O Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, ficou pequeno para o tamanho da disposição dos Banrisulenses na Audiência Pública de Instalação da Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público, na noite desta quarta-feira (22). Mais de 600 colegas literalmente vestiram a camisa azul da campanha em defesa do Banrisul público lotaram o local. O Ato foi um marco simbólico e mandou um recado aos governos de José Ivo Sartori e de Michel Temer, ambos do PMDB. A mobilização pela luta dos Banrisulenses vai ganhar as ruas do Estado para um debate sobre a importância do Banrisul para o desenvolvimento e a economia do Rio Grande do Sul.
Proposta e coordenada pelo deputado estadual Zé Nunes, do PT, a audiência pública de instalação da Frente Parlamentar aprovou uma carta ao povo gaúcho e vários encaminhamentos. Um deles é marcar imediatamente uma audiência com o governador Sartori. Além disso, a Frente Parlamentar terá a tarefa de, junto com os banrisulenses e trabalhadores de outras empresas púbicas ameaçadas de privatização (CRM, Sulgás, CEEE e Corsan) estimular a formação de Frentes Parlamentares Municipais e mocrorregionais.
O presidente da Contraf-CUT, Roberto Van der Osten, participou do ato e lembrou da conjuntura política nacional de retirada de direitos dos trabalhadores e de uma retomada da entrega de bancos públicos iniciada nos anos 1990. “Este movimento talvez só seja possível, nesta conjuntura, no RS. Precisamos lutar para que não aconteça o que vimos acontecer quando nos anos 1990 a privatização de bancos públicos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná, tirou todo o poder de decisão, a ferramenta de crédito dos bancos públicos e entregou para a iniciativa privada. Os estados que se desfizeram dos seus bancos públicos não resolveram as suas situações de dívida, de mercado e perderam oportunidade de fomentar e resolver problemas de desigualdade”, salientou.
O presidente do SindBancários, Everton Gimenis, fez um alerta importante a respeito da luta dos Banrisulenses e dos gaúchos e gaúcha em defesa do Banrisul público. No momento de sua fala, Gimenis saudou as mulheres bancárias presentes ao ato, o ex-governador Olívio Dutra e puxou a palavra de ordem “O Banrisul é nosso”, repetida em uníssono pela plateia. “Não vamos deixar entregar o banco. Parabéns a cada um e cada uma que tirou o tempo do seu dia, saiu da sua agência. Não dá para acreditar em promessa de governo. Na década de 1990, o Britto disse que era mentira que ia vender a CEEE e a CRT e foi lá e vendeu. O governador Sartori já foi desejar vida longa a TVE e extinguiu a TVE junto com outras com outras fundações. Vamos organizar a sociedade, discutir com cada um dos gaúchas. Debater o que significa a entrega deste patrimônio que é o Banrisul. O Banrisul é nosso”, disse Gimenis.
A diretora da Fetrafi-RS e funcionária do Banrisul, Denise Falkenberg Corrêa, exaltou a importância da luta dos trabalhadores do Banrisul não apenas em função da defesa de seus empregos. “Fazemos isso mais do que trabalhadores e empregados do banco. Fazemos enquanto cidadãos do estado. Lutamos pelo futuro do Banriusl e pelos gaúchos. Nós que defendemos o patrimônio público somos tachados de ultrapassados. Não tem nada de moderno nisso de entregar o patrimônio público para vários interesses”, discursou Denise.
O presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, lembrou dos inimigos do patrimônio púbico, da defesa que estes fazem dos interesses privados e da lei da terceirização que estava sendo votada na Câmara dos Deputados. “Este dia 22 de março, passa para a história pela instalação dessa potente frente em defesa do Banrisul público. Cada agência vai ser transformada em uma trincheira em defesa do Banrisul. Este dia passará também para a história como uma tragédia. Estão votando o fim do emprego decente e instalando a terceirização na Câmara dos Deputados.
Banrisul sob risco de federalização
O coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público, o deputado estadual Zé Nunes, chamou a atenção para a narrativa do governo Sartori em conluio com o governo Temer e lembrou da estratégia de confusão que costumam causar quando falam em federalizar o Banrisul. Zé Nunes fez um breve relato do histórico recente de tramitação na Assembleia Legislativa dos pacotaços de Sartori, alertou que o Regime de Renegociação da Dívida do Estado, propostos pelo governo Temer, propõem a venda de todo o patrimônio do Estado em troca de uma moratória de três anos sem pagar dívida e de aumeto de R$ 30 bilhões no estoque da dívida.
“O nosso Banrisul está sob risco. Vivemos no último período de uma visão política que se encaminha para uma profunda redução do tamanho do estado e do Estado como protagonista do desenvolvimento. Tramitam aqui na Casa projeto de Emendas Constitucionais que encaminham a venda da CRM, Sulgás e CEEE. Vocês têm toda a legitimidade para defender o Banrisul, Para defender e lutar pelos seus empregos. Aqueles que criticam e dizem que essa é uma pauta meramente corporativista são os mesmos que querem entregar o patrimônio público para a iniciativa privada. Federalizar o Banrisul é a mesma coisa que privatizá-lo. É delegar a venda para o governo federal”, acrescentou Zé Nunes.
