Bancos sofrem pressão nos EUA para cortarem salários e bônus de executivos

Lauren Tara LaCapra e Dan Wilchins
Reuters

Os dias em que os bancos de Wall Street podiam conceder alegremente metade de suas receitas a seus “staffs”, a título de remuneração, sem nenhuma reclamação dos acionistas, chegaram ao fim. Em uma era de vacas magras e regulamentação apertada, os grandes fundos mútuos e de pensão estão ficando mais críticos, forçando os executivos dos bancos de investimentos a serem mais contidos nos salários e nas bonificações, além de considerarem mais cortes nas equipes. Para os investidores, os funcionários dos bancos estão abocanhando um pedaço grande demais de um bolo que está encolhendo, deixando para os acionistas uma fatia muito menor.

Até agora, grande parte da briga está ocorrendo a portas fechadas. Mas a discussão sobre a conveniência de os bancos de investimentos dedicarem cerca de 50% de suas receitas à remuneração de funcionários, começa a entrar na esfera pública por meio de batalhas por procuração e na medida em que mais acionistas de porte se manifestam sobre a questão.

“Às vezes, os executivos são recompensados com muita generosidade apenas por ficarem sentados em suas cadeiras, só por comparecerem ao trabalho todos os dias”, diz Aeisha Mastagni, diretora de investimentos do Sistema de Aposentadoria dos Professores Estaduais da Califórnia (CalSTRS, na sigla em inglês), que gerencia US$ 154 bilhões em ativos. “É preciso que haja uma conformidade com uma compensação que de fato seja baseada no desempenho.”

Os salários pagos por Wall Street não eram uma grande preocupação para os investidores quando os bancos de investimentos eram altamente lucrativos e os acionistas também colhiam os benefícios, afirmam Mastagni e outros investidores. Mas os grandes acionistas estão ficando mais estridentes porque os lucros não justificam mais uma remuneração nos níveis pré-crise financeira.

No ano passado, executivos do Morgan Stanley foram duramente criticados em algumas reuniões com investidores, segundo uma pessoa que participou dessas reuniões. Ela diz que em uma das reuniões representantes “furiosos” de fundos mútuos, que estavam entre os dez maiores investidores do Morgan, questionaram duramente os executivos do banco, incluindo seu diretor financeiro e o diretor de relações com os investidores, perguntando porque o banco não podia reduzir a remuneração para cerca de 30% das receitas.

Esley McDade, um porta-voz do Morgan Stanley – instituição que nos dois últimos anos gastou 51% de suas receitas na remuneração de executivos -, não quis fazer comentários inicialmente sobre o assunto. Mas, na semana passada, o presidente-executivo do banco, James Gorman, disse ao “Financial Times” que o banco pretende analisar a redução da remuneração e das bonificações em sua próxima rodada de corte de custos.

Gorman disse ao jornal que tradicionalmente Wall Street sempre manteve as relações de remuneração niveladas quando as receitas sobem, mas aumenta a relação quando os tempos são ruins, alegando que os bancos precisam reter o pessoal. “Esse é o caso clássico em Wall Street: ‘dá cara, eu ganho; coroa, você perde’. As administrações das instituições financeiras são hoje um pouco mais rígidas em relação a isso e os acionistas certamente também são”, disse ele ao “Financial Times”.

Jeff Harte, analista do banco de investimentos Sandler O’Neill, que frequentemente organiza encontros entre executivos e investidores, diz que a remuneração tem sido “um tema das reuniões administrativas”. Segundo Mastagni, alguns grandes bancos de Wall Street, como o Goldman Sachs e o J.P. Morgan Chase, começaram a dirigir-se aos acionistas para explicar a lógica por trás das decisões de remuneração. Para ela, a iniciativa é boa, mas o CalSTRS está querendo que os bancos atuem de uma maneira mais decisiva em relação aos salários.

“Não sei se conseguiríamos aceitar o fato de que 50% da receita deve ir para a base de funcionários”, diz Mastagni. “É muito difícil para nós entendermos isso.”

Com os grandes acionistas falando mais grosso, o equilíbrio do poder pode estar mudando, dos funcionários dos bancos que usam o capital para os gestores de ativos que o fornecem. Quanto mais os bancos sofrerem com lucros fracos, mais difícil será ignorar os acionistas nessa questão.

Os executivos dos bancos vêm adiando o máximo possível grandes mudanças no âmbito dos funcionários ou da remuneração, na esperança da retomada do crescimento econômico e um aumento nos volumes de negócios.

Os bancos temem que se cortarem a remuneração poderão perder grandes talentos para os fundos de hedge e as firmas de “private equity”. Se eles demitirem funcionários, poderá sair mais caro contratar novamente quando os mercados melhorarem. Além disso, demissões também podem na verdade aumentar os custos com remuneração no curto prazo, por causa dos custos com dispensa.

Mas investidores alegam que os problemas que estão mantendo os lucros em baixa podem ser mais permanentes do que os bancos admitem. Além da economia fraca e dos baixos volumes de negócios, novas regras e maiores exigências de capital vêm afetando os retornos nos negócios com títulos de renda fixa e ações.

O problema com esses negócios é um dos maiores fatores por trás dos lucros canhestros dos bancos. Foi por isso que o Goldman Sachs lucrou apenas US$ 4,4 bilhões no ano passado, uma queda de 60% em relação ao exercício de 2007.

“As pessoas estão começando a pensar que os bancos de investimentos não são administrados em função dos investidores – eles são administrados para os banqueiros”, diz Ralph Cole, um gerente de portfólio da Ferguson Wellman Capital Management, que gerencia US$ 3,2 bilhões em ativos.

A remuneração é a maior despesa para a maioria dos bancos, de modo que reduzir a remuneração é uma maneira lógica de aumentar os retornos. Mas para que o Goldman Sachs tivesse conseguido uma rentabilidade sobre o patrimônio de 15% no ano passado, ele teria que ter direcionado apenas 15% de suas receitas para o pagamento de funcionários – bem menos que os 42% que de fato pagou.

Executivos de Wall Street sustentam que cortar a remuneração para até mesmo 30% da receita seria a causa de uma fuga maciça de talentos e evaporaria os lucros, prejudicando ainda mais os acionistas. Mas muitos investidores têm pouca paciência com esses argumentos.

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