O combate a todas as formas de exclusão, entre elas a discriminação por gênero e raça no setor bancário, que o movimento sindical faz há tempos junto à Febraban começa a render frutos para trabalhadores e sociedade. Exemplo disso é a matéria publicada no último domingo, pela Folha de São Paulo, que apresenta a primeira turma de administração de empresas da Unipalmares, entre eles o bancário do Bradesco, Luiz Henrique Ferreira, 32.
Sob a bandeira da Igualdade de Oportunidades, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro exige desde 1996 a inclusão deste tema na mesa de negociação com os bancos. Em 1999, sob coordenação do Dieese, foi criado pela então CNB (Confederação Nacional dos Bancários) a revista, Rostos dos Bancários – Mapa de Gênero e Raça do Setor Bancário Brasileiro, que traça o perfil da categoria e demonstra que existe forte discriminação de gênero e de raça dentro dos bancos – naquele período, os negros representavam 12,7% da categoria em São Paulo, por exemplo.
A Febraban admitiu o Mapa da Diversidade no setor bancário depois de ter percebido que poderia ter prejuízos financeiros e para a imagem dos bancos junto a sociedade com a ação movida pelo Ministério Público, que tomou por base a pesquisa Rosto dos Bancários, os dados do Ipea e da própria Febraban. Mesmo com o peso e a credibilidade das entidades envolvidas, a Fenaban resistiu em admitir o problema num primeiro momento.
“A nossa campanha ‘A categoria bancária rumo as relações mais igualitárias no mundo do trabalho’, que se desdobrou em três anos, foi muito importante. A inclusão da cláusula na convenção coletiva é um exemplo inédito em toda a América. É um motivo de orgulho para nós, mas também um grande desafio e vamos trabalhar muito mais para que este ideal se concretize em resultados práticos”, afirma Deise Recoardo, secretária de políticas sociais da Contraf-CUT.
O reitor da Universidade Unipalmares, José Vicente, reforça na matéria da Folha a dificuldade que teve em discutir o tema com a Federação dos Bancos. “Batemos na porta da Febraban para propor uma atuação conjunta há quatro anos atrás. Houve uma certa resistência, no princípio, porque os gestores não achavam que havia diferenciação entre os profissionais que contratavam”, diz.
Desafios
Deise afirma que a Contraf/CUT como entidade diretamente envolvida neste processo acredita que esta é uma vitória dos movimentos sociais e sindical. “O resultado da pesquisa do Mapa da Diversidade deverá ser apresentado e tratado como um patrimônio da sociedade brasileira e deverá ser apropriado por todos como ferramenta fundamental na formulação de políticas de inclusão social”, afirma.
Outro desafio é para que sejam criadas medidas alternativas, que realmente apontem que os negros que ocupam funções administrativas estão em altos cargos.
Os resultados desse estudo do Mapa, de 1999, já apontavam para as desigualdades presentes nos bancos: os trabalhadores da raça negra e as mulheres que estão ocupados no setor bancário apresentam-se em condições desfavoráveis em relação aos não-negros e aos homens.
Após 10 anos da pesquisa, Luiz Henrique Ferreira, formando da primeira turma da universidade cuja missão é inserir os negros no nível superior de educação mostra na mesma matéria da Folha que a discriminação ainda persiste: “quando o grupo circulava pelos prédios, as pessoas pensavam que éramos uma comitiva de algum país africano fazendo uma visita”.
“Mesmo com o reconhecimento da Febraban de que a discriminação é verdadeira, há muito por conquistar, já que a discriminação aos trabalhadores ainda existe em larga escala”, conclui Deise.
Histórico da luta bancária:
– 1998: Igualdade de Oportunidades torna-se eixo da Campanha Salarial dos Bancários, sendo desde então, um dos principais pontos de reivindicação junto aos bancos.
– 2000: Bancários lançam publicações e campanhas durante três anos, de 2000 a 2002, com participação nacional de todos os Sindicatos do País em parceria com o fundo canadense de Igualdade de Gênero. Foram debatidas a Igualdade de Oportunidades, Prevenção e Combate ao Assédio Sexual no Trabalho e as Relações Compartilhadas.
– Em 2000 é conquistada a Mesa Temática de Igualdade de Oportunidades e a visibilidade das ações do movimento sindical por meio de cartilhas.