Há alguns anos, o neoliberalismo estava em alta e pregava o Estado mínimo, com a privatização de todas as empresas públicas, inclusive os bancos. Aí veio a crise econômica internacional que enterrou as bases desse sistema e, agora, são justamente os bancos públicos que se transformaram em importantes instrumentos de política econômica para os países em desenvolvimento.
No Brasil, China e Chile, por exemplo, as instituições financeiras estatais ampliaram a participação de mercado e garantiram bases mínimas de expansão do crédito, conforme experiência relatada no seminário sobre bancos públicos, realizado pelo Valor Econômico na segunda, 22.
No Brasil
A atuação dos bancos públicos no Brasil durante a crise financeira é exemplo para as principais economias do mundo e tem sido aplaudida no exterior, segundo o vice-presidente de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com Investidores do Banco do Brasil, Ivan de Souza Monteiro. “Os bancos públicos têm cerca de 40% dos ativos do sistema financeiro nacional, mas esse índice sobe muito se estivermos falando em empréstimos, por exemplo”, disse Ivan.
Para o vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal, Márcio Percival Alves Pinto, a crise atual mostrou a necessidade de os bancos públicos serem pró-ativos. “É interessante olhar as teorias econômicas e ver como elas são superadas. O neoliberalismo pregava a eficiência econômica, o equilíbrio de mercado e a autorregulação. Nesse sistema, os bancos públicos nem deveriam existir. Com a crise, os estados tiveram de rever o seu papel”, ressaltou.
O professor de Sociologia Política da FGV, Kurt von Mettenheim, destacou que no Brasil quem empresta dinheiro é banco público. “O papel social dessas instituições é muito marcante”, afirmou.
No Nordeste
Além do BB e da Caixa, os bancos públicos regionais têm sido de extrema importância para o desenvolvimento dos estados mais pobres do país. O Banco do Nordeste do Brasil (BNB), por exemplo, é a maior instituição financeira que opera na região e oferece mais crédito que qualquer outro banco no Nordeste.
“Estamos presentes em quase 2 mil municípios e trabalhamos com linhas de empréstimos conforme o perfil da nossa região, o que tem uma enorme implicação social. Somos o maior operador de microcrédito do Brasil e o segundo maior banco em termos de crédito rural, atrás somente do BB”, explicou o presidente do BNB, Roberto Smith. Segundo ele, o BNB deve emprestar este ano entre R$ 16 bilhões e R$ 20 bilhões, sendo R$ 1,4 bi para agricultura familiar, R$ 1,35 bi para o microcrédito e R$ 1,5 bi para as pequenas e médias empresas.
China e Chile
Durante o seminário, representantes de bancos públicos da China e do Chile mostraram um pouco da importância das instituições financeiras estatais em seus países para enfrentar a crise.
No Chile, o BancoEstado baixou os juros e aumentou o crédito. “Antes mesmo de o Banco Central reduzir os juros básicos, o BancoEstado diminuiu suas taxas aos patamares mais baixos do sistema financeiro chileno, enquanto os bancos privados frearam os empréstimos. Os banqueiros reclamaram de nós, mas isso teve um efeito psicológico no país muito grande. Tivemos até que abrir as agências aos sábados para atender à população. Nossa atuação foi anticíclica e estamos conseguindo ser pró-ativos nessa crise”, explicou o presidente do BancoEstado, José Luis Mardones. Segundo ele, a instituição tem hoje 8 milhões de clientes, o que representa a metade da população do Chile. “Nosso objetivo não é o lucro, mas sim o desenvolvimento econômico e social do nosso país”, afirmou.
Na China, o banco de desenvolvimento investiu em projetos que outros bancos não achavam interessantes, principalmente nas áreas de infraestrutura, tecnologia e na indústria. “Além de financiar grandes empreendimentos, o banco já fomentou a construção de 5,5 milhões de casas populares e concedeu 1 milhão de empréstimos estudantis. Nosso objetivo não é ter lucro”, explicou Zhu Qing, chefe da missão do China Development Bank no Brasil.