Bancos públicos voltam a acelerar oferta de crédito em setembro

Valor Econômico
Felipe Marques, Eduardo Campos e Alex Ribeiro

Os bancos públicos voltaram a acelerar o seu ritmo de crescimento de crédito em setembro, puxados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O estoque de empréstimos das instituições financeiras controladas pelo governo avançou 1,6% em setembro ante agosto, somando R$ 1,54 trilhão. No mês anterior, em igual comparação, o avanço havia sido de 1,14%. Já os bancos privados cresceram 0,9% em setembro, totalizando R$ 1,36 trilhão em estoque.

O desempenho dos bancos federais em setembro interrompeu a tendência de desaceleração que havia se consolidado em 2014. Os dados de setembro mostram que as instituições financeiras do governo representam 53,2% do crédito total do mercado, a maior participação desde dezembro de 1998.

Foi o BNDES – em especial as linhas voltadas para investimentos do banco de fomento – que inflou o crescimento dos bancos públicos. O estoque de operações da instituição cresceu 2,3% em setembro, ante agosto, somando R$ 558,9 bilhões. No mês anterior, o avanço havia sido de 1,1%. Sem o BNDES, os demais bancos públicos cresceram 1,2%.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Túlio Maciel, a forte expansão da carteira do BNDES teve influência da taxa de câmbio, que sofreu forte desvalorização em setembro. Não fosse isso, o crescimento da carteira do banco teria sido de 1,4%, afirmou. Procurado, o BNDES afirmou que cerca de 13,5% de sua carteira total de crédito é impactada pela variação cambial.

“O desempenho do crédito direcionado à pessoa jurídica foi uma surpresa positiva”, afirma Mariana Oliveira, economista da Tendências. A expectativa da consultoria era que o saldo de empréstimos direcionados para empresas – que incluem o BNDES, crédito imobiliário e rural – tivesse evoluído a uma taxa real de 6,7% em 12 meses. O avanço registrado em setembro, nessa base, foi de 9,4%.

Para Mariana, porém, o desempenho do BNDES não necessariamente sinaliza uma retomada da demanda das empresas por investimento. “Os indicadores de confiança têm caído.”
Fora do universo dos recursos do BNDES, contudo, o desempenho do crédito segue fraco. O estoque de empréstimos com recursos livres – onde estão contabilizadas linhas como crédito consignado, veículos e capital de giro – encolheu 1,9% em termos reais em setembro, na comparação com mesmo mês de 2013. É a quinta contração consecutiva, segundo relatório do Goldman Sachs. Considerando só as linhas de recursos livres para empresas, o recuo foi ainda maior, descontada a inflação: 2,2%.

Não à toa, o BC lançou medida, em outubro, tentando estimular a concessão de linhas de capital de giro. O estoque da modalidade desacelerou novamente em setembro, e registra uma taxa nominal de expansão de 3,4% ao ano.

“Mesmo com o desempenho do BNDES e as medidas anunciadas pelo BC, não mudamos nossas projeções para o ano”, afirma Wermeson França, economista da LCA Consultores. A consultoria espera um avanço entre 10% a 11% do estoque de crédito em 2014, uma desaceleração, portanto, ante os 11,7% que o estoque estava crescendo anualmente até setembro. A pressão do aumento da taxa básica de juros anunciado na quarta-feira ajuda nessa desaceleração, afirma.

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