Banqueiros reconhecem falhas, mas não se desculpam por crise

Agência Reuters
Kevin Drawbaugh

Os executivos de Wall Street reconheceram que “assumiram muito risco”, mas não se desculparam diante de uma comissão que investiga as origens da crise financeira mundial.

A primeira audição pública da Comissão de Averiguação da Crise Financeira ocorreu na quarta-feira, em um momento em que o governo norte-americano prepara uma medida para recuperar, por meio de uma tarifa especial, parte do dinheiro dos contribuintes usado para resgatar os bancos e enquanto os formuladores de política debatem mudanças na regulação financeira.

Phil Angelides, presidente do conselho da comissão e ex-tesoureiro da Califórnia, confrontou o presidente-executivo do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, sobre as práticas de sua empresa antes do colapso mundial.

Angelides comparou a prática do Goldman de criar e depois apostar contra alguns ativos atrelados a hipotecas a “vender um carro com freios falhos e depois obter um seguro para o comprador”.

Blankfein respondeu que ainda havia demanda para esses produtos e depois comparou a crise a uma série de furacões atingindo os mercados de capital.

Angelides retrucou: “Senhor Blankfein…, tendo sido do conselho da Autoridade de Terremotos da Califórnia, (digo que) atos de Deus são isentos. Esses (crise) foram atos de homens e mulheres”.

Também participaram da audição os presidentes-executivos do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, do Bank of America, Brian Moynihan, e o presidente do conselho do Morgan Stanley, John Mack.

Os quatro executivos reconheceram que o sistema financeiro ficou demasiadamente alavancado nos anos antes da crise e que suas empresas não conseguiram administrar o risco resultante disso.

“Chegamos a uma complacência à qual não deveríamos ter chegado e que, depois desses eventos, não acontecerá novamente durante minha vida”, disse Blankfein.

Stanley, do Morgan, reconheceu os problemas criados por sua empresa e por outras durante a bolha do setor imobiliário.

“Em alguns produtos de hipotecas, nós cozinhamos nós mesmos e acabamos nos engasgando. Assumimos posições e elas não deram certo”, disse ele, acrescentando que o Morgan Stanley não colocou recursos suficientes na administração de risco antes da crise.

Dimon, do JP Morgan, disse à comissão ser legítima a preocupação de que os bônus contribuíram para uma tomada excessiva de risco, mas que as práticas de seu banco “foram e continuam apropriadas”.

O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse a jornalistas que um pedido de desculpas dos executivos deveria ser “a última coisa que alguém pode esperar deles”.

A sessão desta quinta-feira contará com outras autoridades, como o procurador-geral norte-americano, Eric Holder, a presidente da Securities and Exchange Commission (órgão regulador do mercado), Mary Schapiro, e a presidente do Federal Deposit Insurance Corp, Sheila Bair.

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