a Olimpíada e a Copa do Mundo em perspectiva e a mudança nas regras de alocação dos fundos de pensão, o quadro não podia ser mais favorável para o setor, acrescenta. “O Brasil ainda é um mercado novo, mas o Chile, por exemplo, tem um volume total de investidores semelhante ao nosso e o setor de fundos chega a um PIB, é uma proporção muito interessante.”
Quem ficará no comando da BB DTVM depois de finalizado o processo de incorporação da Nossa Caixa ainda é uma incógnita. Funcionário de carreira, Takahashi assumiu a presidência interinamente no fim de outubro, no lugar de João Ayres Rabello, que saiu da instituição para comandar o Tribanco. O que se comenta nos bastidores é que o atual presidente da Nossa Caixa, Demian Fiocca, seria o mais cotado para ficar com o posto.