O presidente da Assembleia Legislativa, Edegar Pretto, exaltou a importância da manutenção do consenso construído desde 2007 para a alternância de partidos na presidência da Casa e sobre a questão da dívida do Rio Grande do Sul. “Conseguimos construir um consenso e fomos ao governador Sartori, falando da compensação das perdas que o nosso Rio Grande tem. Que não sejam os R$ 43 bilhões, mas que seja R$ 4 bi, R$ 10 bi. Se entregasse o CEEE, a CRM, a Sulgás, quase não chega a esse valor. Por ano temos uma perda acumulada de R$ 4 bilhões. A dívida que pagamos é de R$ 3 bilhões. Na pior das hipóteses, o Rio Grande não pagaria mais essa dívida”, salientou.
Leia a seguir os depoimentos de todos os representantes de entidades de trabalhadores, de movimentos sociais de deputados estaduais presentes ao Ato de Instalação da Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público:
Ana Spadari Sinergisul
“Somos o maior exemplo de que privatização não dá certo e que não traz nenhum benefício para o Estado. A CEEE teve dois terços de sua transmissão privatizada em 1997. Os consumidores sabem a diferença do atendimento da CEEE e da iniciativa privada. Não estamos falando apenas de uma questão corporativa, mas de um modelo de estado. O Sartori não é o dono do Rio Grande. Onde estiver um eletricitário, terá um trabalhador dizendo: o Banrisul é nosso. Fora, Sartori. Teus dias estão contados. Deu pra ti, Sartori.”
Mauro Vinícius Silva – vice-presidente da Ascopa (Associação dos Comissionados do Banrisul de Porto Alegre e Região Metropolitana)
“Trabalho há 28 anos no Banrisul. Desde o início quando fui convidado a participar do Grupo de Trabalho da Frente Parlamentar, temos construído algo suprapartidário para defender a locomotiva do estado do RS. Essa locomotiva se chama Banrisul. Hoje, vendo o Dante Barone completamente lotado me dá muito mais força. O recado que passamos para o governo do estado, para o governo federal, é que ele pode negociar o que ele quiser, menos o Banriusl. Com certeza, a defesa do Banrisul vai ajudar a defender a Sulgás, a CRM, a Corsan e a CEEE.”
Amauri Perusso – presidente da Fenastc (Federação Nacional da Entidades dos Servidores dos Tribunais de Contas do Brasil)
“A dívida pública do RS já está paga é o que mostram os auditores discais. O que o Sartori está fazendo é entregar patrimônio para que a dívida cresça mais R$ 30 bilhões. Estamos enfrentando o sistema financeiro e o sistema financeiro não tem nenhum respeito pela produção, pela vida, pelos trabalhadores de todo o país. Na auditoria cidadão da dívida, soubemos que o orçamento de 2017 vai ser 50,1% gasto com juros da dívida pública brasileira. O que fazer neste momento? Não vamos vender a CEEE, a CRM, a Sulgás. Não vamos vender nada. A derrota deles é aqui. É só a gente ampliar a pressão.”
Átilo Escobar, presidente Núcleo Leonel Brizola do Banrisul
“É um simplista dizer que estamos aqui para defender o nosso emprego. Estamos aqui para defender aquela comunidade que está trabalhando para fomentar a economia de uma cidade com 2 mil habitantes. Como entregar o patrimônio e passar a dever mais 30% do valor da dívida do Estado? O que é isso? Entregar o patrimônio e ficar devendo mais? Por que veio pessoal de Brasília avaliar o Banrisul, se eles não têm intenção de vender?”
Juliana Brizola – deputada estadual PDT
“Venho hoje aqui para me alistar como uma soldada. Porque é esta a situação que está vivendo o nosso estado e o nosso país. Estamos vivendo momentos muitos tristes. Quando me lembro da luta do meu avô Leonel Brizola, fico mais chateada. Foi uma vida de luta muito dura na Campanha da Legalidade, em 1961, e contra a Ditadura, em 1964. Osgovernos Sartori e Temer querem vender patrimônio público, privatizarem tudo o que puderem por aqui por um motivo que meu avô sempre dizia. Para defender interésses.”
