Vazamento de nomes atende estratégia de defesa prévia, afirma Pimenta
A divulgação pelo portal UOL e pelo jornal O Globo de que proprietários de importantes veículos de comunicação e jornalistas brasileiros mantiveram contas secretas no HSBC na Suíça atende a uma estratégia prévia de defesa dos “barões da mídia”. Foi o que sustentou ao portal Brasil247 neste sábado (14) o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).
O surgimento dos nomes acontece menos de uma semana após a Embaixada da França firmar compromisso com o governo brasileiro para repassar a lista completa dos 8.667 brasileiros relacionados no escândalo.
A notícia veiculada no UOL e em O Globo é sintomática, avalia Pimenta. Segundo ele, a pressão da sociedade, por meio das redes sociais, pela revelação dos brasileiros relacionados no escândalo, precipitou o surgimento dos nomes dos empresários da mídia.
“Não parece um paradoxo que o jornalista Fernando Rodrigues tenha convidado justamente O Globo para auxiliar na pesquisa dos dados do Swissleaks?” questiona. Rodrigues, que trabalha no UOL, tem exclusividade de acesso aos dados das contas secretas no HSBC divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos.
Na reportagem deste sábado de UOL e O Globo, surgiram nomes como Otavio Frias, do Grupo Folha, que controla o UOL. E também Lily Marinho, falecida em 2011, ex-mulher do fundador das Organizações Globo, Roberto Marinho (também já morto).
Há ainda nomes como o do apresentador Ratinho, do SBT, Jhonny Saad, do Grupo Bandeirantes, e de José Roberto Guzzo, colunista e membro do conselho editorial da Abril.
“Não podemos aceitar essa seletividade filtrada por Uol e Globo”, critica Pimenta. “Essa reportagem só confirma nossa denúncia de vazamento seletivo de modo a conduzir a opinião pública numa direção específica”, reforça.
Privatizações
O deputado já encaminhou requerimentos ao Ministério da Justiça e à Procuradoria Geral da República, pedindo ações para investigar eventuais crimes na remessa de dinheiro para o HSBC suíço. Também esteve no Banco Central e com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid.
Nesta semana, em reunião com o ministro José Eduardo Cardozo, Pimenta recebeu a informação de que estão adiantadas as tratativas com a Embaixada da França para que o Fisco daquele país, depositário institucional das informações do consórcio de jornalistas, entregue todos os dados às autoridades nacionais.
O gaúcho lembra que países como a própria França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Argentina e Austrália já conseguiram repatriar US$ 1,360 bilhão das contas secretas do HSBC em razão de movimentações irregulares.
Pimenta pondera que nem todas as contas podem ser consideradas ilegais. Mas sustenta que o histórico do dinheiro que chegou às contas do banco suíço pode levar ao crime original, como já revelado em casos envolvendo contraventores e traficantes de drogas.
O deputado tem interesse especial em por a lupa sobre possíveis personagens envolvidos nas privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) entre os anos de 1997 e 2001. “Tenho convicção de que esta investigação vai nos permitir fazer o caminho inverso ao dinheiro e resgatar um período importante da vida pública nacional, que até hoje permanece nos subterrâneos”, acredita.
Pimenta também mantém contatos frequentes com o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), artífice da CPI do HSBC (ou CPI do Swissleaks), instalada no Senado pelo presidente Renan Calheiros (PMDB-AL). Os líderes dos partidos já indicaram representantes.
O deputado acha que a comissão pode jogar luz em muitos casos envolvendo evasão de divisas, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.