Bancos surpreendem com bons resultados, mas futuro é incerto

Financial Times
Peter Thal Larsen

Lucros maiores. Melhores níveis de atividade. Ações com preços em disparada. Qualquer um que olhar com atenção para os resultados apresentados pelos maiores bancos do mundo no primeiro trimestre, merece perdão por ficar imaginando o que aconteceu com a crise financeira mundial. Para um setor que há apenas sete meses estava à beira de um colapso sistêmico, e foi salvo somente porque os governos mostraram disposição em comprometer centenas de bilhões de dólares para socorrê-los, o setor bancário parece surpreendentemente em boa forma.

As perspectivas econômicas ruins servem apenas para fazer o surto recente de otimismo parecer ainda mais incongruente. A queda da produção industrial e o aumento do desemprego significam que um número crescente de empresas e consumidores vai ter problemas para pagar suas dívidas. Como os bancos poderão evitar mais problemas? A verdade é que eles não têm como.

A recuperação recente dos preços das ações deve ser vista no contexto do colapso que houve antes. O índice Standard & Poor’s 500, do qual fazem parte os principais bancos americanos, quase dobrou em relação ao patamar mais baixo atingido no começo de março. Mas ele ainda acumula uma desvalorização de 30% no ano. O índice de ações bancárias FTSE Eurofirst 300 acumula valorização de 60% nos últimos dois meses, mas com isso ele apenas recuperou o terreno perdido desde o começo de janeiro.

Nos dias sombrios do inverno americano (primeiro trimestre), os investidores estavam posicionados para recapitalizações bancárias que poderiam ter acabado com os acionistas existentes e levado à nacionalização de grandes partes do setor. Esse cenário catastrófico mudou.

Agora, os investidores mais uma vez sentem-se capazes de fazer suposições sobre o futuro. “As avaliações estão implicando que os bancos poderão merecer o ‘cost of equity’ dos investidores no futuro”, diz um gerente de fundos. “Cost of equity” é a taxa de retorno mínimo que os bancos precisam oferecer aos investidores para compensar a espera pelos retornos que eles terão e os riscos oferecidos.

Há outros motivos para otimismo. Esses bancos que sobreviveram intactos às turbulências deverão se beneficiar de margens de juros melhores sobre os empréstimos e spreads maiores sobre a atividade comercial. Apesar do aumento dos calotes, a emissão de “junk bonds” – uma medida importante do apetite pelo risco dos investidores – se recuperou aos níveis vistos pela última vez em julho de 2008.

Na última semana, o Deutsche Bank anunciou receitas com vendas e negociações de títulos, excluindo o impacto das baixas contábeis, de ? 5 bilhões (US$ 6,5 bilhões) para o primeiro trimestre – um desempenho parecido com o dos primeiros três meses de 2007, quando a festa do crédito estava no auge. Os números, refletidos nos desempenhos de outros bancos, foram estimulados pelo aumento dos volumes de negócios em áreas como o câmbio e os derivativos de juros.

Mesmo assim, há muitos motivos para cautela. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os bancos da Europa e Estados Unidos reconheceram até agora menos da metade das perdas que tiveram com o aperto de crédito e terão este ano e no próximo uma perda coletiva de mais US$ 1,5 trilhão.

Os balanços dos bancos ainda estão muito grandes. Analistas do Morgan Stanley estimam que os 15 maiores bancos, que encolheram seus balanços num total combinado de US$ 3,6 trilhões desde o começo da crise, vão eliminar outros US$ 2 trilhões em ativos somente este ano. Além disso, o sistema financeiro continua dependente do apoio explícito ou implícito dos governos e bancos centrais, especialmente para conseguir os financiamentos que antes eram fornecidos por investidores institucionais.

Para evitar mais contração no crédito, os bancos terão de encontrar uma maneira sustentável de acessar financiamentos no mercado do atacado. “Se tivermos que nos financiar com os depósitos, voltaremos para o mundo dos televisores branco e preto”, observa um banqueiro veterano. Os bancos terão de enfrentar esses problemas dentro das restrições da regulamentação mais rígida. Há poucas dúvidas de que no futuro os bancos terão de manter mais capital e reservas de liquidez do que antes. Isso vai prejudicar retornos futuros.

Talvez a melhor ilustração do quanto o setor bancário caiu tenha ocorrido quando o Goldman Sachs, o banco que sobreviveu ao aperto de crédito em melhor forma que a maioria de seus concorrentes, anunciou uma rentabilidade patrimonial de apenas 14% para o primeiro trimestre. “Como o Goldman historicamente sempre foi um dos bancos de melhor desempenho, é difícil imaginar como o setor como um todo poderá apresentar um retorno patrimonial de dois dígitos este ano, a menos que assuma uma alavancagem excessiva”, diz Daniel Davies, analista do Credit Suisse. Os investidores precisarão de reservas heroicas de otimismo se quiserem sustentar o clima de animação recente.

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