Gilberto Capoani – deputado estadual PMDB
“Eu não tinha compreendido bem num primeiro momento a frente parlamentar. Porque não existe nenhuma possibilidade que tire a obrigatoriedade de plebiscito do RS. E se vier ela vai ser rechaçada pelo parlamento gaúcho. Rigotto me chamou para assumir diretoria do Banrisul. Fui gerente geral do Banco do Brasil por 27 anos. Eu não estava aceitando porque não conhecia. O Banrisul chega na família e na alma do povo gaúcho. Que venha algum projeto de plebiscito que eu quero pregar a defesa do banco público. Obtivemos a palavra do governador que não virá nenhuma proposta. Que não venha e se vier, vamos defender o Banriusl. Estejam sim vigilantes porque o Banrisul é forte, rico e que tem uma fatia importante do mercado do Rio Grande.”
Manuela D’Ávila – deputada estadual PCdoB
“Tenho ouvido algumas pessoas atribuírem a um gauchismo a defesa do Banrisul. A construção deste argumento é a construção política que tenta ignorar o papel de cada uma das trabalhadoras e trabalhadores do Banrisul na construção de um projeto de desenvolvimento econômico do Estado. Precisamos construir a ideia de que o Banrisul é nosso porque ele é estratégico para o Rio Grande sair da crise.”
Ronaldo Santini – deputado estadual PTB
“Nós discutimos muito este assunto internamente especialmente com a presença de Flavio Lammel, ex-vice-presidente do Banrisul, na bancado do nosso partido aqui na Assembleia. Não dá para abrir mão de um banco que é o primeiro a ser lembrado quando o Estado precisa como aconteceu recentemente no financiamento do 13º e do salário atrasado. Não vamos baixar a guarda em nenhum momento.”
Ciro Simoni – deputado estadual do PDT
“Estou muito honrado de ter assinado a frente. Getúlio Vargas, que me inspira, foi o responsável pela criação do Banrisul. Vim trazer uma notícia. Para esta Casa, não vai vir nenhum projeto de privatização do Banrisul. Não tem nesta Casa espaço de votação de qualquer projeto de privatização do Banrisul. Mesmo que seja convocado o plebiscito, não vai ter espaço para a privatização do Banrisul.”
Pedro Ruas – deputado estadual PSOL
“Venho trazer uma mensagem de enfrentamento e unidade. Sustento desde 2015 que estão na mira do Sartori o Banrisul e a Corsan muito antes do governo federal fazer essa exigência. Cuidado, cautela no nosso otimismo. Muito antes do golpista Temer fazer toda esta articulação, aqui no RS o núcleo duro do governo Sartori já virava o Banrisul e a Corsan para a venda. O golpista Temer e seu governo eles são o argumento aqui do Sartori. Ele não se sente com coragem porque tem um governo fracassado onde nada dá certo.”
Adão Villaverde – deputado estadual PT
“Com tantos problemas para resolver no Rio Grande, por que ele está preocupado em vender o Banrisul? Todos os dias a gente vê na imprensa movimento dúbio. Não podemos ser ingênuos neste processo. Porque, quando em Brasília, congelam por 20 anos os recursos para segurança, saúde e educação, isso não pode ser entendido como fato isolado. Está em curso no Brasil e no mundo, uma ideia de reforma do Estado. Não há nenhuma dúvida se depender das iniciativas deste governo ele está articulado com as antirreformas do Temer no país. Temos que criar comitês municipais. Cada município tem que ser uma trincheira em defesa do Banrisul.”
Juliano Rosso – deputado estadual PT
“A História reserva um lugar na vida das pessoas. Aqueles que defenderam o Banrisul, Leonel Brizola, Olívio Dutra, têm um lugar na História. Aqueles que querem vender o Banrisul não têm lugar na história, e aí tem Yeda, Britto e Sartori. Temos que defender esse banco público que é estratégico para a vida de todos nós. O Sartori é o Brittismo. O Sartori quer entregar o patrimônio público em troca de três anos de moratória da dívida do RS. E vai aumentar em R$ 30 bilhões a dívida do Estado. Isso é um crime e tem que ser denunciado.”
Stela Farias – deputado estadual PT
“Fico emocionada porque sou filha de Banrisulense que se aposentou com 35 anos de trabalho no banco. Os tempos obscuros que vivemos nos levam a juntar a fome com a vontade de comer. Temer e Sartori é a junção da fome com a vontade de comer. É o fim dos direitos dos trabalhadores. Foram conquistas duras da classe trabalhadora brasileira. Separou trabalhadores públicos e privados na previdência. Ele chama de reforma o que sabemos que é o desmonte da Previdência Pública. Só temos uma saída. Eles querem tudo o que é púbico. Temos que resistir. Irmos às ruas e à luta.”
Tarcísio Zimmermann – deputado estadual PT
“Sei que nossa luta é dura, difícil, mas a boa notícia é que estamos reagindo. Estamos conseguindo levantar as nossas bandeiras e trabalhamos com mais unidade entre nós. Esta concretização pública de uma luta feita há meses é uma demonstração de que nós estamos avançando. Temos aqui também travado uma batalha dura. Estamos conseguindo reverter o jogo de derrotas que vinha ocorrendo até agora. Estamos começando a reverter esse jogo graças à luta dos gaúchos”.